Embora muitas pessoas das minhas relações, já tenham nascido após o 25 de Abril de 1974, a frase “Onde estava você no 25 de abril?” certamente que não lhes é estranha.
Não saberão por certo é qual a sua origem. Á frase foi o título de uma série de dezasseis entrevistas, realizadas pelo jornalista e escritor Baptista-Bastos a outras tantas personalidades na década de noventa, para o jornal Público.
Mais tarde o Herman José celebrizou-a num dos seus programas humorísticos, o Herman Enciclopédia, fazendo uma caricatura do próprio Baptista-Bastos.
A mim se me fizessem essa pergunta – Onde estava você no 25 de Abril? Diria que, estava a poucas centenas de metros do largo do Carmo, onde se desenrolaram os acontecimentos de maior relevância, nesse dia.
Pois foi no quartel do Carmo onde se refugiaram os líderes do governo do antigo regime, e onde se fez a transição do poder, de Marcelo Caetano para o general Spínola, porque segundo o primeiro, o poder não podia cair na rua. Curiosamente e 40 anos depois os militares vão voltar ao Carmo, para aí celebrarem o 25 de Abril, porque precisamente os partidos que nasceram depois do 25 de Abril, não permitiram que eles falassem na casa da democracia que, eles ajudaram a construir.
No 25 de Abril de 1974 eu tinha apenas 19 anos, feitos havia apenas nove dias, e embora já tivesse lido alguma leitura subversiva como, “O Socialismo e a Religião” de Lenine, um livro que me tinha sido emprestado mas nunca devolvi ao proprietário, porque a minha mãe o queimou, soube-o só muitos anos depois, ainda não tinha uma grande consciência política, embora me preocupasse a questão da tropa e da guerra, e não raras vezes sonhasse com isso.
Esse dia era uma quinta-feira eu que tinha vindo para Lisboa em 30 de Setembro de 1973, vivia no Bairro Angola – Camarate, ao lado do aeroporto, com a família Ferrador, de quem era colega de trabalho. Como habitualmente saímos do bairro por volta das oito horas da manhã, no Austin 850 do Joaquim, rumo à Praça da Alegria, onde ele habitualmente estacionava o carro.
Sabíamos que algo de extraordinário se passara, o trânsito era menor do que o habitual e o rádio só passasse música clássica, porém lá entramos no escritório, situado da Rua das Pretas n.º 26 – 2.º andar, porque estávamos obrigados a picar o relógio de ponto, antes das nove horas.
Aí pelas 10 horas o nosso patrão José Luís Lopes Marques seguindo as instruções divulgadas pela rádio, mandou-nos a todos para casa, e como no dia seguinte era sexta-feira deu-nos ponte.
Ora, como eu morava fora de Lisboa e os transportes não funcionaram durante esses dois dias, fiquei impedido de me deslocar para a baixa, assistindo aos acontecimentos apenas pela rádio, passando a ouvir músicas de cantores anteriormente desconhecidos, como o Zé Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais e muitos outros.
Nos dias que se seguiram a avenida da Liberdade tornou-se num manisfetódromo, raro era o dia em que não havia uma manifestação, e como o nosso escritório virava para a avenida, vínhamos às varandas saudar os manifestantes.
Em Setembro desse ano, vim morar para Lisboa e para o Largo do Camões no Chiado, o qual se tornou como que, o centro nevrálgico da revolução. Foi por ali que passou uma boa parte dos acontecimentos do PREC, desde o boicote ao primeiro comício do CDS, depois à tomada da Rádio Renascença e do jornal República, a própria Intersindical instalou-se na rua Vitor Cordon.
Hoje dia 25 de Abril, quando se comemoram os quarenta anos, estamos em Amsterdão com o nosso filho, razão pela qual não vamos desfilar na avenida da liberdade, como tantas vezes o fizemos, ele ainda muito pequeno mas de cravo na mão, descia com grande felicidade a avenida.
Apesar da distância mas com a alegria de estarmos juntos, os três gritamos bem alto e em uníssono.
- 25 de Abri sempre! Fascismo nunca mais! 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais.