Outeiro Secano em Lisboa

Janeiro 31 2013

O Coliseu de Lisboa, cujo nome oficial é Coliseu dos Recreios, é uma das salas de espectáculos mais características de Lisboa. Inaugurada no ano de 1890, com capacidade de quase 3000 lugares sentados, serviu nos seus primeiros anos, para a realização de espectáculos de ópera, cujo preço dos bilhetes, era inferior aos praticados pelo teatro S. Carlos, sendo por isso frequentado pelos amantes do bel canto, oriundo dos extractos sociais mais baixos.

Esporadicamente ainda são exibidas óperas e bailados, nomeadamente com grandes companhias russas, e foi na companhia dos nossos amigos, Júlio e Rosário, que, eu e a Celeste fizemos o nosso tirocínio nesse tipo de espectáculos, assistindo há muitos anos, à exibição da ópera Madame Butterfly, de Puccini.

O Coliseu é agora mais utilizado, para a realização de concertos, rivalizando este espaço, com o do Pavilhão Atlântico. Desde há muitos anos que, o Coliseu é explorado pela família Covões, enquanto, que, o Pavilhão Atlântico, construído para a EXPO 98 e por isso era propriedade do Parque Expo, foi adquirido recentemente por Luís Montez, genro de Cavaco Silva, com a particularidade de que, o Álvaro Covões e o Luís Montez rivalizam também, na organização dos megas festivais de verão. 

Todo este intróito para falar do concerto da Ana Moura, ao qual assistimos na semana passada no Coliseu, mais uma vez na companhia dos nossos amigos Júlio e Rosário. É um concerto a não perder porquanto a Ana Moura, é actualmente uma das nossas melhores intérpretes do fado, mas não só, tendo participado até na gravação de um dos discos dos Rollings Stones.  

O espectáculo baseia-se fundamentalmente, na apresentação do seu último disco, com o título “Desfado”, não porque seja uma negação do fado, mas porque a maioria dos temas, são de artistas que, não pertencem a esse meio, como; Manuel Cruz dos Ornatos Violeta, Vigem Sutra, Abrunhosa, Miguel Araújo, Luísa Sobral e muitos outros. O concerto durou cerca de duas horas, e a artista teve de fazer cinco encores, tal foi a satisfação do público.

A Ana Moura vai andar em digressão pelo país e pelo mundo, quem tiver oportunidade de assistir não perca este espectáculo, vão ver que não perdem o seu tempo.   

publicado por Nuno Santos às 17:01

Janeiro 30 2013

 

O grave acidente rodoviário ocorrido no passado fim-de-semana, na Sertã, cujo resultado nefasto se traduziu na perda de onze vidas, e em vários feridos graves, traz-nos à evidência algumas contradições, com as quais somos diariamente confrontados, quando classificam o nosso país, muito abaixo dos restantes países da Europa.

Segundo as autoridades portuguesas, muitas das vítimas do acidente ocorreram, por falta do cinto de segurança, dado que o autocarro utilizado era espanhol, e em Espanha, só os autocarros com matrícula posterior a 2007, estão obrigados ao uso de cinto de segurança, quando em Portugal essa obrigação, está instituída desde o ano de 1999, para todos os autocarros de passageiros.

Portugal foi sempre considerado um bom aluno pelos restantes parceiros, na aplicação das directivas comunitárias. Esse exemplo vem do tempo em que, o Prof. Cavaco Silva era o primeiro-ministro, e Portugal era apontado como um modelo, na utilização dos fundos de coesão, sabe-se agora que, não terão sido assim tão bem aplicados.

O mesmo se passa com a aplicação de outras directivas, como a do SAFT -Standard Audit File for Tax. Trata-se de um ficheiro normalizado (em formato XML) com o objectivo de permitir uma exportação fácil, e em qualquer altura, de um conjunto predefinido de registos contabilísticos, num formato legível e comum, independente do programa utilizado, sem afectar a estrutura interna da base de dados do programa ou a sua funcionalidade.

Mais uma vez Portugal foi o primeiro país a adoptar esta directiva, estando a criar aos contabilistas, em cuja classe me incluo, graves constrangimentos, porque a partir deste mês de Janeiro, temos de comunicar à AT – Autoridade Tributária, a facturação dos clientes, a maioria dela através deste ficheiro. Acontece que existem empresas  cá sedeadas, cuja facturação aqui gerada, e as facturas emitidas pela casa mãe, onde ainda não geram o ficheiro SAFT, porque a directiva não está ainda aplicada.

