Já não sei qual o evento que decorria no Largo do Tanque, o nosso salão de festas, mas presumo que seria uma Corrida da Páscoa. Dos assistentes nesta fotografia, apenas o meu sogro está entre nós, embora já não fosse o mais novo dos retratados.
Com o desaparecimento destas pessoas, desapareceu também muita da nossa história. Embora na nossa terra se tenha feito muita recolha, refletida em muita obra publicada, eu penitencio-me por não recolhido do meu pai ou do meu tio Augusto, como o filho mais velho, os testemunhos do meu avô Manuel dos Santos, um ex-combatente da I Grande Guerra, as suas vivências nesse terrível acontecimento que, assolou o mundo, no início do século passado.
Os personagens desta foto teriam também muitas histórias para contar, umas de caráter pessoal, outras com repercussões na vida social da aldeia. Entre os retratados está o Zé Regalia, cuja bonomia era reconhecida sendo o autor de muitas histórias pitorescas.
Recordo-me duma que me contou, a do roubo da boina ao Carloto na Bagoeira, pensando este que fora o diabo que lhe aparecera, no cruzamento das Japoneiras.
Isso aconteceu numa noite de breu quando o Carloto e a sua mulher seroavam em casa da sua mãe, vizinha do Zé Regalia. Ora quando o Carloto estava para sair, o Zé escondeu-se na sua eira, entre as ramagens da figueira.
Nessa época durante o inverno, a Bagoeira era um lamaçal e os transeuntes tinham de passar por um tombarão, uma espécie de passadiço, mesmo rente ao muro da eira do Zé.
À frente vinha a tia Júlia e logo atrás o Carloto, assim quando o Carloto passou, o Zé aproveitando-se do escuro e da noite e as ramagens da figueira, sacou-lhe a boina da cabeça.
Este talvez sugestionado por aquilo que se dizia deste lugar, saltou para o meio da lama correndo o mais rápido que pode do lugar. A mulher surpreendida perguntou.
- Que foi Manel! Parece que viste o diabo?
- Foi o diabo negro, que me roubou a boina da cabeça.
O caso ficou apenas dentro do casal, reforçando a ideia que o cruzamento das Japoneiras, era um lugar assombrado. Passado alguns dias e como o Carloto continuava a andar com a cabeça em couca, o Zé com o seu espírito galhofeiro disse para os outros.
- Perguntai ao Carloto pela boina?
Foi quando o Carloto descobriu que, o diabo se chamava Zé.