Sem grande alarido mas com inteira justiça, assistimos ontem à transladação dos restos mortais de Sophia de Melo Breyner Andresen, para o Panteão Nacional, um local onde em minha opinião apenas devem estar os maiores e os mais notáveis, dando razão aos gregos criadores do panteão, para preservavam os diversos deuses.
Após a conversão ao monoteísmo passando a haver um único Deus, os panteões tornaram-se em mausoléus, onde se preservam aqueles, cuja obra em vida se tornou imortal. Embora no nosso panteão estejam algumas figuras e queiram lá colocar outras que, em meu entender não têm esse estatuto de dimensão nacional, a Sophia de Melo Breyner Andresen tal como Camões, Pessoa e mesmo José Saramago, deixou-nos uma obra, a qual será evocada através dos tempos, como este belo poema, a cantatata da paz, escrita ainda na década de sessenta quando o país e o mundo viviam tempos difíceis, mas que continua intemporal.
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D’África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado
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