Ora, se algumas das medidas como a dos cintos de segurança, se pode considerar como uma boa medida, potenciadora de salvar vidas, outras há que, só atrasam a vida às pessoas e às organizações, porque são em si, geradoras de maior burocracia.

publicado por Nuno Santos às 18:06

Janeiro 28 2013

                                                                                                              

 

 

 

                                                                    A 1ª foto é da década de sessenta a segunda é de 2011

  

Quem visita a península de Tróia, ou vê as imagens que, de vez em quando passam na novela Dancing Days, em exibição na SIC, não deixa de ficar deslumbrado com as imagens de Tróia, mais parecendo o paraíso na terra, se é que o há.

Só que esse paraíso já foi para muitos portugueses, um purgatório, o qual parece que também já não há, ou então um inferno, porque muitos deles, viram ali esfumadas uma boa parte das suas poupanças, nesse projecto.

Tudo começou na década de sessenta, quando dois irmãos, José e Agostinho da Silva, proprietários da Torralta e percursores do conceito da casa de férias, iniciado no Algarve, na região de Alvor, conceberam esse mesmo projecto de construção, para a península de Tróia. Era um projecto megalómano, com cerca de setenta mil camas.

Os meios financeiros para a construção, vinham como era comum, do recurso ao crédito bancário e dos adiantamentos dos potenciais compradores. Ora mercê de uma boa campanha de marketing, muitos portugueses em especial emigrantes, depositaram grandes esperanças e dinheiro, nesse investimento, para depois, poderem ali gozar a sua reforma dourada.

Só que o plano não correu como estava delineado, e a piorar tudo isso, apanhou com  a revolução de Abril.  Devido às imensas perturbações sociais que se viveram a partir desse momento, a Torralta acabou por entrar em insolvência. De modo que, lá se foram as esperanças e os depósitos dos pequenos investidores. A Torralta passou então por várias convulsões, acabando intervencionada pelo Estado. Porém, apesar das sucessivas promessas de que, agora é que é, os investimentos jamais avançavam, em contrapartida, as infra estruturas que havia, entraram em degradação.

 Até que já em finais da década de noventa, o Estado entregou a Torralta aos seus fundadores que, a venderam à Sonae, a qual reconverteu todo o projecto imobiliário.

Das setenta mil camas do projecto inicial, passou-se para pouco mais de sete mil. E aquilo que antes se projectava como um turismo massificado, tornou-se num dos locais mais aprazíveis de veraneio, para um estrato social médio alto.

Eu conheço quem seja proprietário na península de Tróia, mas digo-vos que, recentemente foram notificados pela AT Autoridade Tributária, de que o valor do património tributável, sobre o qual se calcula o IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis, foi aumentado dez vezes mais que, o valor anterior. Esperamos que tal como aconteceu no passado, o paraíso de agora, não se converta para muitos dos actuais investidores, no purgatório ou no inferno.

publicado por Nuno Santos às 18:59

Janeiro 27 2013
´

A fuga de cérebros está associada à falta de desenvolvimento dos países de origem. Este fenómeno transpõe-se também para as regiões. E neste capítulo, a região de Trás os Montes é disso um mau exemplo, porque todos nós conhecemos pessoas, que, pela sua capacidade e massa crítica, seriam um valor acrescentado para a nossa região. Lamentavelmente a falta de oportunidades locais, obriga-os a colocar essa massa crítica, em favor de outras regiões, embora a sua terra de origem, jamais lhes saia do pensamento. São centenas senão milhares os transmontanos, migrados e emigrados com esse perfil, e o José Carlos Barros, é um desses exemplos, paradigmáticos. Natural de Boticas fez o liceu em Chaves e depois o curso de arquitectura paisagística na universidade de Évora, aplica agora os seus saberes profissionais, na região do Algarve, mais propriamente em Vila Real de Santos António. Conheci-o através da Celeste, porque durante dois anos, foi hóspede em casa dos seus pais. Apesar da sua acção e postura muito discreta, o Zé Carlos Barros é uma figura reputada das letras portuguesas, com vasta obra publicada e premiada, tanto em poesia como prosa.  Tal como Miguel Torga, também o Zé Carlos Barros é um exemplo paradigmático das pessoas que, apesar de viverem longe da sua terra, mantém-na sempre no pensamento. Servindo-lhe de mote para a sua escrita, como no último livro “O amor e o tédio” assim como em grande parte da sua obra poética. O Zé Carlos mantém uma regular colaboração, no blog do Fernando Ribeiro, tendo a  nossa região como principal referência. Apesar dos novecentos quilómetros de distância, é visita frequente, embora não tanto quanto gostaria. A foto que ilustra o post, é de uma visita a Segirei, um local muito frequentado por ele e outros seus amigos, pois o Zé Carlos é um exímio pescador de trutas. Anualmente não descura a sua presença na festa da Sra da Livração, em Boticas, o mesmo não se passa com os Santos, em Chaves, porque apesar de continuarem no seu imaginário, a distância a que vive, não permite estar presente tantas vezes, como gostaria. Deixo-vos com  pequeno poema da sua vasta obra.

         A VIDA TODA 

 Nada mais procuras:

 o lugar no escano em redor do lume,

 as bagas do lódão,

 a flor da urze.

 

publicado por Nuno Santos às 11:35

Janeiro 25 2013
 
 

 

Existem vários estudos para designar um líder que, nem sempre é o chefe, mas aquele que, é capaz de influenciar e motivar um grupo, de forma positiva. E bem se poderá dizer que o Aurélio Dias, mais um outeiro secano em Lisboa, nos finais da década de cinquenta, meados da década de sessenta, liderou a juventude do seu tempo, em especial a mais ligada à prática desportiva.

Filho de António Dias e Maria André, duas figuras carismáticas da aldeia, o tio Dias ficou na nossa memória colectiva, por ter levado de Lisboa, onde cumpriu serviço militar no longínquo ano de 1927, a primeira bola de cautchú para a aldeia. Antes disso jogava-se com bolas de trapo e bexigas de porco.

A tia Maria André que, faleceu apenas dois anos antes, de completar os 100 anos, ficou imortalizada na capa do livro “Crescem pães pelos outeiros” do Herculano Pombo e do Altino Rio, como um símbolo da mulher trabalhadora.

A vida do Aurélio Dias daria ela própria uma obra literária, tivesse eu engenho e arte para a escrever. Com passagens por Outeiro Seco, Chaves, Guiné Bissau, Angola e Lisboa, onde está radicado e passou a maior parte da sua vida.

Cingindo-nos apenas à sua juventude, o Aurélio liderou uma equipa de futebol, onde pontificavam elementos mais velhos do que ele, como António Roxo (meu pai), ou mais credenciados em termos futebolísticos, como o Américo Novais ou o seu primo Celestino André, que jogavam na formação do Grupo Desportivo de Chaves, o Américo  foi contemporâneo do malogrado Pavão.

Ficou a dever-se ao Aurélio, a compra do segundo equipamento desportivo, traduzindo-se essa compra, numa autêntica epopeia.  Ele e mais dois elementos da equipa, o Américo Novais e o Zé da São, encomendaram o equipamento, a uma casa de material desportivo de Lisboa “Casa Sórios”, sem antes terem assegurado o dinheiro, para levantar a encomenda.  

Resolvido esse constrangimento, as camisolas deram muitas tardes de glória à nossa equipa, e passaram ainda por várias gerações de jogdores. O Aurélio foi ainda o responsável por jovens jogadores da cidade, entre os quais o Rendeiro, Lisboa, e creio que até o próprio Pavão, apesar de ido muito novo para o Porto, terem representado a nossa terra, em jogos importantes contra equipas como, Vilarelho da Raia e Feces de Abajo, ou Loivos.

Depois da grafonola do Sr. José Merceana, foi ainda o Aurélio quem realizou o primeiro baile privado na aldeia, no pátio do Sr. Eurico (meu avô) onde agora vive o Zé Serra, cuja casa  tinha na época outra disposição. O baile serviu para comemorar a sua passagem de ano, na Escola Comercial, mas ao baile, só tiveram acesso os convidados.

