Outeiro Secano em Lisboa

Agosto 08 2014
Capela do São Caetano

Aí vou eu de férias,

aí vou p'ró norte,

as necessidade de descanso já são sérias

e as saudade batem forte.

Chegou hoje finalmente! o dia das minhas desejadas férias, isto porque vá lá saber-se porquê, o único lugar onde me sinto verdadeiramente de férias, é na minha terra, onde consigo desligar dos constrangimentos do meu quotidiano, da conjuntura económica do país, da situação política, e onde a televisão serve apenas para ver os jogos de futebol quando joga o meu clube.

Houve um tempo que quando eu estava em Chaves, até me esquecia de que tinha um emprego e uma casa em Lisboa, apesar de ser onde ganho o meu sustento económico, mas tudo isso era arquivado de tal forma na minha mente, que, só dois ou três dias antes do final das férias e do consequente regresso a Lisboa, essa realidade regressava lenta mas penosamente. Essa faceta já me passou talvez porque os períodos de férias já não sejam tão prolongados, mas também porque o encantamento com a terra já não seja tanto.

No entanto todos os anos, vou sempre com enormes expectativas e objectivos para realizar, durante as férias, mas infelizmente as férias chegam ao fim, sem que a maioria dessas expectativas e objectivos se concretizem. Entre outras estão visitas a locais de interesse turístico como; Pitões embora já lá estivesse uma vez, mas há muitos anos, a Tourém onde nunca fui e muitos outros locais que, todos os anos vão sendo projectos adiados.

No planeamento para as férias deste ano está uma ida ao São Caetano, mas no próprio dia da festa, não tanto por devoção ao santo, mas para poder cumprir um ritual dos meus sogros e da minha mãe, porque durante anos sempre o fizeram, e agora estão dependentes da nossa vontade de os lá levarmos.

O I Encontro da família Rodrigues Afonso, a realizar no dia 16 de Agosto, que será para mim, o ponto mais alto das minhas férias, não tanto pelo convívio familiar porque esse é frequente e recorrente, mas pela homenagem que iremos prestar à memória do nosso avô Eurico Rodrigues Afonso, uma figura que, pelos seus feitos em prole da aldeia, merecia em meu entender um maior destaque e reconhecimento dos seus conterrâneos.

Com sempre haverá uma escapadinha à Galiza, não para comprar os caramelos no Felecindo, mas para mostrar as cidades de Lugo e de Corunha ao meu filho e à minha nora, que ainda não conhecem.

E prontos! é este o meu plano das férias, as quais como sempre saberão a pouco, isto porque no dia 25 de agosto já estarei de novo no activo, a fazer os planos para um segundo período de mais uma semana em setembro, para poder assistir à festa da Sra da Azinheira.   

 

publicado por Nuno Santos às 07:37

Agosto 07 2014

 

Esta vida de contabilista está a dar cabo de nós, pois já não conseguimos tirar mais que duas semanas seguidas de férias, tais as obrigações declarativas a que estamos obrigados a cumprir durante o mês.

Antigamente o cumprimento dos prazos afunilavam praticamente entre os meses de Janeiro e Maio, de modo que dava para gozarmos as férias grandes. A partir de outubro faziam-se uns serões e trabalhavam-se uns sábados, e os  objectivos cumpriam-se.   

Agora com o aumento do processo burocrático, e as sucessivas cedências da nossa Ordem à AT Autoridade Tributária, quase não podemos gozar férias, e os poucos dias que gozamos, quase não dá, para desligarmos o chip.

Parece a parábola bíblica do mau pagador, onde o incumpridor pediu ao seu credor um adiamento do prazo para pagar a sua dívida, contudo, foi implacável com a dívida do seu devedor. Ora é precisamente isso que acontece com o nosso Estado, quando aplica elevadas coimas para quem não cumpre os prazos de entrega das declarações, ou faz pagamento dos impostos atempadamente, apesar do próprio Estado ser um mau exemploem matéria de pagamentos atempados.

Para quem não está familiarizado com a temática dos impostos, vejam só as obrigações declarativas  que os TOCs Tecnicos Oficiais de Contas têm de cumprir. Logo em Janeiro é o envio das declarações das remunerações auferidas pelos titulares, para serem  depois declaradas na Mod 10 até final de fevereiro. Segue-se o fluxo principal dos encerramentos das contas, porque durante os meses de abril e maio, têm de ser entregues  as decarações Mod. 3 para o IRS e das Mod. 22 para as sociedades, repetindo-se esta saga  até ao dia 15 de Julho, com o envio da IES.

