Hoje é o dia mundial da poesia e embora se diga que, de poeta e louco todos temos um pouco, não vos apresento nenhum poema meu, porque essa fase vivi-a na adolescência, sendo “o poeta” uma das minhas alcunhas, quando andei no secundário. Este poema foi escrito por António Lopes Ribeiro, uma figura multifacetada, curiosamente mais ligada ao cinema do que à literatura, considerado o realizador do regime, muitos de nós se lembra ainda de António Lopes Ribeiro, a apresentar na RTP o programa "O museu do cinema".
Este poema é um dos mais conhecidos da nossa literatura, graças à sua divulgação pelo actor João Vilaret, um dos maiores recitadores de poesia de sempre. A Procissão assim se chama este poema, exerce em mim um efeito nostálgico, fazendo-me lembrar sempre a festa da nossa senhora da Azinheira, razão pela qual frequentemente o leio ou oiço, dito por João Vilaret, de quem tenho vários discos a dizer poesia.
Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.
Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!
Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!
Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.