Castelo de Monterrey em Verin
“Lázaro, Ramos e na Páscoa estamos”, desde pequenos que ouvimos este dito, bem mais longo porque existe um nome, para cada uma das semanas da quaresma, ou seja: Ana, Magana, Rebeca, Susana, Lázaro, Ramos e na Páscoa estamos.
Mas dos domingos que antecedem a Páscoa, o domingo de Lázaro era dos mais aguardado pelos flavienses, não pelo significado religioso, o milagre de Cristo na ressurreição de Lázaro, mas pela festa que em sua honra, se realiza em Verin.
Depois da nossa independência em 1143, embora houvesse uma linha de fronteira a separar os territórios de Portugal e Espanha, definida pelo tratado de Alcanices em 1297, houve sempre uma grande cumplicidade e intercâmbio entre os povos fronteiriços, nomeadamente entre os concelhos de Chaves e de Verin. A minha família é um exemplo dessa ligação, tanto do lado materno como paterno, com origens em Feces de Abajo e em Tamagos.
Por certo que essa miscigenação não será alheio a festa do Lázaro, a qual está para os galegos de Verin, como o dia de Santos para Chaves. Nesse dia não havia guardas na fronteira, sendo a passagem livre. Mais do que o comércio, era a diversão e as raciones de pulpo à galega, servidas nos tradicionais pratos de madeira, que os portugueses procuravam no Lázaro.
Atravessava-se a fronteira, como que uma espécie de libertação, porquanto na época Portugal era um país de costas voltadas para a Europa e nos restantes dias do ano, só os possuidores de passaporte podiam atravessá-la.
Recordo-me por isso das enormes filas que se geravam ao longo da estrada de Vila Verde da Raia, porque vinha gente de outros lados só para sentir essa sensação de liberdade. Para quem como nós viviamos ali ao lado, bastava-nos atravessar a barca do Tegas, e depois a apanhar a carretera (autocarro) em Feces até Verin.
Com a entrada de Portugal e Espanha na CEE as fronteiras foram abolidas e hoje, Chaves e Verin vivem em comunidade, designada pela Eurocidade Chaves-Verin. Apesar de agora se ir a Verin com regularidade, até para ir ao supermercado comprar alguns artigos de consumo diário, porque são mais baratos devido às menores taxas do Iva, haverá outros que irão manter a tradição, indo a Verin pelo Lázaro, para comer uma racione de pulpo, regada com um jarro de vinho grês.