Outeiro Secano em Lisboa

Outubro 09 2014

Galiza 2014 040.JPG

 

 

Esta coisa da globalização tem situações extraordinárias, e se há dias pudemos desfrutar da companhia do nosso filho e da Rita em Finisterra, sendo a foto ilustrativa disso. É sabido que Finisterra em latim, quer dizer fim da terra, porque acreditavam na altura, de que não havia mais mundo, para lá deste lugar. Afinal há mais mundo para lá de Finisterra, de tal modo que o nosso filho vai hoje em viagem, para nem sei quantos mil quilómetros de distância, a caminho de Seul na Coreia do Sul, por onde os portugueses andaram no século XVI, tal como o descreve Fernão Mendes Pinto, na sua Peregrinação.

Já não é a primeira vez que ele faz esta viagem, porque a tal globalização a isso obriga, porque apesar de trabalhar na Europa, é uma empresa coreana quem lhe paga o ordenado, outro dos sortilégios da globalização e do sistema social que imperam no mundo, razão pela qual assistimos à deslocalização de empresas e de conhecimento, algumas transferidas apenas pelo conhecimento e para gerar grandes mais valias aos seus acionistas, sendo depois descartadas, como parece estar a acontecer com a nossa PT – Portugal Telecom, uma empresa que, foi uma referência nacional, mesmo quando ainda se chamava TLP.

São estes os custos da globalização que, se refletem não só na deslocalização das pessoas, dispersando as famílias como é o caso da nossa, mas também das empresas, como estamos a assistir, e ao que parece, apenas para o benefício de muito poucos.

 

 

publicado por Nuno Santos às 07:20

Outubro 08 2014

É comum dizer-se que “a vida não custa, o que custa é saber viver” e de facto são muitas as formas escolhidas para se viver, ainda que algumas causem desconforto em terceiros e se diga também que, anda meio mundo a tentar vigarizar o outro.

Vem isto a propósito de um episódio vivido no sábado passado, durante a nossa viagem de regresso de Chaves para Lisboa, quando na estação de serviço da Mealhada estacionei, junto ao equipamento de abastecimento de ar e de água, a fim de dar uma mangueirada nos vidros, para limpar as salpicadelas dos insectos.

Quando já me preparava para entrar no carro, eis que parou atrás de mim uma viatura Mercedes, e saindo de lá um indivíduo dirigiu-se-me muito cordialmente, como fosse meu conhecido.

- Olá está bom? Então como se tem portado a máquina?

Fiquei um pouco surpreendido pelo cumprimento e tentei fazer um exercício mnemónico, a ver se me lembrava donde conhecia aquele indivíduo.

Sem me dar tempo de o interpelar disse-me.

- Eu sou o Miguel Santos e já não trabalho na Expocar de Alcântara, agora estou no El Corte Inglês, como director do sector de compras de têxteis para senhoras, não recebeu o meu e-mail! Então anote aí o meu número de telefone, para me contactar quando for ao El Corte Inglês.

A conversa começava a ter algum sentido, pois o meu carro fora comprado na Expocar e a oficina de Alcântara, era onde fazia as revisões.

- Quanto mede a sua senhora?

- Um metro e sessenta e oito disse-lhe eu.

- Então abra lá a mala e tome lá dois casacos Armani que custam mil euros cada, de imediato enfia-me na mala do carro duas peças de vestuário, embrulhadas em plástico.

Fiquei perplexo com tamanha franqueza e nem verifiquei a qualidade das peças, porém a franqueza foi logo desfeita, quando me pediu cem euros, para pagar o IVA.

Ora de IVA percebo eu, e se os casacos custavam mil euros cada, o IVA suportado em cada um, era de cento e oitenta e sete euros, por isso apercebi-me logo que estava a ser vítima do conto do vigário.

Como tinha apenas trinta euros no bolso disse-lhe que era o único dinheiro disponível, deste modo, ainda que as peças não fossem Armani, a perda não era muita.

Nessa altura a Celeste apercebendo-se também da natureza do indivíduo incitava-me a entrar no carro. Entretanto o indivíduo disse que por trinta euros não podia ser, retirando os casacos da mala.

Continuamos a viagem tentando fazer as pontes do diálogo travado pelo indivíduo. Foi quando nos lembramos que, na chapa da matrícula da viatura, está o nome da Expocar - Alcântara, ora foi pela sua leitura  que,  o vigário construiu a sua narrativa, para nos aplicar o golpe. Só que desta vez não resultou, eu não perdi o dinheiro, mas a Celeste ficou sem dois casacos “Armani”.

 

 

publicado por Nuno Santos às 07:08

Outubro 07 2014

 

 

A função de recepcionista foi sempre considerada uma função estratégica para a empresa, por ser o primeiro impacto com o cliente, quer seja via telefone ou presencialmente.