Até ao dia 10 de cada mês  são as DPs, declarações periódicas do IVA mensal, e as DMR – Declaração Mensal de Rendimentos,  de três em três meses, são as DPs declarações periódicas do Iva, com o enquadramento trimestral, além de elaborar nos primeiros dias de cada mês, os reportes das contas do mês anterior para os clientes, alguns dos quais são reportes altamente específicos porquanto, são empresas multinacionais que, consolidam as contas com a casa mãe. Até ao dia 20 de cada mês é a entrega das retenções na fonte de IRS, de IRC do Imposto de Selo, mais o envio das Declarações Recapitulativas.

Entre o dia 20 e o dia 25 o envio ao Banco de Portugal das COPE - Comunicações das Operações e Posições com o Exterior e fazer a submissão à AT da Autoridade Tributária dos ficheiros SAFT, ou a comunicação da facturação do mês anterior. Para terminar no último dia de cada mês, ainda existe o IUC - Imposto Único de Circulação, para as viaturas cujo aniversário de matrícula ocorra nesse mês.

Perante este quadro, as férias têm de ser gozadas às “mijinhas” por isso eu digo que esta vida de contabilista está a dar cabo de nós. 

publicado por Nuno Santos às 07:18

Agosto 05 2014

 

 

Episódio IV

 

Quando a sede da Nucase ainda funcionava na Parede, o café Delícia mesmo ao lado, estava para o pessoal como agora o bar no rés do chão do novo edifício sede, em Carcavelos. Era no Delícia que se tomava o pequeno-almoço, o café a meio da manhã,  se comprava o tabaco,  se lanchava e se compravam os gelados, enfim, em qualquer hora do dia havia sempre algum trabalhador da Nucase no Delícia. De tal forma que o Sr. António Nunes, apesar de ser também ele um dos utentes, de vez em quando dizia que comprava o Delícia para o fechar no dia seguinte, só para por cobro ao desperdício de tempo do seu pessoal nesse café.

O seu proprietário era um jovem bancário, o qual só lá estava presente à noite e ao fim de semana, porque durante o dia, o serviço era assegurado por duas funcionárias, uma de nome Lena e outra Alcina.

A Lena era uma alentejana, solteira mas vivida, tinha uma paixão platónica pelo nosso colega João Paulo Mascarenhas, o qual devido à sua timidez nunca se aproveitou da fraqueza da Lena. A Alcina embora também fosse jovem, já era casada, mas um pouco simplória, por isso os mais maduros, não perdiam pitada para gozar com ela, e quando à hora do lanch se pedia uma sandwich à Alcina, esse pedido era feito de uma forma muito peculiar.

- Alcina! Uma sandes mista, com corte vaginal. Deste modo o pão tipo carcassa, em vez de ser cortado transversalmente, era cortado sobre o comprido.

Um dia sentado ao balcão estava um operário da construção que poucos conheciam, saboreando uma cerveja com goles curtos. Tinha a barba crescida e a roupa com indícios de tinta, como a maioria dos operários da construção civil.

Os primeiros que chegaram foram avisados em surdina, de quem era a personagem. Eis que mais tarde chega o Virgílio, e logo à entrada da porta, sem nos dar tempo para o avisarmos, disparou:

- Alcina! Quero uma sandes mista com corte vaginal e muita manteiga, para escorrer melhor.

 O cliente desconhecido que era o marido da Alcina, disse em voz alta e ameaçadora:

- Mas o que é isto! Tu não vês que estão a gozar contigo?

A pobre da Alcina ficou encolhida e sem saber o que dizer, mas pior ficou o Virgílio, porque se tivesse ali um buraco, por certo se tinha enfiado nele.

publicado por Nuno Santos às 07:40

Agosto 03 2014

Quando no post publicado no dia 19 de julho, referi o interesse que o achado dos frescos da capela da Senhora do Rosário tinham suscitado, junto na comunidade científica, após a visita do Sr. Prof. Vitor Serrão, membro do Instituto de História de Arte da Faculdade de Letras de Lisboa, jamais imaginei vir a ter acesso ao estudo que o próprio lhe dedicou, o qual com a devida vénia e autorização, publico neste blogue.

