Sem dúvida que somos um país com uma enorme falta de pragmatismo, e a nossa história está cheia de episódios de avanços e recuos. Já no século XVI, Camões retractava isso nos Lusíadas, quando os marinheiros já içavam as velas para a largada, lá estava o velho do Restelo à frente de uma enorme multidão, contestando essa partida.
Vem isto a propósito da propalada construção de um novo aeroporto, como alternativa ao aeroporto da Portela. De salientar que a primeira ideia para a construção de um novo aeroporto, foi lançada (vejam bem) em 1969, logo no segundo ano de mandato de Marcelo Caetano, era ministro das Obras Públicas o Eng.º Rui Sanches, o mesmo que anos antes como engenheiro hidráulico, tinha sido o responsável pela construção do canal de irrigação da veiga de Chaves.
Falamos do novo aeroporto, mas poderíamos falar da Barragem do Alqueva, do porto de Sines, do TGV e de muitos outros projectos estruturantes para o país, nos quais se gastou dinheiro público em projectos, para ficarem depois guardados nas gavetas. Destes avançou-se muitos anos depois com a Barragem do Alqueva, vendo-se agora, o quanto se perdeu com esse atraso.
O novo aeroporto já esteve planeado primeiro para o Rio Frio, depois para a OTA, depois para Alcochete e agora, apesar de se dizer que a partir de 2017 o actual atinge o seu ponto de rutura, está planeado para lado nenhum.
Ao mesmo tempo a nossa vizinha Espanha, apesar de ter vários aeroportos internacionais, continua a aumentar o seu aeroporto de Barajas, em Madrid, e neste momento, várias companhias de aviação já estão a desvalorizar o aeroporto da Portela, de tal forma que, tem de se ir a Madrid fazer a ligação, para voar para alguns destinos, sobretudo da América do Sul, com a excepção dos voos para o Brasil porquanto, a TAP, ainda opera directamente para este país.
Para ilustrar melhor esta situação eis um episódio testemunhado por mim. A Nucase empresa onde trabalho, realiza todos os meses na sua sede em Carcavelos, uma sessão de trabalho para os seus supervisores, com um técnico de impostos residente na Maia - Porto. Como resido em Lisboa, acabo por ser o seu transfer, quer para o hotel se ele ficar para outras sessões no dia seguinte, quer para o aeroporto se regressa a casa nesse dia. Há dias íamos nós em plena A 5 com destino ao aeroporto, quando o nosso formador recebeu uma mensagem da TAP, informando-o de que se quisesse voar para Madrid, apanhava lá um avião para o Porto, chegando a casa meia hora mais cedo do que no voo planeado Lisboa-Porto.
Este é um exemplo paradigmático de que o nosso aeroporto, está a tornar-se cada vez mais periférico e se antes ainda se podia recorrer aos fundos comunitários, para construir o novo aeroporto, com o alargamento da união e a repartição cada vez maior desses fundos, as dificuldades para a construção aumentam, ficando o actual aeroporto cada vez mais precário e mais secundarizado e periférico, além de que as empresas de construção têm de procurar trabalhos noutras latitudes, tal como muitos dos técnicos e operários.
O mais grave é que apesar de todos estes condicionamentos ao investimento, a dívida pública não para de aumentar, alguém explica isto?