Na próxima sexta-feira à mesma hora em que na aldeia decorre a via-sacra, em evocação da paixão de Cristo, eu estarei sobrevoando a aldeia, e lá de cima irão ocorrer-me alguns pensamentos, sobre o que se estará a passar lá em baixo.
Seguramente que os meus pensamentos não irão tanto para a evocação das três quedas de Cristo e das ajudas do Cireneu ou da Verónica, mas, para a azáfama que em outros anos a essa mesma hora, um grupo no qual eu me incluía, andávamos com a organização da Corrida da Páscoa.
Uma azáfama que embora começasse alguns meses antes, intensificava-se na noite de quinta-feira santa, com o planeamento do dia seguinte, o dia das provas. Digo provas porque eram várias, contemplando todos os escalões, desde a formação aos veteranos.
A Corrida da Páscoa e o arraial da festa da Sra. da Azinheira, foram durantes anos os dois eventos que, mais forasteiros trouxeram à nossa aldeia. Entre atletas e apoiantes, visitavam a aldeia nesse dia centenas de pessoas, oriundas dos mais variados concelhos do norte do país, ao contrário do arraial da festa, que tem um público mais localizado.
Por isso é para mim uma enorme frustração, que a nossa Corrida não tenha continuidade, quando a maioria das outras corridas pelo país, têm vindo em crescendo, só no passado domingo a Corrida da Ponte, teve mais de 40.000 atletas. Eu estive no sábado à noite nos pastéis de Belém, bem perto do local onde termina a prova, e lá estavam já imensas carrinhas de clubes e de juntas de freguesia vindas do norte do país, para participarem na corrida do dia seguinte.
A frustração é ainda maior porque a nossa corrida foi durante anos, considerada das melhores provas da região norte. Sendo uma organização da Casa da Cultura, vivia da carolice de alguns amigos, apoiados pelo exaurido comércio da cidade.
Quanto ao apoio institucional, não se pode dizer que não existisse, embora em minha opinião ficasse aquém do que devia, porquanto a Corrida da Páscoa, poderia ter sido um excelente veículo de divulgação da região, se da parte dos seus responsáveis, houvesse uma outra visão estratégica.
Fica-nos a satisfacção de termos tido entre os participantes, atletas olímpicos, campeões nacionais e mundiais, entre os quais; Delfim Moreira, Mário Silva e Albertina Dias e tantos outros.
Durante anos dizia eu que na XXV Corrida da Páscoa, iriamos ter a presença de um queniano. Ora se o ciclo não fosse interrompido, este ano seria a XXV Corrida, a qual curiosamente não vai ter nem um queniano, nem este outeiro secano.
Nos últimos dias tem decorrido uma grande polémica em todos os media, televisões, jornais em formato de papel ou digital, assim como na blogosfera, por causa do regresso de José Sócrates à RTP, como comentador político. De salientar que foi precisamente como comentador que José Sócrates, ganhou notoriedade, quando juntamente com Pedro Santana Lopes aos domingos à noite, comentavam a actualidade política, já lá vão uns bons anos.
Eu nunca votei em José Sócrates, mas não assinei qualquer petição contra o seu regresso à televisão, assim como também não assinei nenhuma petição, pelo facto de Pedro Santana Lopes um ex-primeiro ministro e presidente do PSD, tal como Marques Mendes ou Marcelo Rebelo de Sousa, ambos ex-presidentes do mesmo partido, serem também eles comentadores políticos, em canais televisivos.
Quanto a mim acho que se tem diabolizado em demasia, a figura de José Sócrates, o qual chegou à política vindo da sociedade civil, ao contrário dos actuais protagonistas, Pedro Passos Coeho e António José Seguro, cujos currículos são iguais, isto é fizeram todo o seu percurso nas jotinhas dos seus partidos.
Mas um dia gostava de ver um amplo debate, do tipo de “prós e contras” com os protagonistas pós 25 de Abril, para se saber a responsabilidade que, toca a cada um dos governantes, no actual estado da nação.
Isto porque anda por aí muita boa gente que, parece que não tem nada a ver com isto, quando durante esses quase quarenta anos, fomos governados apenas por dois partidos, os mesmos que disputam agora de novo o poder.
E se há auditorias para tudo, porque não se faz uma auditoria independente à governação, e de uma vez por todas, ficaríamos a saber quem são os verdadeiros culpados desta crise. Eu tenho para mim que um dos principais responsáveis, é agora o nosso principal representante, e muitos dos seus antigos comparsas, alguns responsáveis por actos que, segundo dizem, são autênticos casos de polícia, mas andam por aí alegremente, com o seu dinheiro bem acautelado, imune a situações como a que esteve recentemente eminente no Chipre.
Ao contrário das minhas expectativas, mais uma vez estive do lado da minoria, porquanto, a lista B liderada por Bruno Carvalho, foi a escolhida pela maioria dos sócios sportinguistas. Segundo dados ainda não definitivos, por causa de um constrangimento com os votos por correspondência, nem todos chegados em tempo à assembleia, mas segundo a Mesa Eleitoral esses votos já não alteram os resultados que foram; a lista B 53,63% a lista C 45,35 e a lista A 1,02%.