Ainda que na altura não houvesse formação, em técnicas de atendimento, tivemos no escritório do Rossio uma recepcionista, a Luísa Jordão que, só com o seu charme, encantava os clientes que nos visitavam.

Alguns dos clientes na sua maioria de meia-idade, embora de outros escritórios da Nucase, vinham preferencialmente ao escritório de Lisboa pagar a avença, ou entregar documentos, apenas para arregalarem as vistas com a Luísa.

O estafeta do Sindicato dos Oficiais Maquinistas, um dos clientes mais antigos da Nucase e que já transitara da Parede para Lisboa, também ele já não muito novo, sempre que vinha ao escritório de Lisboa, antes de tocar a campainha e em jeito de serenata, cantava um fado à Luísa. Quando entrava, perguntava-lhe se tinha gostado, dizendo que fora em sua homenagem.

Um outro cliente da Parede, do Departamento da Teresa Espada, arranjava mil e um pretextos para ir ao Rossio, levando um documento de cada vez. Era um senhor já de meia-idade do tipo marialva. Vestia fato impecável, com os sapatos matizados a preto e branco, um bigode fino bem aparado, levava-lhe flores e fazia-lhe convites para almoços, deixando bem explícito o seu assédio.

Um dia encontrando-a debruçada no balcão da papelaria que funcionava no vão de escada, este nosso cliente, não resistiu ao charme da Ana Luísa e apalpou-lhe o traseiro. Esta apanhada desprevenida, reagiu mal à investida.

Na festa de Natal desse ano, o Nuno Santos fez a seguinte quadra à Teresa Espada, onde o cliente tinha a sua contabilidade:

 

Passa por nós no Rossio

Oh! Teresa Espada, sem medo

Porque temos cá a Luísa

Para a atender o Figueiredo

publicado por Nuno Santos às 07:49

Outubro 05 2014

 

 

Regressados a Lisboa, hoje fomos ao velhinho estádio Eng.º Carlos Salema em Marvila, onde joga o Oriental de Lisboa para apoiar o Grupo Desportivo de Chaves. Para quem não conhece este estádio, apesar de não ter a grandeza nem beleza do estádio do Restelo, onde joga o Belenenses, têm alguma similitude, porque das suas bancadas, avista-se o Tejo em frente ao mar da Palha.

Esta foi a segunda vez que fui a este estádio. A primeira vez já foi há mais de quarenta anos, quando o Oriental ainda militava na primeira divisão. Fui com o Eduardo Cruz ver o Sporting, num ano em que se sagrou campeão e quando ainda jogava o Yazalde, o qual marcou três golos neste jogo e o Sporting ganhou por 5-1.

Hoje assistimos a um jogo muito fraco do Desportivo, deixando desolados os seus apoiantes ficando pouco crentes numa hipotética subida de divisão, face ao baixo índice exibicional demonstrado. O Chaves não criou uma única oportunidade de golo, e só não perdeu por causa da inoperância dos avançados do Oriental,  e porque no último instante do jogo, o nosso guarda redes Paulo Ribeiro, fez uma defesa extraordinária.

Outra referência negativa vai para as cores do equipamento alternativo das camisolas, um amarelo torrado que, creio ser uma cor inédita em equipas de futebol, mas claro que não são as camisolas que ganham os jogos, e ontem não ganhamos porque não produzimos o futebol suficiente para isso. O meio campo do Desportivo pareceu-me muito fraco, de modo que as poucas bolas que chegavam aos avançados, eram de lançamentos da defesa.  

Valeu o convívio com alguns flavienses e outeiro secanos, e apesar da equipa não puxar pelos adeptos, os adeptos não deixaram de puxar pela equipa, mas a jogar assim não vamos lá, nem merecem o epíteto de “Valentes Transmontanos”.

 

 

 

publicado por Nuno Santos às 22:01

Outubro 05 2014

 

 

Diz-se que os amigos são para a vida, servindo essa velha máxima para toda a gente. Por vezes somos nós quem escolhemos os amigos, outras vezes somos nós os escolhidos, e ainda que haja factores como a distância que, não permite haver uma maior convivência, quando o reencontro se torna possível, esse sentimento flui em pequenos gestos como, um brilhozinho nos olhos, pequenos gestos de ternura, nas conversas e nas confidências as quais se trocam apenas com os amigos verdadeiros.

Na semana que passou estivemos mais uma vez a Chaves, e embora houvesse algumas razões objectivas que, nos levaram a fazer mais essa viagem, entre as quais; a vindima, o São Miguel e o aniversário do meu sogro, além da visita a outros amigos e familiares, o ponto alto da semana foi na sexta-feira, com a recepção ao casal Manuela Pessoa e Alberto, residentes em Espinho, mas com raízes na conhecida aldeia de Sonim, que, funciona para este casal, como o seu refúgio rural.