Foi o percussor do primeiro gira-discos na aldeia, trouxe-o quando regressou do cumprimento do serviço militar na Guiné. Estava em voga o tema do Roberto Carlos “Eu quero que você vá para o Inferno” e a carreira do António Mourão estava no seu auge, com “Oh tempo volta para trás”. Não é isso que pretendemos que, o tempo volte para trás, apesar estarmos a perder qualidade de vida, felizmente não regredimos ainda a esse tempo da década de sessenta, nem esperamos que tal não aconteça, porque apesar da nostalgia da nossa juventude, as privações pelas quais passamos nesse tempo, são incomparáveis com as do tempo actual. Em algumas coisas, o nosso amigo Aurélio bem gostaria que o tempo voltasse para trás, nomeadamente em termos de saúde, e também desportivamente, porque o seu Sporting desse tempo, tinha bem mais vitórias do que agora.

 

publicado por Nuno Santos às 17:53

Janeiro 23 2013

Para se obter sorte antes do início de um qualquer acto, é frequente o exercício de rituais, uns mais bizarros que outros. Quem segue o fenómeno desportivo, vê jogadores a benzerem-se quando entram em campo, outros entram com o pé direito, e alguns técnicos, vestem sempre a mesma peça de roupa, no dia dos jogos. Existem ainda outros rituais, por exemplo em Itália o centro mundial da religião católica, onde proliferam centenas de igrejas e catedrais para o exercício do culto, não deixa por isso de haver uma série de rituais, os quais segundo a tradição, ajudam a cumprir sonhos e  desejos dos seus visitantes. Ainda que esses rituais, contrariem de certa maneira, as coisas da fé e da religião, fazem lembrar aquele momento bíblico, quando no sopé do monte Sinai, Moisés depois de receber as tábuas da lei, e se juntou ao seu povo, encontrou-o a adorar outro Deus, diz-se que um bezerro em ouro. Moisés ficou tão irado que, partiu as tábuas da lei, e Deus teve de escrever outras. 

Não será por isso que, recorrentemente acontecem desastres naturais em Itália, mas em Verona, numa praça onde se situa um casa, que dizem ter sido dos Capuletos, os pais de Julieta, celebrizada no romance Romeu e Julieta, de Shakespeare, existe uma estátua de Julieta seminua, onde os visitantes para serem bafejados pela sorte, devem esfregar uma das suas mamas.

Em Milão nas galerias Vítor Emanuel, o gesto é mais cruel: com o calcanhar do pé esquerdo pisa-se os genitais da imagem de um touro e roda-se três vezes no sentido contrário aos ponteiros do relógio.

Em Florença, uma das mais belas cidades de Itália e da Europa, apesar dos crentes poderem rezar na conhecida Catedral de Santa Croce, ninguém deixa de visitar o Mercado Novo, mais conhecido por Mercado del Porcelino, um mercado ao ar livre, onde existe um javali em bronze, ao qual os florentinos insistem em chamar de porcelino (porquinho). Aqui os visitantes devem passar a mão na escultura de bronze do javali, por isso seu focinho está sempre polido e brilhante.

Mas não é só em Itália que existem esses fenómenos, um bem conhecido pela sua proximidade, passa-se em Espanha, na catedral de Santiago de Compostela, onde os vistantes tocam com a parte do corpo menos são, numa das colunas da catedral, em vez de se rezar ao santo.

Felizmente já cumpri todos esses rituais, mas, atendendo à constante perda de qualidade de vida, por causa da actual conjuntura económica, o facto de já ter estado nesses locais, parece ter sido essa, a minha maior sorte!

publicado por Nuno Santos às 20:25

Janeiro 22 2013
Foto retirada do Blog do Altino
 

Foi com satisfação que tomei conhecimento através do blogue do Altino, de que, o processo de restauro da capela da Senhora da Portela vai ter o seu início, em breve. A obra insere-se no princípio de que, devemos preservar o nosso património, deixando aos vindouros, aquilo que os nossos antepassados nos deixaram. Infelizmente este restauro tem estado envolvido em alguma polémica, quanto a mim desnecessária, dando inclusive azo, à edição de um livro denominado “Altares Vazios”.

Por causa da sua especificidade, o restauro do património religioso, é sempre um trabalho minucioso e exigente, devendo ser feito exclusivamente por especialistas, tornando-se por isso moroso e oneroso.

Ora como a igreja não é fausta em rendimentos, diz-se até mendicante, o pagamento desses serviços costuma ser feito, através de demandas pelo povo, ou muitas das vezes pagas por mecenas que, num acto de fé, ou como forma de pagamentos de promessas, custeiam essas obras.