A certa altura da sua publicação, o Prof. Vitor Serrão sugere a propósito da existência de outros frescos noutras localidades,  a criação de um roteiro turístico na região, à semelhança de outras rotas como a da rota do românico, no Vale do Sousa. Oxalá os nossos autarcas tenham esse sentido estratégico, e que a nossa região depois do termalismo, ganhe mais um polo de atracção turística.

Eis o estudo do Prof. Vitor Serrão.

 

O ‘retábulo fingido’ a fresco da Capela de Nossa Senhora do Rosário em Outeiro Seco, Chaves.

 

Vitor Serrão

(Instituto de História da Arte – Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)

 

 

  1. A descoberta dos frescos.

 

Foi há poucas semanas descoberta numa capela em Outeiro Seco, concelho de Chaves, distrito de Vila Real, uma importante pintura quinhentista a fresco a recobrir a ousia. Trata-se de um programa integral de decoração historiada da parede fundeira da capela e que revela qualidades de pincel, dentro dos habituais modelos maneiristas então preferidos. A partir de data incerta do século XVIII, esse fresco foi tapado com cal e coberto por um retábulo de talha barroca, por razões de mudanças de gosto, e por esse motivo esteve invisível durante três séculos e só pôde ser redescoberto aquando da realização das recentes obras de restauro que decorrem no templinho.

De seguida a uma análise das fotografias e informações recebidas, pude visitar o imóvel (que vai ser alvo de intervenção a curto prazo) e estuda as pinturas de visu, analisando os estilemas, a técnica e o programa iconográfico, e sensibilizando proprietários e tutelas para a cabal salvaguarda da decoração fresquista.

Trata-se do que geralmente se chama um «retábulo fingido» executado a fresco, da responsabilidade de uma oficina regional de certo merecimento. O pintor, educado dentro dos cânones do Maneirismo contra-reformista, em momento situado dentro do final do século XVI oun início do XVII. Como é usual neste tipo de decorações, nesta região e época, a paleta cromática é pobre, com predomínio dos ocres, cinzentos, castanhos e, mais raros, os vermelhos; mas é de crer que tenha havido valores tonais acabados a têmpera sobre a superfície já seca, o que parece ser notório em algumas vestes e adereços, e que inevitavelmente se perderam com o tempo e com a aposição da obra de talha.

A Capela de Nossa Senhora do Rosário é um singelo templinho, sede de antiga confraria local, com origem quinhentista e estrutura tradicionalista, situada junto a uma ponte, no centro da povoação. Conserva no seu interior, além do fresco agora detectado, uma ara romana epigrafada, de alto interesse arqueológico, de há muito resguardada nesse espaço.

O retábulo fingido distribui-se em torno de um nicho central (onde se abrigava outrora uma imagem da titular, acaso em pedra, já desaparecida), decorado com uma pintura a simular fino brocado, e mede no seu conjunto 2m37 de altura total (3m30, incluindo o altar pétreo) e 3m50 de largura. Inclui quatro «histórias» pintadas, duas de cada lado do nicho central, medindo cada uma 72 x 72 cm, com arquitecturas simuladas que se prolongam para os extremos da ousia, com colunas e pilastras visionadas em cenográfica perspectiva, a revelar ciência compositiva por parte do artista envolvido. No solo, existe uma lápide infelizmente ilegível que deve corresponder ao instituidor da Capela.

Sob o nicho, corre uma inscrição votiva, a fresco, que parece corresponder a um testemunho gratulatório de intercessão, com um texto latino que pode ser assim reconstituível, com as falhas e as zonas ainda cobertas de reboco hodierno:

[VIRGO PR]IVS AC POSTERIVS INTERCEDE PRO ME, [AD / APVD] I[ES]VM XR[IS]TVM ET CONSERVA DO[MVM] [QVAM IN LAV]DEM NOMINIS TVI [INSTRUXIMVS] / [ou CONSTRVXIMVS], [ou FECIMVS]/ [ou EREXIMVS], ou seja: Virgem antes e depois [do parto] intercede por mim, junto de Jesus Cristo, e conserva a casa que em louvor do Teu Nome construímos».

