Outeiro Secano em Lisboa

Outubro 01 2013

Ai, há quantos anos que eu parti chorando 
deste meu saudoso, carinhoso lar!... 
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!... 
Minha velha ama, que me estás fitando, 
canta-me cantigas para me eu lembrar!...


Esta quadra extraída de um belo poema do poeta transmontano, Guerra Junqueiro, reporta-me ao dia 30 de Setembro de 1973, o dia em que perfez quarenta anos, que eu deixei pela primeira vez a casa da minha família e a minha aldeia, rumo a Lisboa.

Apesar de ser um desejo, alimentado durante toda a minha adolescência, relembro com um grande sentimento nostálgico o momento em que desci as escadas da casa dos meus pais, com todos os meus haveres dentro de um saco de viagem, e a minha família na varanda acenando um adeus, como se eu partisse para a guerra.

Não estava toda a família, faltava o meu pai que saíra bem cedo de casa, só para não viver esse momento da despedida, porque apesar dos seus quase 100 quilos de peso, era um sentimentalão e disso tive a oportunidade de o constatar anos mais tarde.

Porém, eu ia com o coração cheio de esperança de ir conquistar o mundo, desde logo não ia sozinho, no táxi estacionado no fundo da escada da igreja esperava-me o Sr. Manuel Benedito que seria o meu guia, ele que muitos anos antes, vivera a mesma experiência.

O táxi trouxe-nos à estação onde apanhamos o velho Texas, fazendo depois toda a viagem de comboio até Lisboa, onde na estação de Santa Apolónia, nos esperava o Joaquim Ferrador.

Em Lisboa fui acolhido por uma outra família, embora não de sangue, mas de coração, a família Ferrador, com a qual tenho uma enorme dívida de gratidão.

Graças à ação do Joaquim Ferrador, comecei logo a trabalhar no dia 2 de Outubro de 1973, completando amanhã quarenta anos de contribuinte, para o sistema contributivo da Segurança Social. Face às regras que vigoravam até há pouco tempo, a partir de amanhã eu poderia entrar na situação de reformado, porquanto teria cumprido a minha parte de contribuinte.

Infelizmente as regras alteram-se consoante a vontade dos governos, e as expectativas de vida das pessoas, são agora, viver um dia de cada vez, tal é a incerteza quanto ao futuro. Agora parece que terei de trabalhar ainda mais sete anos, contribuindo assim com 47 anos de descontos para a Segurança Social.  Ora conhecendo quem se reformou aos trinta e quarenta anos, apenas porque fez dois mandatos na Assembleia da República, ou um mandato no Tribunal Constitucional, claro que não fico satisfeito. 

 

 

publicado por Nuno Santos às 09:24

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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