Passam hoje 39 anos sobre o dia em que, os capitães de Abril instauraram no nosso país a democracia, em cujos princípios programáticos tinham a implementação dos três Dês. Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. O D do Desenvolvimento, foi aquele que ficou mais incompleto, porquanto, Portugal não atingiu esse desiderato na sua plenitude. É notório o atraso que em muitas áreas ainda preserva, nomeadamente a económica, para a generalidade dos países, seus parceiros na Europa.
Infelizmente essa falta de desenvolvimento, não é visível apenas na relação com os outros países europeus, porque dentro do próprio país, existem muitas assimetrias. Aliás os jornais de hoje anunciavam que os distritos de Bragança e Vila Real, ambos integrados na província de Trás-os-Montes, perderam nestes últimos 10 anos, mais de 30.000 habitantes.
Destes 30.000 transmontanos uns deslocaram-se para o litoral, outros emigraram para fora do país. Por essa razão continua a justificar-se a comemoração do 25 de Abril, cuja matriz é a liberdade, igualdade e fraternidade. Este ano porque não estou em Lisboa, não vou descer a avenida da liberdade, um ritual que faço há 39 anos, mas o meu espírito está lá, por isso aqui fica a minha homenagem ao 25 de Abril, neste belo poema do Ary dos Santos .
“Portugal Ressuscitado”
Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.
Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Vi nas bocas, vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.
Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.
Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.
José Carlos Ary dos Santos
(Caxias, 26 de Abril de 1974)