Outeiro Secano em Lisboa

Janeiro 29 2017

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Na semana em que foram conhecidos os filmes candidatos aos Óscares, fui ver o filme o “Silêncio”, de Martin Scorsese, estranhando que, não figurasse entre os principais nomeados, pois conta apenas com uma nomeação, na categoria de Melhor Argumento Adaptado.

Eu penso que, o facto do filme não ter mais nomeações, não deixa de ser uma forma de censura, à semelhança do que tem acontecido com outros filmes, cujos argumentos versam a religião católica, especialmente quando esta é questionada.

Compreendo que a maioria das pessoas, quando vão ao cinema, fazem-no com o intuito de se divertirem, preferindo filmes mais ligeiros, como o La La Land, um musical que conta com catorze nomeações. Mas como o cinema ´r considerado a sétima arte, este deve ser exposto a todos os géneros, razão pela qual os filmes são classificados, em comédias, dramas, romances, aventuras e outros géneros, cabendo ao público fazer a sua escolha.

Este filme de Scorsese vem na senda da “Última Tentação de Cristo” realizado em 1988, o qual tanta polémica gerou. Em ambos os filmes, Scorcese, mostra-nos a dimensão do sacrifício físico, através da tortura, mas também o sofrimento espiritual, em nome da fé e das convicções religiosas.

O argumento é uma adaptação de um livro com o mesmo nome, de um escritor japonês chamado Shusaku Endo, sobre perseguição ocorrida durante o século XVII, aos padres jesuítas sobretudo portugueses e espanhóis, assim como aos japoneses convertidos.

Os perseguidos ficaram conhecidos no Ocidente, como os Mártires do Japão, mas o filme baseia-se sobretudo, no drama vivido por dois padres jesuítas portugueses, que, face ao sofrimento infligido, aliado ao silêncio de Deus, perante as suas súplicas, tornaram-se apóstatas, isto é, renunciaram à sua fé.

O filme gera algumas perplexidades e reflexões, nomeadamente, as motivações dos Mártires do Japão na implementação de uma religião, onde já havia outra religião secular, a religião Budista.

Costuma-se dizer que a fé move montanhas e apesar da terrível repressão demonstrada no filme, o facto é que continuou a haver resistentes e embora numa proporção muito reduzida, continua a haver cristãos no Japão.

Só que, face ao que se vê pelo mundo, o silêncio tem continuado, razão pela qual em matéria de fé, existem cada vez mais agnósticos, e se há muitos anos atrás, quando aos domingos o sino chamava os fiéis, as igrejas se enchiam para ouvirem a sua palavra, mas dita pelo celebrante, esse chamamento cai cada vez mais no silêncio.

 

 

publicado por Nuno Santos às 10:36

Janeiro 26 2017

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Embora não fosse um passageiro regular do comboio, este fez sempre parte do meu quotidiano, ainda que em casa dos meus pais houvesse um relógio despertador, marca Reguladora, era o apito do sinal da partida, quem todos os dias às sete da manhã, nos indicava a hora do levantar.

A minha primeira vez como passageiro do comboio, só aconteceria no dia 30 de setembro de 1973 quando pela primeira vez saí de casa, para vir trabalhar para Lisboa.

Passaram-se já quarenta e quatro anos, desde essa minha primeira viagem, embora mantenha muito presente esse momento, porque correspondeu a um novo ciclo da minha vida.

A minha vinda para Lisboa satisfazia uma das minhas expectativas de vida, porque era em Lisboa, onde tudo acontecia, em contraste com a pacatez e o marasmo da aldeia e da cidade de Chaves, no início da década de setenta.

Desse dia recordo-me também, da minha primeira despedida da família. Nessa época sair de Chaves para vir para Lisboa, era como sair de Chaves para França, porquanto, ia-se à terra uma vez no ano. Porém esse ato da despedida teve algo de insólito protagonizado pelo meu pai, de quem tinha uma imagem que, em matéria de sentimentos, era algo frio e distante, quando afinal era bem mais sentimental do que eu imaginava.

Assim e para evitar o constrangimento da despedida, o meu pai saiu de casa bem cedo, para não demonstrar  que, por trás daquele corpo enorme de quase cem quilos de peso, havia um coração mole, o qual não aguentava uma despedida anunciada.

Mais tarde constatei essa fraqueza, vendo-o chorar bastas vezes, de felicidade quando chegávamos, de saudade quando partíamos, das primeiras gracinhas do neto, ou com algumas cenas de episódios mais comoventes na televisão.

Antes da minha vinda para Lisboa, poucas vezes tinha saído do vale de Chaves. Tinha ido umas vezes ao Vidago, às festas de Santa Eugénia, outra ao Complexo Agro Alimentar do Cachão, próximo de Mirandela, numa visita de estudo e algumas vezes aos Pisões com o meu tio Silvestre, onde a extensão da albufeira do Alto Rabagão, projetava-me a dimensão do mar.

Embora pouco viajado durante a adolescência, eu fora sempre um grande leitor. Primeiro na Biblioteca Itinerante da Fundação Kalouste Gulbenkian, depois na Biblioteca da Escola Júlio Martins, graças à empatia criada como o seu responsável, o Sr. Silvino. A leitura ajudou-me a abrir horizontes, assim como a criar uma enorme curiosidade e a ser um bom observador.

Donde, apesar de a viagem ter sido longa, de quase doze horas, a mim não me rendeu, atento que vinha a tudo o que via, pois tudo era novidade para mim. Recordo-me que, quando o comboio descia as Alvações do Tanha, já bem próximo da Régua, ter ficado deslumbrado com os vinhedos, assim como pouco depois, com a paisagem à beira do Douro, desde a Régua até ao Porto.

A maior surpresa da viagem ocorreu em Espinho, quando ali vi o mar, pela primeira vez. Afinal a sua dimensão, era bem diferente da albufeira da barragem dos Pisões. O resto da viagem foi um rememorar das localidades por onde o comboio passava, as quais eu já conhecia de cor e salteado. Conhecia-as, não porque as tivesse visitado, mas dos manuais escolares da quarta classe, de cujo programa, fazia parte a aprendizagem, não só de todas as linhas férreas, mas também dos rios e serras de Portugal.

Durante a viagem, os passageiros do comboio não vinham todos à gargalhada, como no Comboio Descendente do Zeca. Vinham cansados da longa viagem e a maioria vinha em silêncio, outros dormitavam. Os casais com a cabeça encostada nos ombros do parceiro, outros de cabeça encostada à janela, outros ainda, com a cabeça entre as mãos sobre os joelhos.

Ora, foi por isso que ninguém se apercebeu que, um saco de feijões colocado no espaço destinado às bagagens, com o balanço do comboio caiu sobre o pescoço de um passageiro. Com o impacto do peso do saco, a vítima bateu com o nariz num joelho, soltando-se logo o sangue.

Foi um Deus nos acuda na carruagem, a vítima que não era o proprietário da bagagem caída e queria tirar desforço do dono do saco agressor. Valeu a boa intermediação, dos outros passageiros evitando-se assim uma cena violenta da vítima com o pretenso agressor, o qual se achava um presumível inocente.

Os milhares de luzes que se viam das janelas, indiciavam-me a proximidade de Lisboa, onde na estação de Santa Apolónia nos aguardava a mim e ao Manuel Benedito, que fora o meu acompanhante e guia nesta viagem, o Joaquim Ferrador, que fora quem me arranjara o emprego e estadia em Lisboa, por quem tenho uma enorme dívida de gratidão.

Depois dessa minha primeira viagem, viajei outras vezes de comboio, mas nem sempre de Lisboa a Chaves. Nessas viagens vivi outros episódios, alguns também pitorescos e bizarros, os quais contarei noutra ocasião.

Esta minha viagem além de nostálgica e é irrepetível, porque os nossos governantes não apostaram na reconversão do caminho-de-ferro, donde já não é possível viajar de comboio, entre Lisboa/Chaves.

Claro que em todas as opções há sempre e ganhos e perdas, e quanto à supressão da linha do Corgo e de outros ramais, embora  se perdesse em segurança e lazer, ganhou-se tempo, pois a viagem que, antes demorava doze horas, de carro faz-se agora em três horas e meia.

publicado por Nuno Santos às 21:53

Janeiro 18 2017

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Não é só anatomicamente que o coração se divide em dois ou seja em dois ventrículos, o ventrículo direito e ventrículo esquerdo. Também emocionalmente o coração pode estar dividido, tal como o canta Marco Paulo “ Eu tenho dois amores”. Aliás, o Prof. Júlio Machado Vaz e Inês Maria Menezes, no programa “O Amor é” emitido diariamente nas manhãs da Antena 1, já por várias vezes desenvolveram o tema das duas paixões.

