
O nome da família Espirito Santo tem estado ultimamente muito em voga, pelas razões que todos conhecemos. Ora, como o universo dos clientes da Nucase se compõe por empresas de multi actividades e várias dimensões, desde Microempresas, a PMES e até a Grandes Empresas, neste trinta e seis anos de actividade, temos assistido à ascensão e queda muitos grupos, entre os quais, o grupo Cardoso de Oliveira, muito próximo da família Espírito Santo, chegando a figurar no grupo dos dez homens mais ricos de Portugal.
António Cardoso de Oliveira era natural da zona de Viseu, mas na década de trinta emigrou para França, onde casou com uma jovem francesa, oriunda de uma família muito rica.
Ocasionalmente cruzou-se um dia em Paris, com o banqueiro Ricardo Espírito Santo, a quem prestou um favor, tornando-se desde aí amigos e mais tarde compadres. Uma certa ocasião o banqueiro numa visita a Paris, convidou os compadres a visitarem Portugal.
O convite teve acolhimento e a D. Françoise, mulher de António Cardoso de Oliveira, ficou encantada com Portugal, em especial com a zona de Cascais, pedindo-lhe para ali construir uma casa.
Querendo ser agradável à mulher, Cardoso de Oliveira cumpriu-lhe a vontade, porque assim ele próprio, passava a ter razões para vir matar saudades do seu país. Comprou então uma quinta na zona de Cascais, onde construiu uma casa. Na fase da construção da casa, Cardoso de Oliveira teve necessidade de ir à Fundição de Oeiras, a fim de comprar uns perfis de ferro.
A Fundição de Oeiras era uma empresa, cuja fundação remontava ao século XIX, empregando nessa época cerca de 60 funcionários. Perante as dificuldades surgidas na entrega do produto, Cardoso de Oliveira que era um homem muito pragmático, decidiu comprar a própria empresa.
Comprou-a e dinamizou-a ao ponto que, sob a sua administração entre as décadas de cinquenta e sessenta, a Fundição de Oeiras tornou-se numa das maiores empresas industriais do país, diversificando a sua produção, passando a fabricar banheiras, fogões e outros electrodomésticos, exportando-os para as colónias ultramarinas e para o estrangeiro.
Cardoso de Oliveira era um homem com uma ambição desmedida, de tal monta que, acalentou o sonho um dia vir de Cascais a Oeiras, pisando sempre em propriedade sua. E como era um homem de acção, começou a adquirir todos os terrenos disponíveis junto à marginal.
O casal teve apenas um filho que o banqueiro apadrinhou, razão pela qual lhe chamaram Ricardo. Seguindo a tradição de uma boa parte dos jovens da linha de Cascais, filhos de pais ricos, o Ricardo passou a juventude a jogar golfe e em corridas de automóveis, não se preparando adequadamente, para mais tarde gerir os negócios da família.
Entretanto deu-se o 25 de abril em 1974 e a Fundição de Oeiras foi nacionalizada. Talvez com o desgosto de se ver afastado da empresa que ele tanto dinamizou, António Cardoso Oliveira faleceu pouco tempo depois.
Os movimentos revolucionários geram sempre radicalismos, e a família de António Cardoso de Oliveira foi vítima disso. Antes de morrer pediu que o seu caixão, percorresse pela última vez as instalações da Fundição de Oeiras, porém esse desejo foi negado pela comissão de trabalhadores.
Depois da intervenção estatal e da perda do mercado das colónias, a Fundição de Oeiras foi definhando, acabando por encerrar. A família ainda interpôs um processo indemnizatório contra o Estado, do qual nunca se soube o resultado.
Entretanto o filho Ricardo sem grande experiência empresarial, mas com muito dinheiro herdado do pai e com o crédito bancário no BES, lançou-se em vários projectos empresariais, a maioria deles pouco sustentáveis.
Começou por adquirir no Estoril um edifício, onde outrora fora a primeira sede nacional das Testemunhas de Jeová, sediando aí as suas empresas. Depois constituiu como âncora, uma empresa com a actividade de Promoção de Investimentos Turísticos e Imobiliários, assentando na visão estratégica, ou informação considerada privilegiada, de que, a construção do novo aeroporto seria na OTA.
Todos nos lembramos da eterna discussão da localização do novo aeroporto, se entre a margem direita ou margem esquerda do Tejo, ou seja entre a OTA ou Rio Frio, aparecendo mais tarde o nome de Alcochete, e agora parece que nem vai ser em lado nenhum.
No primeiro pressuposto, adquiriu no concelho de Rio Maior uma quinta, com uma extensa área de terreno, projectando ali a construção de um campo de golfe, denominado Águia de Ouro, o qual serviria de alavancagem para a venda do terreno sobrante, em lotes para construção.
O aeroporto não passou do anteprojecto, mas o campo de golfe foi construído e com a mais moderna tecnologia, gastando ali vários milhões de contos, tendo concluído apenas o green e o clube house. O elevado passivo bancário que atingiu com a construção do golfe, já não lhe permitiu passar à fase da urbanização dos lotes.
Em simultâneo com o projecto imobiliário, Ricardo Cardoso Oliveira criou mais três empresas, a Videsa, a Aquália e a Aurata, para o desenvolvimento de projectos de biologia marítima, entre os quais a exploração de ostras.
Segundo os seus consultores, todos biólogos franceses, no Algarve e na zona de Sagres, produziriam mais ostras do que em toda a Bretanha francesa, porque as condições climatéricas e temperatura da água, permitia-lhes ganhar três a quatro meses na criação dessa espécie, em relação à região francesa.
Alguns desses projectos biológicos não passaram da aquisição das concessões, não conseguindo implementá-los, por oposição dos movimentos ambientalistas, entre os quais Quercus. Os que foram implementados, como o de Sagres, falharam por manifesta má administração, e insustentabilidade do projecto.
Em menos de dez anos, o vasto império herdado de António Cardoso de Oliveira ruiu. Quanto ao golfe Águia de Ouro, passou para propriedade do grupo Amorim, que actualmente é o homem mais rico do país, a ver vamos como irá ser a sua sucessão.