Outeiro Secano em Lisboa

Março 21 2013

Hoje é o dia mundial da poesia e embora se diga que, de poeta e louco todos temos um pouco, não vos apresento nenhum poema meu, porque essa fase vivi-a na adolescência, sendo “o poeta” uma das minhas alcunhas, quando andei no secundário. Este poema foi escrito por António Lopes Ribeiro, uma figura multifacetada, curiosamente mais ligada ao cinema do que à literatura, considerado o realizador do regime, muitos de nós se lembra ainda de António Lopes Ribeiro, a apresentar na RTP o programa "O museu do cinema".

Este poema é um dos mais conhecidos da nossa literatura, graças à sua divulgação pelo actor João Vilaret, um dos maiores recitadores de poesia de sempre. A Procissão assim se chama este poema, exerce em mim um efeito nostálgico, fazendo-me lembrar sempre a festa da nossa senhora da Azinheira, razão pela qual  frequentemente o leio ou oiço, dito por João Vilaret, de quem tenho vários discos a dizer poesia.

 

 

Tocam os sinos da torre da igreja,

 Há rosmaninho e alecrim pelo chão.

 Na nossa aldeia que Deus a proteja!

 Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,

 De fardas novas, vem o solidó.

 Quando o regente lhe acena com o braço,

 Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!

 Que se houver fogo vai tudo num fole.

 Trazem ao ombro brilhantes machados,

 E os capacetes rebrilham ao sol.

 Tocam os sinos na torre da igreja,

 Há rosmaninho e alecrim pelo chão.

Na nossa aldeia que Deus a proteja!

 Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!

 Muito solenes nas opas vermelhas!

 Ninguém supôs que nesta aldeia havia

 Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!

 Com que cuidado os vestiram em casa!

 Um deles leva a coroa de espinhos.

 E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,

 Há rosmaninho e alecrim pelo chão.

 Na nossa aldeia que Deus a proteja!

 Vai passando a procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,

 As colchas ricas, formando troféu.

 E os lindos rostos, por trás das mantilhas,

 Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.

 E o povo ajoelha ao passar o andor.

 Não há na aldeia nada mais bonito

Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,

 Há rosmaninho e alecrim pelo chão.

 Na nossa aldeia que Deus a proteja!

 Já passou a procissão.

 

publicado por Nuno Santos às 20:24

Bem enquadrado o poema do Lopes Ribeiro; realmente encaixa bem nas festividades de Outeiro Seco. É compreensível que te leve o pensamento para a aldeia ao ouvir a sua declamação; não sejas tu porta de longa data.
Ab, Artur Moura
Artur Moura a 21 de Março de 2013 às 22:43

Bom dia!
Também eu gosto muito de ouvir este poema declamado pelo nosso saudoso João Vilaret! Aqui há uns tempos, num encontro de Universidades Séniores efectuado na Quinta do Príncipe em Chaves, um grupo de Ansião (Pombal), encenou uma procissão, ao mesmo tempo que era declamado o poema, e ficou muito bonita.Foi um momemto espetacular. Já que vamos entrar na Semana Santa, uma Boa Páscoa para todos.
Albertina a 22 de Março de 2013 às 09:25

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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