Mosteiro de S. Dinis em Odivelas
No seguimento do post anterior sobre Odivelas, aqui ficam mais alguns registos da cidade onde resido desde 1982. Odivelas só passou a cidade em 10 de agosto de 1990, até essa data, era apenas vila embora fosse considerada a maior freguesia da Europa. No ano de 1991 foi desmembrada em cinco novas freguesias; Odivelas, Famões Pontinha, Ramada, Caneças e quando no ano de 1998 passou a concelho, passou a agregar as freguesias de Olival Basto e Póvoa de Santo Adrião. Não se pense que redistribuição do mapa autárquico é uma coisa recente, criada pelo ministro Relvas. Odivelas até ao ano de 1852, fez parte do termo de Lisboa, depois passou para o concelho de Belém em 1885, com a extinção deste concelho, Odivelas passou para o concelho dos Olivais, ao qual pertenceu apenas um ano, porque em 1886 após a criação do novo concelho de Loures, Odivelas foi integrada neste novo concelho, onde permaneceu até ao ano de 1998, quando foi elevada a concelho. Vejamos sua evolução demográfica em termos de freguesia :
1862 - 1864 - 1890 - 1900 - 1911 - 1920 - 1930 - 1991 - 2001 - 2011
1362 - 1562 - 1577 - 1924 - 2486 - 2647 - 3101 - 52823 53448 - 59559
Não sendo uma cidade com grandes referências históricas, pese embora aqui tenha túmulo de D. Dinis, diz-se que também terá aqui morrido a rainha D. Filipa de Lencastre vítima de peste. De salientar que esta localidade era muito frequentada pela nobreza, por causa das quintas que aqui possuíam. Outra das referências são as “Meninas de Odivelas”,às quais estão associadas duas versões. A primeira resulta do tempo em que o mosteiro, era habitado pelas freiras da Madre Paula. Existem canções alusivas a essa situação, cantadas em todos os autocarros de excursão, como esta:
As meninas de Odivelas,
São umas pu… tiro, liro, liro
São umas pu… tiro, liro, liro
São umas puuras, donzelas
Os papás dessas meninas
Deram o cu… tiro, liro, liro
Deram o cu… tiro, liro, liro
Deram o cuoração, por elas.
Mas as actuais meninas de Odivelas, são as actuais alunas do Instituto de Odivelas, criado em 1900 pelo príncipe D. Afonso, irmão do rei D. Carlos, agora sob a jurisdição do Estado-maior do Exército. O Instituto de Odivelas tem por missão fomentar educação moral e cívica que vise desenvolver nas alunas o sentido do dever e da honra e os atributos de carácter, em especial a integridade moral, espírito de disciplina e noção de responsabilidade. Funcionando em regime de internato, embora actualmente também de externato, o instituto ministrava e ministra ainda o ensino, desde o 2.º ciclo até ao 12.º ano servindo sobretudo para acolher as filhas dos militares que, no cumprimento das suas missões, têm de fazer uma vida itinerante.
O dia 26 de Novembro de 1967 ficou na história de Odivelas, mas pelas piores razões. Foi o dia das grandes cheias que assolaram a região de Lisboa e em Odivelas terão morrido centenas de pessoas, que viviam junto à zona da ribeira.
Actualmente essa zona está requalificada em zona de lazer, a juntar a outras que foram construídas pela cidade. Aliás, foi em matéria de ordenamento e jardinagem que Odivelas mais progrediu, para além da chegada da linha amarela do metropolitano, melhorando substancialmente as entradas e saídas de Odivelas em hora de ponta, porque a proximidade de Lisboa, torna-a numa cidade dormitório.
Em termos de monumentos Odivelas não tem muito que mostrar. Além do Mosteiro, tem o memorial diz-se que construído no XIV, para comemorar a chegada dos restos mortais do rei D. Dinis, e o padrão ao Senhor Roubado.
Ao Senhor Roubado estão associadas várias lendas, uma delas está contada no próprio local, em azulejos pintados. O padrão foi construído no século XVII, numa altura de grande fervor religioso. Vivia-se em pleno período da inquisição, do qual foi inquisidor mor, D. José de Bragança “menino de Palhavã” precisamente, um dos filhos da Madre Paula e do rei D. João V que, honra lhe seja feita, protegeu todos os seus filhos bastardos.
Os seus filhos bastardos ficaram conhecidos por “meninos de Palhavã” porque foram criados no palácio de Palhavã, onde actualmente funciona a Praça de Espanha. Mas regressando à lenda do Senhor Roubado, um dia constatou-se que a igreja tinha sido assaltada, donde tinham sido roubados entre outras coisas, os vasos sagrados onde se guardavam as hóstias.
Dado o alarme o povo juntou-se no adro da igreja, clamando justiça contra tal blasfémia. De entre os presentes sobressaía um homem que, gritando em alta voz dizia que deveriam cortar as mãos ao autor, de tal sacrilégio. Passado algum tempo, foi encontrada uma das peças furtadas na igreja, que estava à venda num antiquário de Lisboa. Ora rápido se chegou ao seu autor que coisa inaudita, fora precisamente aquele que naquele dia, mais clamava por justiça.
Depois de preso confessou então que escondera o sagrado cálice sagrado num silvado, onde mais tarde se ergueu este padrão. Ao autor do furto foi aplicada a pena que, ele próprio tinha decretado.