“Deixei-a num impulso aventureiro, e foi como eu próprio me roubasse. Nunca mais tive paz ou fui capaz de sonhar outro lar que me abrigasse”. Foi Miguel Torga quem escreveu isto em relação à sua terra, à qual chamava o reino de trás-os-montes onde regressava todos os anos e aproveitava para fazer termas em Chaves.
Também eu comungo desse sentimento, pese embora já tenha saído da minha terra há quarenta e um anos. E ainda que tenha a felicidade de conhecer muitas outras terras, algumas das quais onde tenho ligações muito fortes, em nenhuma delas me é tão penosa, a hora da despedida.
Porém da última vez que fui a Chaves vim de lá um pouco triste e frustrado, por causa da falta de expectativas futuras para a cidade, não sendo visíveis grandes medidas estruturantes, antes pelo contrário, a cidade parece ter caído numa inércia, recuando várias décadas atrás.
Uma das situações que mais me entristeceu e que também entristeceria o Torga, é o facto das termas provavelmente não abrirem este ano, com efeitos altamente nefastos não só para o prestígio da cidade, como para os resultados na economia local.
Tudo isto porque as obras que já deveriam ter terminado, continuam sem fim previsto. Ora a questão das obras intermináveis, são uma fatalidade no país, mas em particular na nossa região. Todos se recordarão dos anos que demorou a requalificação da estrada Chaves – Vidago, obrigando ao desvio do trânsito pelo Peto de Lagarelhos e Loivos.
Mais tarde foram as obras de requalificação da Escola Júlio Martins que nunca mais terminavam, obrigando os alunos e a classe docente a condições depauperáveis nos pavilhões pré-fabricados. Agora são as obras de ampliação do balneário das termas, e em todas elas, a culpa é sempre imputada aos empreiteiros, para não dizer que morre solteira.
Eu tenho muita dificuldade em entender estas situações, porquanto todos estes processos das obras, têm de ser claros e transparentes, com concursos públicos e depósitos de garantia, e em consonância com um caderno de encargos, elaborado pelo dono da obra.
Logo é o dono da obra quem define os prazos de entrega, assim como a fiscalização da execução da mesma. Além disso, a lei permite sanções para os incumprimentos, não se percebendo porque a Câmara não deita mão dessas premissas? E não existem no seu quadro técnico vários engenheiros que, possam fazer a avaliação no terreno, da execução e dos atrasos?
Todos sabemos que longe da vista longe do coração e se os aquistas que habitualmente vêm para Chaves, e neste ano vão ter de optar por outros locais, até porque a oferta de termalismo é fértil, podem criar habituação e não regressarem no futuro, perdendo com isso a cidade e a região.
Ora, quando parecia haver uma forte aposta da região no termalismo, a cidade de Chaves atrasa-se podendo perder o comboio do desenvolvimento nesta área, por isso, a quem pedimos responsabilidades?