Bem sei que em democracia, por um voto se ganha e por um voto se perde, mas era preferível que os resultados não fossem tão bipolarizados, como acabaram por ser, cuja diferença entre as duas listas mais votadas, não chegou a 10%.
Espero que esta nova direcção consiga congregar todos os sportinguistas, e aplique uma gestão rigorosa, capaz de ultrapassar a grave crise que o clube atravessa, tanto financeira como desportiva, e que não aconteça como nas eleições anteriores em que, a nova campanha eleitoral começou, praticamente no dia das eleições.
Da minha parte cumprirei com as minhas obrigações estatutárias, pagando as minhas quotas, e dando o meu apoio, em especial nos jogos realizados em Alvalade, porque como diz uma das suas palavras de ordem “O Sporting é o nosso grande amor” independente de quem seja o seu presidente, porque o Bruno de Carvalho é já o 42.º presidente de um clube que, no próximo dia 1 de Julho comemora o seu 107º aniversário.
Viva o Sporting Club de Portugal!
Hoje é o dia mundial da poesia e embora se diga que, de poeta e louco todos temos um pouco, não vos apresento nenhum poema meu, porque essa fase vivi-a na adolescência, sendo “o poeta” uma das minhas alcunhas, quando andei no secundário. Este poema foi escrito por António Lopes Ribeiro, uma figura multifacetada, curiosamente mais ligada ao cinema do que à literatura, considerado o realizador do regime, muitos de nós se lembra ainda de António Lopes Ribeiro, a apresentar na RTP o programa "O museu do cinema".
Este poema é um dos mais conhecidos da nossa literatura, graças à sua divulgação pelo actor João Vilaret, um dos maiores recitadores de poesia de sempre. A Procissão assim se chama este poema, exerce em mim um efeito nostálgico, fazendo-me lembrar sempre a festa da nossa senhora da Azinheira, razão pela qual frequentemente o leio ou oiço, dito por João Vilaret, de quem tenho vários discos a dizer poesia.
Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.
Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!
Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!
Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.
Mochos, corujas,
sapos e bruxas.
Demônios, trasgos e diabos,
espíritos das enevoadas veigas.
Corvos, píntigas e meigas:
feitiços das mezinheiras.
Podres canhotas furadas,
lar dos vermes e alimárias.
Fogo das Santas Companhas,
mau-olhado, negros feitiços,
cheiro dos mortos,
trovões e raios.
Uivar do cão,
pregão da morte;
focinho do sátiro e pé do coelho.
Pecadora língua da má mulher
casada com um homem velho.
Averno de Satã e Belzebu,
fogo dos cadáveres ardentes,
corpos mutilados dos indecentes,
peidos dos infernais cus,
mugido do mar embravecido.
Barriga inútil da mulher solteira,
falar dos gatos que andam à janeira,
guedelha porca da cabra mal parida.
Com este fole
levantarei as chamas deste fogo
que assemelha o do Inferno,
e fugirão as bruxas a cavalo das suas vassoiras,
indo se banhar na praia das areias gordas.
Ouvi, ouvi! os rugidos que dão
as que não podem deixar de se queimar
na aguardente
ficando assim purificadas.
E quando esta beberagem baixe pelas nossas goelas,
ficaremos livres dos males da nossa alma
e de feitiço todo.
Forças do ar, terra, mar e fogo,
a vós faço esta chamada:
se é verdade que tendes mais poder
que a humanas pessoas,
aqui e agora,
fazei que os espíritos dos amigos que estão fora,
participem connosco desta Queimada.
Foto Blog do Altino
Os ex-donos do Solar
No verão passado decorreu mais um momento cultural na nossa aldeia, com o lançamento do livro “Memórias do Arco-da-velha”. Durante a cerimónia ocorreram várias representações, sendo uma delas efectuada pelos apresentadores, eu próprio e a Albertina Ferrador.
Este texto da minha autoria, recria um diálogo entre os últimos habitantes do solar, precisamente o Doutor José Maria Montalvão e sua mulher, conhecida na aldeia por Don’ Ana. Para quem não assistiu à cerimónia, eis o texto do diálogo.
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Doutor - Mas o que é que se está passar no solar! Don ’Ana?
Don ’Ana - José meu amado esposo, parece que vai haver uma festa!
Doutor - Uma festa no solar? A que propósito! Enquanto aqui vivemos, nunca houve festas para o povo, eles só vinham cá mas de chapéu na mão, para me pedir algo. Que lhes emprestasse dinheiro a juros, que lhes arrendasse uma terra, ou lhes perdoasse o arrendo, porque a geada não lhes deixara palha nem grão, uns pedinchões, era o que eles eram.
Don ‘Ana – Coitados! eram tempos muito difíceis José, sobretudo para aqueles, que viviam só do que a terra dava.
Doutor – Sim! Sim! As festas nesta casa eram só no verão e no Natal, quando os nossos filhos e netos vinham de Lisboa, e nós reuníamos aqui, toda a família.
Don ‘Ana - Pois lembro-me de uma festa que demos no pátio grande, onde esteve o povo todo, e até tocou o gaiteiro!
Doutor - Oh! Oh! Oh! Oh! Uma festa para a populaça, aqui no solar! E com o gaiteiro!
Don ‘Ana – Sim, sim José! Não te recordas? Foi quando a minha amiga, Maria de Lurdes Fragoso Carmona, e o seu marido, o Marechal Óscar Carmona que, era o Presidente da República, vieram à nossa casa!
Doutor - Ah pois foi, o gaiteiro até tocou o hino nacional ao Carmona! Nem sei como o encarrilharam. Eu e o senhor meu pai é que nunca morremos de amores pela República! por isso não me lembrava. Mas acabou cedo a festa, recordo-me que durante o baile, alguém apalpou o traseiro a uma moçoila, que dançava com o pai, gerou-se tal reboliço, que mandei por todo o mundo fora. Aliás, é o que vou fazer agora. Vou dar ordens ao Zé Mouco, para expulsar toda a populaça.
Don ’Ana - Deixa lá José! Olha que estão aqui pessoas importantes, o senhor Presidente da Câmara e outras pessoas ilustres, vai haver aqui o lançamento de um livro, e tu sempre gostastes de livros, lembras-te da tua famosa biblioteca?
Doutor - Oh! Se me lembro, espero que esteja em boas mãos. Os livros são uma óptima companhia, porque estimulam a nossa capacidade imaginária.
Don ‘Ana - Pois parece-me que, o tema do livro que vai ser apresentado, é precisamente sobre o Fantástico e o Imaginário, de coisas passadas nesta terra. Além disso, vão acontecer aqui outros motivos de interesse.
Doutor – Motivos de Interesse! Não me faças rir, mas que motivo de interesse pode ter esta gente?
Don ‘Ana – Vão ser ditos discursos, espero que não sejam tão longos, como os sermões do senhor teu pai, o Dr. Liberal. Canto lírico, uma coisa que já havia no nosso tempo, ao qual José, tu nunca me levaste a ouvir. E ainda, a representação do 2.º Acto do Ramo, a esse creio que assistimos uma vez, no largo do tanque.
Doutor – Cantorias, homessa! Não bastava ouvires a cantoria das criadas, durante a lide da casa, e olha que algumas, até cantavam bem, oh se cantavam. E tinham até outros atributos, bem melhores.
Don ’Ana – Sim desses atributos das criadas, é melhor nem falarmos. Mas no fim da festa vai haver uma coisa que, foi sempre a tua perdição, aguardente e esta é especial, porque vai ser esconjurada, assim como umas coisas doces, feitas por mãos de fada.
Doutor - Ah bom! Se vai haver aguardente e doçaria, então, que se faça a festa, porque nós cá voltaremos para a sua degustação. Ainda quero ver se essa aguardente, é tão boa como aquela que eu fazia.
As atenções do mundo católico centraram-se ontem, entre as 18 e as 19 horas numa das janelas do palácio do Vaticano, para conhecerem o novo papa, recém eleito pelo conclave dos cardeais, ou segundo o dogma, escolhido pelo Espirito Santo.
Quer fossem os cardeais ou o Espirito Santo, escolheram um papa fora da Europa, interrompendo uma prática com mais de 1200 anos. O papa eleito o cardeal José Mário Bergoglio, argentino de nascimento, mas filho de pais italianos.
O novo papa adoptou o nome de Francisco, curiosamente o primeiro com este nome, pese embora seja um nome santo, lembremo-nos de S. Francisco Xavier ou de S. Francisco de Assis.
O acontecimento originou uma série de debates, em todos os canais televisivos, tecendo-se as mais diversas teorias, sobre a personalidade do novo papa, um ex-jesuíta, uma corrente religiosa nem sempre bem vista, quer aos olhos dos políticos como da própria igreja.
Apesar do meu estatuto de pouco praticante e pouco preocupado com a eleição do papa, tenho para mim que, a acção mais importante do seu papado, deveria ser a convocação de um Concílio, o qual já não se realiza desde a década de sessenta, com o Vaticano II.
Nesse Concílio deveriam fazer como que, uma espécie de revisão da constituição canónica, aproximando mais a igreja da modernidade dos nossos dias, no tocante ao celibato dos padres a intervenção activa das mulheres e em tantas outras práticas, muitas delas já ultrapassadas. Talvez essas medidas ajudasse a estancar a sangria que a igreja católica tem neste momento para outros movimentos, nomeadamente os evangélicos, quer na América Latina como em Portugal.
Aguardemos pois com serenidade o desempenho do novo papa, cujas referências são as de uma figura implicada com as desigualdades sociais, e desprendida dos bens materiais ao ponto de enquanto arcebispo de Buenos Aires, viver num simples apartamento e se deslocar em transportes públicos.
Curioso é ver a Praça de S. Pedro na televisão e ao vivo, a percepção quanto ao seu tamanho, é totalmente diferente. Ao vivo torna-se bem mais pequena, do que nos parece na televisão, uma sensação igual passa-se com o hemiciclo da Assembleia da República, que também nos parece bem mais pequeno ao vivo, do que na televisão, daí o ditado "as aparências iludem".