Outeiro Secano em Lisboa

Julho 26 2017

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Nas muitas estórias fantásticas que constam da memória coletiva de Outeiro Seco, o forno do Có está ainda ligado a um outro mendigo, que, nas suas frequentes passagem pela ladeia, ali pernoitava. Apesar de já não se saber o nome, dizia-se dos lados do Vidago.

 Tal como os restantes não tinha ter eira nem beira, além disso, este mendigo era ainda apoquentado pelo espírito de um militar que, fora morto por uma patada de um cavalo, quando cumprira o serviço militar, no regimento de cavalaria de Chaves.

 De vez em quando e sem vir nada a propósito, este homem entrava em transe, saindo-lhe do interior uma voz que, nada tinha a ver com o tom de voz como falava, em estado natural.

Embora haja uma grande contradição no seio da igreja católica, sobre a temática dos espíritos, o certo é que a Bíblia tem várias passagens, citando a sua existência. Uma delas é a missão dos doze ou seja, a dos doze apóstolos que é:

Missão dos Doze (Mc 6,7-11; Lc 9,1-6; 10,1-11) - 5Jesus enviou estes doze apóstolos, depois de lhes ter dado as seguintes instruções: «Não sigais pelo caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. 6Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. 8Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça. 9Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; 10nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento.

Ora, nas frequentes passagens pela aldeia, por mais de uma vez o pobre homem foi apoquentado pelo espírito do militar, dizendo que penava neste mundo, por causa do incumprimento de uma promessa ao São Caetano.

A maioria das pessoas que assistiam à cena dividia-se quanto ao fenómeno. Uns diziam que aquilo era de facto uma situação sobrenatural, outros que não passava de uma encenação, para captar maior pena e compaixão, a fim de recolher mais dádivas.

Crentes ou não mas corajosos, os jovens António Salgado, António Castro e Augusto dos Santos, decidiram levar o homem ao São Caetano, para que se consumasse o descanso eterno da alma penada.

Assim num tórrido dia de verão, ainda que não fosse no dia da festa do santo, a qual se comemora no segundo domingo de Agosto, os três jovens montaram o mendigo num burro da tia Ana Barroca, mãe do António Salgado, rumando até ao São Caetano pelo antigo estradão da Torre.

 No início do percurso tiveram logo um constrangimento, o mendigo não estava habituado a montar e não se segurava na montada, ultrapassaram a situação, atando o homem ao dorso do burro, como se fosse uma carga.

A viagem durou mais de duas horas, chegados ao São Caetano, deram duas voltas com o mendigo à capela do santo, cumprindo assim o desejo do espírito.

Cumprida a promessa os rapazes ouviram do interior do mendigo o agradecimento pelo seu gesto e que doravante, a sua alma ficaria em descanso.

Os rapazes sentiram um misto de espanto e satisfação pela missão cumprida, quanto ao mendigo, pelo menos nas suas passagens pela aldeia, jamais se verificou o aparecimento do espírito.

publicado por Nuno Santos às 07:37

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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