Bem isto a propósito do meu estado de alma, por causa dos recentes resultados do Chaves-Sporting, as minhas duas paixões desportivas. Eu escrevi antes do jogo, de que gostaria que o Sporting vencesse o jogo para o campeonato, e o Chaves ganhasse o jogo da Taça, a fim de poder regressar ao Jamor, repetindo assim a presença do ano de 2010, dando uma nova alegria a todos os transmontanos, tanto aos residentes na região, como aos que estão espalhados pela diáspora.

 Afinal o meu desejo só se concretizou em parte. Para o campeonato houve um empate, mas com sabor a derrota para os sportinguistas. Na Taça o meu desejo cumpriu-se, tendo o Desportivo ganho e bem, pese embora o golo da vitória só aparecesse ao minuto 87, por isso mesmo dramático para os sportinguistas,  mas saboroso para os flavienses.

Bem sei que falta ainda a meia-final, hoje saber-se-á com quem, se com o Sporting da Covilhã ou com o Vitória de Guimarães. Mas o facto de ser uma eliminatória a duas mãos, logo, haverá mais vantagens de vencer a eliminatória.

Embora flaviense  nunca escondi a minha simpatia pelo Sporting, e tenho a certeza que os  da minha geração, não haverá ninguém que seja exclusivamente, adepto do Chaves. Isso porque no nosso  tempo de meninos e moços, o Desportivo de Chaves disputava apenas os campeonatos regionais, e no máximo, a terceira divisão, com clubes como o Bragança, Fafe, Vianense, ou São Pedro da Cova.  

Ao contrário de outros países, onde as pessoas assumem exclusivamente a sua paixão, pelo clube da sua terra ou da sua região, em Portugal os adeptos assumem a sua simpatia pelos clubes que ganham, ainda que haja raras exceções, como é o caso de Guimarães. Donde, a maioria esmagadora dos flavienses que, ontem glorificaram e bem o Desportivo, tenho a certeza de que teriam sido bem mais contidos, caso o adversário do Chaves tivesse sido outro.

Ora atendendo ao bom momento que, o Chaves está a passar, e seguindo o exemplo do Sporting de Braga, o Desportivo deveria intensificar a visita dos seus jogadores às escolas, fazendo junto dos jovens essa adesão ao Desportivo, evitando deste modo que se tornem adeptos de outros clubes, adotando como clube do coração, o clube da sua terra.

Eu como já não estou em idade de mudar, continuarei fiel a ambos, fazendo seletivamente as minhas opções, embora quanto à Taça de Portugal serei um dos maiores torcedores.

publicado por Nuno Santos às 15:27

Janeiro 17 2017

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Ainda não se apagaram os clamores do último Chaves-Sporting, disputado no Municipal do passado sábado, e eis que por sortilégio do sorteio, hoje volta haver um novo jogo no Municipal, desta vez para a Taça de Portugal.

O resultado do jogo de sábado, um empate de 2-2, teve um efeito nefasto nas hostes sportinguistas, a meu ver nem tanto pelo resultado obtido face ao desempenho das duas equipas, o qual se me afigura justo, mas sobretudo porque o Sporting, não aproveitou a perda de pontos do Benfica em casa com o Boavista.

Ora, segundo se escreveu nos jornais, no balneário do Sporting terá havido grande alarido, protagonizado pelo seu presidente Bruno de Carvalho.

O facto de o Sporting estar em período pré eleitoral, não será estranho a todo este ambiente escaldante, mas face à forma de gestão imprimida pelo nosso presidente, parece-me que não poderá imputar as culpas dos fracos resultados para terceiros nomeadamente para os jogadores, já que a culpa será de quem os adquiriu e de quem os pões a jogar.

Quem não tem culpa é o Desportivo de Chaves que fez o que tem a fazer tal como já tinha acontecido quando recebeu o Benfica. A diferença é que no jogo do Benfica a bola bateu no poste ou antes nos dois postes e contra o Sporting entrou dentro da baliza porque é lá que elas contam.

