Outeiro Secano em Lisboa

Março 29 2016

 

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O fundo do mar é um depositário de muitas belezas naturais mas também de tesouros, entre as quais, o relógio de bolso de corrente prateada, da família Eckardt.

Reinaut Eckardt era um alemão nascido em Hamburgo, que, como a generalidade dos nórdicos, era alto e louro e tinha os olhos azuis. Devido à sua profissão de transitário no porto marítimo da sua cidade, um dos portos com maior tráfego na europa e no mundo, visitou várias vezes Portugal.Algumas vezes veio por razões profissionais, outras em férias com a família, disfrutando do nosso sol e das nossas praias.

Sentindo-se encantado pelo nosso clima, foi acalentando a ideia de que, quando se reformasse, seria em Portugal, onde passaria o resto da vida. Essa ideia foi germinando na sua mente, obtendo a concordância da família.

Assim quando atingiu a reforma, na altura ainda aos sessenta anos, Reinaut Eckardt e a mulher, porquanto, as duas filhas do casal já tinham a sua vida própria, mudaram-se definitivamente para Portugal. O local escolhido para a nova residência foi a pacata vila da Parede, no concelho de Cascais.

A escolha da Parede não fora despropositada, a sua localização reunia duas condições, que para o Eckardt eram essenciais. A primeira era a proximidade com o mar, porque o mar fazia parte do seu quotidiano. A segunda porque tinha as condições para a prática da vela, o desporto da sua paixão desde muito novo.

Como estavam reunidas estas duas condições, pouco depois de se instalarem na nova casa, Eckardt inscreveu-se como sócio no Centro Náutico de Cascais, adquirindo um barco à vela, da classe solitário, ou seja de um só velejador.

A prática da vela ajudou-o a integrá-lo na sociedade de Cascais, já a sua mulher que era uma exímia jogadora de golfe, tornou-se sócia do Clube de Golfe do Estoril, passando a viver como uns autênticos turistas, com visto permanente.

O Eckardt era o mais velho de três irmãos, facto que lhe valeu ter sido o herdeiro de uma relíquia da família, um relógio de bolso com corrente prateada. A Alemanha está associada ao nascimento do primeiro relógio de bolso, mais propriamente no ano de 1504, na cidade de Nuremberga.

Este relógio era mais recente, mas como tinha passado por várias de gerações, não sabiam ao certo qual o ano de fabrico, porém, era uma bela peça de relojoaria mais valorizada ainda, por ter pertencido aos seus antepassados. A  estima pelo relógio, fazia com que ele o usasse diariamente, separando-se dele apenas à noite, quando se deitava, ainda que ficasse bem próximo de si, na mesa de cabeceira.

A vela é um desporto condicionado pelas condições meteorológicas, apesar de ser uma modalidade muito antiga, não fez parte dos primeiros jogos olímpicos da era moderna, por causa do mau tempo que, nessa altura assolou Atenas, donde, só em 1900 nos jogos olímpicos de Paris, a vela se tornou efetivamente, uma modalidade olímpica.

Os velejadores dizem que a prática da vela, é o melhor remédio para combater o stress, porquanto, as preocupações do quotidiano ficam em terra porque no mar, as preocupações do velejador concentram-se exclusivamente, na estabilidade do barco.

Uma certa manhã o Eckardt zarpou com o seu veleiro da marina de Cascais, embora houvesse pouco vento, só ao largo o vento amainou totalmente. Embora tivesse utilizado todas as técnicas, aprendidas ao longo dos anos, para lidar com esta situação, o barco  limitava-se a balançar ao sabor das ondas.

Mas como velejador experimentado não se exasperou, baixou as velas e esperou que o vento voltasse, entretanto e para ajudar a passar o tempo morto, o Eckardt soltou a corrente do seu relógio e pôs-se a observá-lo minuciosamente, coisa que fazia pela enésima vez.

Entretido que estava nessa observação, foi surpreendido por uma forte onda, que, balançou de tal forma o barco, desequilibrando-o e fazendo com que o relógio lhe tenha saltado da mão e caído ao mar.

Instantaneamente o Eckardt ficou sem saber o que fazer, se havia de mergulhar tentando recuperar o relógio, ou se havia de segurar o barco e consequentemente a sua vida. Ainda hoje não sabe explicar a razão da sua opção, mas o certo é que optou pela segunda.

 

Odivelas, 8 de março de 2016

publicado por Nuno Santos às 08:14

até eu optaria é lógico
vasco sobreira garcia a 31 de Março de 2016 às 11:55

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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