Outeiro Secano em Lisboa

Julho 18 2014

 

Nas longas noites de verão, era costume realizarem-se no Jardim Público de Chaves as famosas verbenas, para a angariação de fundos. Umas vezes a receita era para o Desportivo, outras para entidades como os Bombeiros, ou até mesmo para as igrejas, como aconteceu com as grandes obras de requalificação efectuadas na igreja de Santa Maria Maior, ocorridas na década de sessenta.

A proximidade da nossa aldeia com a cidade, mais o facto da maioria dos jovens serem estudantes na cidade, familiarizava-os com este acontecimento, e nem o trabalho árduo a que eram sujeitos durante o dia, os impedia de à noite irem para a folia.

 Nessa altura não havia a mobilidade de agora, mas a pé ou de bicicleta aos sábados à noite quase sempre em grupo, lá iam os jovens para a cidade às verbenas. Eu próprio recordo-me de ter ouvido cantar o António Mourão ao vivo pela primeira vez, numa dessas verbenas do Jardim Público.

A ida era sempre apressada, para não chegarem atrasados ao espectáculo, mas a vinda era mais retardada, e por vezes até dava para se fazerem algumas malfeitorias pelo caminho, como aconteceu um dia quando um desses grupos passava pela quinta das Alminhas, propriedade do Sr. Afonso e da D. Marianinha, e alguém sugeriu irem às ameixas.

A proposta foi rejeitada pela maioria, primeiro porque ia contra os princípios de alguns, segundo por causa dos riscos da operação, dado que a ameixeira estava muito próxima da casa, em terceiro, porque os cães que guardavam a quinta, não tinham fama de serem muito dóceis.

Mas havia sempre um corajoso no grupo que, por liderança ou protagonismo, se aventurava nessa missão. E dessa vez como em muitas outras, foi o Miguel Jorge quem se prontificou em entrar na quinta e subir à ameixeira.

Já em cima da árvore e como não tinha onde guardar as ameixas, abriu os botões da camisa e toca de “meter para a blusa” como sói dizer-se. Acontece que as ameixas estavam muito maduras, tendo o Miguel ficado todo besuntado, como se tivesse barrado o corpo com compota de ameixa.

Valeu a existência de um poço na Crosseira dos Dias Ferreira, e àquela hora da madrugada não tiveram outro remédio, senão tocar a nora para que o Miguel se lavasse. Acabou por ser um feito inglório porque ninguém comeu as ameixas, pois ficaram todas amassadas.

publicado por Nuno Santos às 13:25

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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