 A própria imagem da Sra da Portela, já bastante corroída pelo caruncho foi recentemente restaurada, graças à intervenção de um benfeitor. Infelizmente a polémica começou aqui, porque entendia a sua zeladora e outras pessoas de que, a imagem após o seu restauro, deveria retornar à capela. Por sua vez a comissão da igreja entendeu e bem, de que, era um risco, face ao estado em que estava o altar, repor a imagem na capela, sem que se fizessem primeiro as obras de restauração da mesma, sob pena de se perder tudo, o altar e a imagem.

Por razões diversas, a obra nunca se realizou até que no verão passado, mercê de uma feliz conjugação de factores, entre as quais a edição do livro da Lurdes Figueiras “Poemas do meu coração” uma comissão de outeiro secanos, em cooperação com o Sr. Padre Banha, decidiu avançar para o processo de restauração da capela.

 

Após um trabalho de prospeção junto de especialistas em arte sacra, a comissão chegou ao que parece a um consenso, na entrega da obra, orçada em 13.000,00 € (treze mil euros).

Ora se por um lado poderemos entender que face à actual conjuntura, não será a melhor altura, por outro lado é também nas alturas de crise que, surgem algumas janelas de oportunidade, e este orçamento para restaurar o altar e a própria cobertura da capela, parece-me ajustado.   

O importante agora é que todos os outeiro secanos, onde quer que se encontrem, se unam em torno deste projecto, sendo o primeiro de outros também necessários, como o restauro da capela da Sra. do Rosário, cuja situação de risco, é análoga à capela da Sra da Portela.

Uma coisa que tem de ficar clara para todos, acabou-se o tempo dos subsídios. De futuro tem de ser a sociedade civil a criar as dinâmicas necessárias, para fazer as coisas. No fundo é seguir o lema do ex-presidente americano, John Kennedy – Não me perguntem o que a América pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer pela América.

O mesmo lema podemos adaptá-lo a Outeiro Seco, juntando-nos todos, para fazermos o melhor pela nossa terra.

publicado por Nuno Santos às 12:01

Janeiro 20 2013

 

Nunca é tarde de mais para se fazer aquilo que se deseja, e Manuel Pires dos Santos, que, aos seus oitenta e seis anos, publicou o seu primeiro livro de poemas, é disso um exemplo. Trata-se de um livro autobiográfico que, exprime muita da sua grande paixão pela aldeia onde nasceu, há quase setenta anos, em Alcafozes na Beira Baixa. Esta aldeia tal como outras, há pouco mais de um século era uma espécie de couto, pertencente à família de João Franco, o último primeiro-ministro do rei D. Carlos.  O livro com quatro centos e cinquenta e cinquenta e cinco poemas, foi impresso na tipografia Gráfica Sinal, em Chaves, com a qualidade que nos habituou. Eu tive o privilégio de escrever o prefácio, o post deve-se ao facto de hoje ter relido mais alguns poemas. Publico um dos poemas que o Sr. Manuel Pires dos Santos dedica à sua aldeia. Tanto o Sr. Manuel como o seu genro Júlio Eurico, são meus amigos e amigos da nossa aldeia, e no próximo mês, por altura do Carnaval, lá estaremos juntos para bebermos um  Ponche quente no Flávio, e o chocolate quente no Pepe, em a Feces de Abajo.

  A Minha Aldeia

 Terreno forte em riqueza,

 Nunca explorado,

 Que tristeza…;

 O teu solo desprezado

 Sempre por outros invejado,

 Teus filhos

 Aos trambolhões,

 Castigados por tubarões

 E por eles mal tratados,

 Uns fugiram

 Outros ficaram,

 Em ti sempre pensaram,

 Julgando tuas razões.

 Mantendo seus ideais

 Uns, de ti falam Nos livros;

 Outros, de ti falam

 Nos jornais.

  
publicado por Nuno Santos às 11:45

Janeiro 18 2013

 

Esta estória foi vivida por um meu amigo e conterrâneo, que, durante uma fase da sua vida, esteve migrado em Lisboa. Nesse período que, remonta à década de setenta, não havia em Lisboa muitos lugares de diversão nocturna para casais convencionais. A maioria deles ou iam ao cinema, ou iam comer um frango ao Bonjardim e depois à revista no Parque Mayer.