As cenas representadas revelam, tanto quanto se pode visualizar no estado débil em que o fresco se encontra, um ciclo de milagres do Rosário, de louvor à Senhora do Rosário e, ao que parece, testemunho gratulatório pela construção desta capela, tal como já se deduz da inscrição acima transcrita. Tudo indicava, assim, que se tratasse de uma espécie de devoção localizada em torno do culto do Rosário, fruto de acontecimento que foi sentido como relevante no contexto desta comunidade a ponto de justificar a construção desta capela.

A primeira «cena», à esquerda do nicho em cima, mostra o Arcanjo São Miguel com uma balança onde se vêem rosários, uma senhora apontando para o céu e, em cima, dois anjinhos que transportam uma alma de criança; a segunda, sob a anterior, mostra um orante de barbas, genuflexionado e com rosário nas mãos, junto ao que parece ser uma capela; do lado direito, em cima, vemos um viajante de joelhos, com o chapéu no solo, orando junto a uma singela capela de estrada em cujo altar se vê a imagem de Nossa Senhora do Rosário, cujo Menino está a entregar ao orante uma espécie de pergaminho; enfim, a quarta «cena», abaixo da anterior, decorre dentro do que parece ser uma capela em construção, com andaimes e muros semi-erguidos, vendo-se dois dominicanos a orar junto a uma esteira onde jaz uma senhora idosa, com rosário ao peito, que aponta para cima, indicando um halo luminoso onde lhe surge a Virgem Maria, coroada, acompanhada por cinco damas ataviadas a rigor.

Tudo parece indicar assim, numa breve análise formal do que pode ser visível, a existência de um programa iconográfico preciso, familiar para quem frequentava a capela nas suas primícias, e destacando o valor hierofânico do sítio onde, por razão de algum surto visionário, se veio a erguer esta capela do Rosário. É pena que o sempre tão bem informado Frei Agostinho de Santa Maria, no famoso ‘Santuário Mariano’, publicado no início do século XVIII, não refira nenhum caso afim entre os milagres marianos que enumera no tomo dedicado a terras transmontanas, embora outras fontes mais antigas de literatura devocional tridentina tenham permitido, felizmente, uma identificação exacta daquilo que foi representado nos frescos.

 

 

 

  1. O ‘retábulo fingido’ e o livro de ‘milagres’ do Padre João Rebelo.

 

Todavia, é possível referenciar a fonte utilizada… A resposta pode ser dada com precisão absoluta. O historiador de arte Jaelson Bitran Trindade referenciou-nos a existência de um livro beato, a Historia dos milagres do Rosario da Virgem Nossa Senhora, da autoria do padre jesuíta João Rebelo (1541-1602) e nesse livro constam as «histórias» pintadas. Se foi essa a directa fonte inspiradora da confraria ou se essas «histórias do Rosário» já corriam de viva voz em círculos devocionais, é coisa que ainda não sabemos. Já o padre Nicolau Dias, no Livro do Rosario de Nossa Senhora (Évora, 1573), obra sucessivamente reeditada, alude a vários milagrs do Rosário.

Tratou-se, o livro de João Rebelo, de uma obra muito popularizada em Portugal no tempo dos Filipes, onde se descrevem «milagres da Senhora» que guardam máxima proximidade com as pinturas de Outeiro Seco ! A primeira edição é de Évora, 1602, a segunda de Lisboa, 1608, houve outra em 1614, em 1617 saíu nova edição em Lisboa por Pedro Crasbeeck, e houve outras em 1629 e 1639.

Livro muito popular, portanto, narra factos similares como, por exemplo, a história de dois frades que, guiados pela Virgem, acabam por assistir, em oração, à morte de uma devota do Rosário, deitada num leito modesto, com travesseiro de palha, e têm a visão da Rainha dos Anjos com santas e anjos. Mais adiante, a par de recomendações que o devoto ore pelos caminhos, diante de um cruzeiro à Virgem do Rosário, há um caminhante que esconde um pecado, mas vem do céu até ele um papel trazendo escrito o pecado que havia escondido. Noutro trecho do livro, aparece São Miguel Arcanjo com o Rosário numa das balanças (a das boas obras): trata-se da história da graça alcançada por um onzeneiro italiano, usurário de nome Jacobo, em Itália, que «entre todos os seus males, tinha um só bem», que era o de orar sempre pelo Rosário e sempre trazer um com ele, no que fora convencido pelo próprio Padre São Domingos. Na hora da morte, esse usurário Jacobo viu São Miguel, «o qual punha em uma balança todos os males & pecados, os quais pesavam muito mais do que todos os bens. Estando ele muito triste por isto, viu como a Virgem gloriosa (...) advogada dos pecadores, e de seus devotos punha um Rosário sobre suas boas obras, com o qual seus bens pesaram muito mais, que todos seus males, e pecados».

Ora são precisamente estas as cenas representadas no fresco de Outeiro Seco !

 

 

  1. Valia dos frescos e filiação oficinal.

 

Como noticiou uma discreta nota de imprensa local (em reportagem à data do achado), durante uma obra realizada no templo, tendo-se procedido à desmontagem do retábulo de talha dourada, apareceram estas pinturas murais, ainda em estado de conservação apreciável.

Embora não sejam atribuíveis ao século XV, como aí se noticia, nem tenham relação estilística com os frescos da próxima igreja de Nossa Senhora da Azinheira (que estão vinculados, sim, a campanhas manuelino-joaninas), é certo que têm valia para a História da Arte portuguesa, contando-se entre a abundante produção fresquista realizada no fim do século XVI e inícios do XVII, sob influência do Concílio de Trento, nas igrejas e capelas de todo o Noroeste peninsular, por artistas oriundos de Braga, de Viana do Castelo ou de Santiago de Compostela, de que se vão conhecendo os nomes e os passos.

É imperioso que a pintura seja de imediato estabilizada e se proceda a intervenção de restauro e salvaguarda. Mais uma vez se atesta como o património artístico nacional é ainda algo de riquíssimo, apesar de tanta incúria e falta de medidas cautelares. Nos últimos anos, de facto, começam a ser descobertas de modo sistemático mais riquezas artísticas desta modalidade absolutamente ignoradas, como é o caso, e a merecerem cuidados especializados de preservação. Estes frescos devem ser intervencionados e salvos, sendo como são pinturas maneiristas de mérito, e porque a obra de talha pode ser remontada noutro espaço da capela sem prejuízo de deixar à vista os frescos da parede fundeira.

É possível que estes frescos de Outeiro Seco, cuja execução data do fim do século XVI ou início do XVII, num tempo de grande influência das normas da Contra-Reforma católica, possam pertencer a artistas vianenses. Trabalhavam em Chaves, nessa altura, o pintor Tristão Correia (oriundo de Coimbra), mas os frescos que pintou na capela da Madalena em Santa Valha (assinados e datados de 1555) são de estilo diverso. O mesmo se aplica aos nomes de Pedro de França (de Vila Real), que deixou obra de cavalete em Murça (1564). De um Francisco Feijó, activo em Chaves e Alariz em 1602, desconhecem-se obras identificáveis, mas a sua actividade corresponde ao período em que estes frescos foram executados. Com o ciclo de pinturas da oficina e seguidores de Francisco de Padilha, mestre de Viana do Castelo e Braga, activo depois no vale de Vilariça, e Bento de Padilha, seu filho, parece haver pontos de contacto estilístico, mas é ainda prematuro estabelecer pareceres a respeito de presumidas autorias.

Existe apenas uma certeza, a qualidade destes frescos (de razoável desenho e bom sentido da cenografia, apesar das suas limitações cromáticas), e as similitudes de estilo com outro fresco existente na próxima igreja de Sanjurge, que representa precisamente Nossa Senhora do Rosário e se deverá ao mesmo pincel.

Estamos numa época e em contextos comunitários provinciais em que o valor da intercessão divina através das «imagens sacras» atingia um poder inusitado, com especiais valências antropológicas sobre o saber e o crer das comunidades de fronteira. Várias pinturas a fresco, como o «retábulo fingido» da Capela de Nossa Senhora das Neves em Vilar de Perdizes (datadas de 1571 e de mérito superior a estas), traduzem esse surto devocional em imagens, tão importantes para o reforço das vivências comunitárias à luz dos cânones tridentinos. No meu livro «André de Padilha e a pintura quinhentista entre o Minho e a Galiza» (ed. Estampa 1998), refiro alguns desses artistas e oficinas de Viana, Braga, Guimarães e Chaves, itinerantes em terras do Noroeste galaico-português durante a segunda metade do século XVI e o início do XVII, que pintavam tanto a óleo como a fresco. A Joaquim Inácio Caetano, no livro «O Marão e como Oficinas de Pintura Mural Nos Séculos XV e XVI» (ed.Aparição, 2001), se deve o estudo sistemático do fresco na zona transmontana, com novos resultados de existências.

Vários núcleos de pintura mural se descobriram e salvaguardaram, entretanto, em igrejas e capelas das zonas nordestina e transmontana, o que permite documentar alguma coisa sobre o comportamento artístico destes mercados regionais, as qualidades específicas das oficinas de actuantes nestas zonas (nem sempre de bitola secundária) e o tipo de programas devocionais que realizavam (por vezes muito complexos e com substrato literário). Neste caso, a confraria do Rosário de Outeiro Seco conhecia o livro Historia dos milagres do Rosario da Virgem Nossa Senhora, do padre jesuíta João Rebelo (1602), ou pelo menos o eco das histórias devocionais que esse livro de autor jesuítico viria a fixar, e foram quatro das histórias aí narradas que serviram para o programa iconográfico afrescado, como fica cabalmente demonstrado.

A descoberta destes murais de Outeiro Seco vem oferecer a este panorama do património histórico-artístico mais um elemento de estudo e, quem sabe ?, permitir que no concelho de Chaves se venha a criar uma rota turístico-cultural de valorização dos frescos quinhentistas que ainda existem em templos como este e que precisam de ser bem preservados e amplamente divulgados.

 

N: Agradeço ao senhor Rui Araújo (empresa Capitellum) e ao senhor Padre José Banha, prior de São Miguel de Outeiro Seco, pela informação de descoberta; ao senhor Alberto Pipa, da comissão fabriqueira, pelo apoio no estudo preliminar; ao Prof. Doutor Arnaldo Espírito Santo, pela leitura da legenda e interpretação das zonas omissas ou ainda ocultas; ao historiador de arte Jaelson Bitran Trindade, pelas pertinentes reflexões e contributos fundamentais de âmbito iconográfico; e ao conservador-restaurador Doutor Joaquim Inácio Caetano, pelas informações recebidas sobre pintura mural transmontana. 

 

publicado por Nuno Santos às 22:17

Agosto 02 2014

Sobre o lema de “Tu és a nossa fé”, o Sporting apresentou-se ontem pela primeira vez aos seus associados no seu estádio, para disputar o “troféu os 5 violinos”, e do qual saiu vencedor pela terceira vez consecutiva, ainda que desta vez tivesse de ser no desempate por penaltis.

A equipa adversária foi a Lázio de Roma, presumo que ainda para acerto de contas pela venda do ex-nosso jogador Pereirinha. Apesar da data escolhida ter sido uma sexta feira e o dia 1 de Agosto, dia em que muita gente iniciou as suas férias, ainda houve muitos sportinguistas que mostraram a sua fé na equipa, pois estivemos em Alvalade 31.523 espectadores.

Pena foi que muita gente chegasse apenas em cima da hora do jogo, não assistindo por isso à apresentação individual da equipa. Foi uma apresentação sem pompa e circunstância, nem surpresas quanto à apresentação de novos jogadores. Porém e após a deserção do Eric Dier, ficamos todos a torcer para que não saia mais nenhum jogador. Quanto às entradas, só se for alguém que acrescente valor à equipa, porque de resto o Sporting tem já um lote de jogadores suficiente para atacar todos os desafios que tem nesta época desportiva, e que vai ser bem mais exigente do que a época passada. Mas com Esforço, Dedicação, Devoção atinge-se a Glória e é isso que todos os sportinguistas anseiam e acreditam. Força Sporting!

publicado por Nuno Santos às 07:18

Agosto 01 2014

Hoje é aniversariante a minha mãe Esmeralda Rodrigues Afonso completando oitenta e um anos, vividos como os da generalidade das pessoas com muitos momentos altos e baixos. Este ano não nos é possível estar presente fisicamente, mas aqui fica publicamente o nosso apreço, e o desejo de que esta data se repita por muitos mais anos, com muita saúde.

Parabéns e muitas felicidades são o desejo do seu filho e nora, e por certo associados com muitas outras pessoas que gostam muito de si.

publicado por Nuno Santos às 07:58

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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