Tal como disse num post anterior, eu como adepto dos dois clubes, no jogo da liga torcia pelo Sporting para poder ainda lutar pelo título, mas no jogo de hoje para a Taça, eu torço pelo Chaves porque quero os Valentes Transmontanos no Jamor.

publicado por Nuno Santos às 18:12

Janeiro 15 2017

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Outeiro Seco, tal como a maioria das localidades do interior do país, vai ficando cada vez mais desertificada, sendo várias as razões dessa desertificação. Uma delas é o desaparecimento das gerações mais velhas, seguindo o ciclo da vida, pese embora o seu tempo de vida, tenha vindo sucessivamente a aumentar.

A segunda causa é o abandono dos seus naturais para outras paragens, em busca de melhor qualidade de vida. Alguns para os grandes centros, outros porém para o estrangeiro, donde não mais regressam.

A terceira causa e não menos despiciente, é a fraca natalidade existente, pois se os naturais em idade de procriação saem, logo não pode haver nascimentos. Ao lembrar-me que no ano do meu nascimento, 1955, nascemos na aldeia onze rapazes e onze raparigas, agora nem durante uma década se atinge este número de nascimentos.

Porém, o objectivo do post de hoje, tem por fim informar os outeirosecanos espalhados pela diáspora, de que só neste ano de 2017, a aldeia já perdeu três conterrâneos, todos na mesma semana.

Depois do falecimento do Sr. Alexandre Batista, (Moucho) seguiu-se o Manuel Melo (filho da Minda Melo) e hoje acaba de falecer o Sr. Eustáquio Dias.

Os dois primeiros não eram propriamente velhos, porém, ambos estavam em sofrimento, vítimas de doenças prolongadas.

 O Sr. Eustáquio era um nonagenário, e uma figura carismática da aldeia. Galhofeiro e bem-disposto esteve ligado a vários episódios que fazem parte da memória coletiva da aldeia, desde a ocupação da Abobeleira, à fundação do Gaiteiro de Outeiro Seco na década de trinta.

Desconheço ainda o dia e a hora do funeral do Sr. Eustáquio, contudo aqui ficam os meus sentidos pêsames, às famílias dos três falecidos.  

publicado por Nuno Santos às 16:27

Janeiro 13 2017

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A sexta-feira treze é considerada na religião judaico-cristão, como um dia de azar, porque se segue ao dia doze, um número associado às doze tribos de Israel, aos doze apóstolos e aos doze meses do ano. Além de que a sexta-feira, foi o dia em que, Jesus Cristo foi crucificado no calvário.

O município de Montalegre tem aproveitado muito bem esta superstição, proporcionando nos dias de sexta-feira treze, um mega evento aos visitantes, baseado neste misticismo, mas sobretudo na dinâmica do Padre Fontes, iniciado primeiro com o Congresso de Medicina Popular em Vilar de Perdizes.

Depois do êxito do Congresso, os responsáveis do município, vendo aqui uma janela de oportunidade, para promover os seus produtos regionais e dar a conhecer melhor o seu concelho, criou este evento que, todos os anos tem vindo em crescendo, tornando-se num acontecimento cultural que, senão já de âmbito nacional, é o pelo menos a nível regional. 

Como vem sendo habitual, hoje serão milhares de pessoas que rumarão a Montalegre, alguns para degustar os produtos gastronómicos da região, outros para se divertirem apenas com as fantasias, tornando as ruas da vila bem mais animadas, do que nos restantes dias do ano.

Neste ano de 2017 pese embora haja muitos feriados, que, podem proporcionar várias pontes, só haverá uma outra sexta-feira treze, a qual ocorrerá no mês de outubro.

Confesso que nunca fui a Montalegre neste dia, mas tinha programado fazê-lo neste ano, por causa de uma coincidência feliz. É que amanhã sábado dia 14, o Sporting vai jogar em Chaves para a Liga, voltando a jogar na terça-feira para a Taça de Portugal. Ora com dois jogos num espaço tão curto de tempo, estavam assim mais que reunidas as razões para irmos a Chaves ao futebol e fazer o desvio a Montalegre.

Só que a sexta-feira treze foi mesmo para mim um dia de azar, porquanto, estou desde quarta-feira, com uma arreliadora gripe, a qual me impossibilita de sair de casa.

Assim não só não poderei ir a Montalegre, como terei de ver os dois jogos em casa, pela televisão. Claro que os meus amigos benfiquistas, já estarão a cogitar.

 – Então como é que é agora, és do Chaves ou do Sporting?

Ora, como sócio dos dois clubes, mas atendendo à situação periclitante do Sporting no campeonato, com um atraso de oito pontos do Benfica, e como o Chaves não tem a manutenção em perigo, eu digo com toda a franqueza que, torço pela vitória do Sporting. Já quanto ao jogo da Taça de Portugal, só para ter o prazer de ver de novo o Chaves no Jamor, eu fico a torcer pela vitória do Chaves.

 

publicado por Nuno Santos às 12:21

Janeiro 11 2017

Já por mais de uma vez escrevi neste blog, das qualidades multifacetadas da minha sobrinha, Laura Moura, embora conhecida no seio da família, como a Filipa. Aliás, foi ela a autora do Conto de Natal aqui publicado. Com várias exposições em espaços públicos da Câmara de Almada, sobretudo na área da fotografia, em minha opinião, é na literatura que o seu talento mais se releva.

Desde cedo que a Filipa mostrou talento para a literatura, valendo-lhe essa inspiração criativa, ter já ganho  alguns prémios infanto-juvenis, atribuídos pelo DN Jovem. Apesar de ter outras coisas escritas, as quais eu próprio já tive o privilégio de ler, têm-lhe faltado a coragem para vencer essa inibição, mostrando esses trabalhos a editores, a fim de se tornarem públicos.

Finalmente decidiu criar um Blog, chamado Dias Impares, onde segundo ela, irá apresentar pequenas histórias, tendo já publicado duas. Por isso estejam atentos e verão, a potencial escritora que ela é.

Como estamos no início de mais um ano, desejo à Filipa e ao seu Blog Dias Impares, um grande sucesso.   

O link de acesso é:

http://diasimpares.weebly.com/histoacuterias

 

 

A autora

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Laura Moura (Lisboa, 1983) formada em Psicologia e Produção de Artes e Espetáculos desde 2007, tem vindo a trabalhar em ambas as áreas, procurando as suas complementaridades. Recentemente tem-se dedicado à conceção e desenvolvimento de projetos de intervenção sociocomunitária em territórios vulneráveis ou com populações fragilizadas, junto de ONG, IPSS ou como freelancer.
Dias Ímpares surge da observação e diálogos do dia-a-dia – quando a poeira assenta são as histórias que resistem. Um microbservatório do comportamento humano que junta escrita e fotografia, as suas duas ferramentas de eleição para a partilha.
publicado por Nuno Santos às 10:31

Janeiro 10 2017

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Ontem foi conhecido o vencedor do Prémio FIFA 2016, e o contemplado deste ano, em minha opinião  com toda a justiça, foi o Cristiano Ronaldo. Embora  esse reconhecimento fosse esperado, pela esmagadora maioria dos adeptos do futebol, atendendo aos feitos obtidos neste ano, fundamentalmente por ter sido campeão europeu de clubes e pela seleção, nesta coisa de eleições existe por vezes, alguma irracionalidade. Ainda recentemente houve um exemplo dessa mesma irracionalidade, numa situação bem mais relevante, do que o prémio FIFA.

Além de que o Lionel Messi, o seu mais direto adversário, é também ele um grande jogador, tendo já vencido por cinco vezes este prémio, contra apenas quatro de Cristiano Ronaldo. Se bem que um desses prémios, atendendo ao desempenho desportivo dos dois jogadores, a sua atribuição a Lionel Messi nesse mesmo ano, resultou um pouco dessa mesma irracionalidade, de quem votou.

Para quem não está tão identificado com estas coisas do futebol, existem dois prémios diferenciados, atribuídos aos atletas com o melhor desempenho durante cada época desportiva. A Bola de Ouro, que foi criada pelo jornal francês L’Equipe, no ano de 1956 e o prémio FIFA, criado no ano de 1990.

Entre os anos 2010 e o ano 2015 o jornal L’Equipe e a FIFA fizeram uma parceria, unificando o prémio, porém essa parceria foi desfeita em 2016, passando a haver de novo os dois prémios, a Bola de Ouro e o prémio FIFA agora designado por The Best.

Neste ano, o Cristiano Ronaldo já tinha ganho a Bola de Ouro, atribuída pelo L’Equipe, embora não fosse uma garantia de, ser considerado o melhor do mundo. Isto porque no ano de 2000, Luís Figo também ganhou a Bola de Ouro e não foi eleito o melhor jogador pela FIFA, cabendo o prémio FIFA nesse ano a Zinedine Zidane. Porém no ano de 2001 o Luís Figo viria a ganhar o prémio FIFA de melhor jogador do mundo, quando a Bola de Ouro do L'Equipe, foi atribuída a Michael Owen do Liverpool.