Havia contudo algumas casas de diversão como; o Máxime, o Comodoro, a Tamila, o Hipopótamo e a Cova da Onça, o Elefante Branco só abriu mais tarde. Só que essas casas, tinham uma especificidade.  Algumas delas também funcionavam durante o dia como restaurantes normais, sendo até frequentados por clientes de um extracto social alto, como era o caso do Comodoro. A maioria delas só abriam ao final da tarde para servir os  jantares, mas com o crescer da noite, viravam casas de alterne, sendo frequentadas por jovens mulheres que, faziam da noite o seu modo de vida, e  por homens na sua maioria ligados a negócios do ramo imobiliário, os chamados patos bravos.

A Cova da Onça situava-se na avenida da Liberdade, bem próximo do Marquês de Pombal, e era um desses restaurantes nocturnos, frequentada sobretudo pela classe militar. O meu amigo que também era militar, cumpria em Lisboa uma comissão de serviço, razão pela qual não trouxera consigo a família, para não alterar a rotina escolar dos filhos, porque as comissões de serviço, não duravam mais que dois anos. Deste modo tinha por sua conta, a noite lisboeta.

Um dia a esposa veio visitá-lo, e pediu-lhe que a levasse a um restaurante, onde se pudesse jantar, mas também dançar. Com essa especificidade o nosso amigo lembrou-se da Cova da Onça, na época explorado por três irmãos transmontanos, naturais das Pedras Salgadas, curiosamente também o Hipopótamo, tinha como gerente um transmontano, natural de Mirandela.

Quando apareceu na Cova da Onça e apresentou a esposa ao gerente, este aproveitando um momento em que estava a sós, recomendou-lhe.

- O senhor conhece bem o funcionamento da casa, portanto têm de sair antes das dez da noite.

Claro que a essa hora, o meu amigo pensava estar já fora do restaurante, e por isso se aprestara a jantar cedo. Só que a esposa agradada com todo aquele ambiente dançante, não tinha nenhuma vontade em sair. O meu amigo estava aflito, ainda por cima, o gerente do restaurante, não cessava de lhe fazer sinais, indicando-lhe o relógio.

Por fim, dizendo à mulher que estava indisposto, lá conseguiu arrastá-la para fora do restaurante. Uns tempos mais tarde o casal recebeu em casa uns amigos e a esposa toda vaidosa disse-lhes.

- Gostei imenso da minha visita a Lisboa, o meu marido levou-me a jantar a um restaurante agradabilíssimo, onde se podia jantar e dançar, pena foi ter ele ficado indisposto, e não pudemos estar lá muito tempo.

Entretanto deu as coordenadas do restaurante aos amigos, que ficaram com curiosidade de conhecerem esse restaurante. Passado algum tempo, num outro encontro entre os dois casais, o amigo saiu-se com esta.

Ah é verdade! Fomos a Lisboa aquele restaurante que nos informastes, mas aquilo é uma casa de putas!

publicado por Nuno Santos às 12:16

Janeiro 17 2013

Todos nós fomos já protagonistas de situações bizarras e caricatas que, nos puseram a ridículo. Comigo passaram-se várias, mas há uma em particular que, ainda hoje me faz sorrir, de cada vez que a recordo.

Passou-se na década oitenta no Centro Comercial de Alvalade, um dos primeiros centros comerciais de Lisboa, e do país. Ficava no cruzamento das avenidas da Igreja com a avenida de Roma, mais propriamente na Praça de Alvalade, tendo defronte a estátua do Santo António.

Ficava porque apesar das instalações ainda lá continuarem, o Centro parece ter fechado em finais de 2011. Contudo desde 1976, o seu ano de abertura, e depois durante quase toda a década de oitenta, este centro por ser um dos pioneiros, era o local privilegiado para o passeio dos lisboetas ao fim-de-semana, em especial nas tardes de inverno.

O centro era um pouco acanhado, razão pela qual os seus corredores, andavam quase sempre apinhados de gente. Num dos seus pisos, tinha uma parede lateral, toda em vidro espelhado, e foi aí que a minha cena se passou.    

Andando a passear distraidamente com a família, choquei com alguém e educadamente, pedi desculpa. É aí que vejo a minha mulher a rir às bandeiras despregadas, e pergunta-me.

- Pediste desculpa a quem?

- A um senhor com quem choquei!

- Palerma! foste tu que, foste de encontro ao espelho?

Já lá vão mais de trinta anos, mas esta cena ainda hoje me faz sorrir.

publicado por Nuno Santos às 18:48

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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