É comum dizer-se que “a vida não custa, o que custa é saber viver” e de facto são muitas as formas escolhidas para se viver, ainda que algumas causem desconforto em terceiros e se diga também que, anda meio mundo a tentar vigarizar o outro.
Vem isto a propósito de um episódio vivido no sábado passado, durante a nossa viagem de regresso de Chaves para Lisboa, quando na estação de serviço da Mealhada estacionei, junto ao equipamento de abastecimento de ar e de água, a fim de dar uma mangueirada nos vidros, para limpar as salpicadelas dos insectos.
Quando já me preparava para entrar no carro, eis que parou atrás de mim uma viatura Mercedes, e saindo de lá um indivíduo dirigiu-se-me muito cordialmente, como fosse meu conhecido.
- Olá está bom? Então como se tem portado a máquina?
Fiquei um pouco surpreendido pelo cumprimento e tentei fazer um exercício mnemónico, a ver se me lembrava donde conhecia aquele indivíduo.
Sem me dar tempo de o interpelar disse-me.
- Eu sou o Miguel Santos e já não trabalho na Expocar de Alcântara, agora estou no El Corte Inglês, como director do sector de compras de têxteis para senhoras, não recebeu o meu e-mail! Então anote aí o meu número de telefone, para me contactar quando for ao El Corte Inglês.
A conversa começava a ter algum sentido, pois o meu carro fora comprado na Expocar e a oficina de Alcântara, era onde fazia as revisões.
- Quanto mede a sua senhora?
- Um metro e sessenta e oito disse-lhe eu.
- Então abra lá a mala e tome lá dois casacos Armani que custam mil euros cada, de imediato enfia-me na mala do carro duas peças de vestuário, embrulhadas em plástico.
Fiquei perplexo com tamanha franqueza e nem verifiquei a qualidade das peças, porém a franqueza foi logo desfeita, quando me pediu cem euros, para pagar o IVA.
Ora de IVA percebo eu, e se os casacos custavam mil euros cada, o IVA suportado em cada um, era de cento e oitenta e sete euros, por isso apercebi-me logo que estava a ser vítima do conto do vigário.
Como tinha apenas trinta euros no bolso disse-lhe que era o único dinheiro disponível, deste modo, ainda que as peças não fossem Armani, a perda não era muita.
Nessa altura a Celeste apercebendo-se também da natureza do indivíduo incitava-me a entrar no carro. Entretanto o indivíduo disse que por trinta euros não podia ser, retirando os casacos da mala.
Continuamos a viagem tentando fazer as pontes do diálogo travado pelo indivíduo. Foi quando nos lembramos que, na chapa da matrícula da viatura, está o nome da Expocar - Alcântara, ora foi pela sua leitura que, o vigário construiu a sua narrativa, para nos aplicar o golpe. Só que desta vez não resultou, eu não perdi o dinheiro, mas a Celeste ficou sem dois casacos “Armani”.