Apesar de ser um orgulho para a maioria dos portugueses, termos alguém reconhecido, como o melhor do mundo, e logo numa área de tão grande visibilidade como é o futebol, de tal forma que o próprio Cristiano Ronaldo, se transformou num símbolo do nosso país no mundo inteiro. Para os sportinguistas é um duplo prazer, porquanto, dois dos jogadores já distinguidos como melhores do mundo, foram formados no Sporting, o Luis Figo e o Cristiano Ronaldo.

 

 

publicado por Nuno Santos às 16:24

Janeiro 09 2017

1924-2017

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O ano de 2016 foi fértil no desaparecimento de figuras públicas, tanto no meio artístico, como na política. No meio artístico destacam-se entre outros, o desaparecimento de David Bowie, Leonard Cohen e George Michael e no meio político, o do icónico Comandante Fidel Castro.

O ano de 2017 ainda agora começou e logo com o desaparecimento de uma figura marcante da vida portuguesa, nos últimos cinquenta anos, o Dr. Mário Soares, pese embora, já estivesse retirado da política ativa.

Eu nunca fui um seu apoiante, porquanto, as minhas simpatias políticas situam-se num outro quadrante, porém, não me é difícil reconhecer a sua importância e o seu contributo na consolidação da democracia, ainda que de certeza, não seria esta democracia em que vivemos, aquela que o Dr. Mário Soares idealizou, uma democracia subordinada ao poder económico, mais do que ao sufrágio popular como ele sempre defendeu.

A propósito de eleições lembro-me de um episódio curioso ocorrido com o Dr. Mário Soares, o qual ilustra o seu sentido democrático. Como costume em véspera de eleições, as forças partidárias fazem arruadas nas principais cidades e nas ruas mais movimentadas.

Durante uma campanha eleitoral e estando no período de almoço, encontrava-me no Rossio, junto a uma banca do meu partido. Entretanto aproximou-se a comitiva do PS, encabeçada pelo Dr. Mário Soares. Ora o Rossio, é como que a sala de visitas de Lisboa, e à hora de almoço, são centenas para não dizer milhares, as pessoas que por ali circulam. Pois o Dr. Mário Soares dando a volta à praça, cumprimentou todos os elementos das bancas dos partidos rivais, inclusive a mim. Foi este o meu momento de maior proximidade, com o Dr. Mário Soares.   

Claro que nestas alturas, há sempre tendência para se sobrevalorizar as virtudes, dos que nos deixam, por isso, são muitos os comentadores que o apelidam de “pai da democracia”. Mas com todo o respeito, a mim custa-me reconhecer-lhe esse epíteto, porque houve muitos portugueses que fizeram bem mais pela instauração da democracia em Portugal, pagando até com a própria vida, essa luta pela democracia. E se ele esteve deportado em São Tomé e exilado em Paris, outros estiveram deportados no Tarrafal e nas masmorras de Peniche.

Mas também tenho dificuldade em entender, as críticas que lhe fazem, sobre o processo de descolonização, sobretudo, as efetuadas pelos portugueses retornados das colónias.

Isto porque em face da conjuntura da época, o que esses portugueses deveriam valorizar mais, era o seu processo de integração na vida social do país, pois não há muitos exemplos como esse, no mundo. Foi quase um milhão de pessoas integradas num período tão curto de tempo, e num país tão pequeno como o nosso. Ora o Dr. Mário Soares fazia parte desse governo, que, tudo fez para os receber e integrar socialmente.

Quanto a mim os principais responsáveis da descolonização foram, como muitos defendem, o Prof. Salazar e o Prof. Marcelo Caetano, porque não conseguiram ler atempadamente os sinais que vinham dos países vizinhos das nossas ex-colónias, acompanhando a retirada dos outros países colonizadores.

Estão aagora a decorrer as cerimónias fúnebres e com honras de estado. Ainda que eu não participe nelas a não ser pela televisão, não deixo de exprimir a minha solidariedade à família, assim como a todos aqueles que sentem a sua partida, estando ciente de que o Dr. Mário Soares, figurará na História de Portugal.

publicado por Nuno Santos às 17:16

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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