A Manuela e a Celeste foram colegas no Magistério Primário de Chaves, onde nasceu essa relação de amizade. O Alberto tal com eu, aparecemos na relação, por via do casamento, mas desde logo houve uma grande empatia e já estivemos juntos, em Sonim em Espinho, em Chaves num encontro de colegas de Curso, desta vez tivemos o privilégio de sermos nós, os anfitriões.

Assim e depois do almoço no Taró, onde o bacalhau mais uma vez se sobrepôs à restante ementa, tivemos um passeio inglório até às Caldas. Quando digo inglório foi porque a razão principal do passeio, era bebermos um copo dessa água milagrosa que, como sabemos, tem um efeito digestivo tão eficaz quanto imediato, mas infelizmente neste ano, não são apenas os balneários termais que estão encerrados, estranhamente o mesmo acontece com o Bouvet.

Isso fez com que rumássemos a Outeiro Seco, porquanto o Alberto ainda não conhecia a nossa aldeia, dando-me um enorme prazer ser o seu cicerone na minha terra. E como diz a nossa marcha “É no Pontão a Sant'Ana no Eiró a da Portela, não há aldeia transmontana, com tanta igreja ou capela”. Fizemos esse roteiro começando pela igreja da Sra da Azinheira, uma igreja românica e classificada. Fizemos depois a circular indo ao Parque Empresarial, para depois descer ao senhor dos Desamparados e observamos o Calvário e a Sra. Da Portela, a igreja Matriz, nomeadamente o seu altar mor, de estilo barroco.

A Manuela já estivera nesta igreja, quando do nosso casamento em 2 de setembro de 1978, sendo a única que deu para visitar com pormenor, porquanto a minha mãe é uma das guardadoras da chave.

Fomos ainda à capela da senhora do Rosário, a qual só deu para espreitar pelas frinchas da porta, não dando para apreciar o fresco, descoberto recentemente, assim como a ara romana ali depositada. A última paragem foi na capela de Sant'Ana, em cujo castro a nossa aldeia nasceu. Apesar de também estar fechada, graças às novas tecnologias, o Alberto, como flash da sua máquina, conseguiu recolher imagens, não só do altar da santa, mas também do achado recente, um presépio cavado na rocha.

Foi um dia super agradável, mas como a marcha do tempo é inexorável e a noite aproximava-se rapidamente houve que fazer as despedidas, ficando o desejo de um novo encontro, não tão espassado no tempo, quanto este.

 

 

 

 

publicado por Nuno Santos às 09:52

Outubro 03 2014

Ficou cara a cegada desse ano ao Sr. Leonardo Faria, mas não foi pela paga aos segadores, porque esses, apenas receberam o que estava acordado. O pior foi o rombo que levou na pipa, porque ainda decorria o mês de Junho, e a próxima vindima, só seria dali a três meses.

Entre homens e mulheres o rancho compunha-se de dezoito a vinte elementos, uns eram segadores outros atadores, vindos dos lados do Barroso, sendo a primeira vez que o grupo segava na aldeia.

Como todos os ranchos tinham um capataz a quem o grupo obedecia, ora em chegando ao fim do eito, o capataz gritava em alta voz.

- Moca ao ar! Beinha o cloque.

De imediato o grupo se imobilizava, porque a frase era a senha para que o pipo de madeira de cinco litros, e com um buraco no centro bojudo, passasse de mão em mão. Passavam-lhe a manga da camisa pelo buraco, limpando a superfície molhada pelo companheiro anterior, elevando-o depois às bocas sequiosas, pelo calor abrasador desse tempo das segadas, escorrendo o líquido pelas gargantas fazendo o som, cloque, cloque, cloque.

O Leonardo costumava levar para a segada um garrafão de ola, com quase trinta litros, mas nesse dia, um dos seus filhos, teve que se montar na burra por mais de uma vez vindo à adega encher o garrafão, porque a frase mais ouvida era.

- Moca ao ar! Beinha o cloque.

 

 

 

publicado por Nuno Santos às 00:01

Outubro 02 2014

Faz hoje 91 anos que nasceu o meu sogro, António Gonçalves Chaves, num tempo em que não havia máquinas e os trabalhos agrícolas eram feitos  manualmente, ou com ajuda dos animais. Oh p'ra ele agora todo lampeiro, sentado ao volante do trator, quem não o conhecer até há-de julgar que foi toda a vida tratorista.

Isto sou eu a brincar e a desejar-lhe muitos parabéns, fazendo votos para que chegue ao centenário, com a mesma saúde e lucidez, para me passar muitas das suas histórias, sobre os viveres da nossa terra.    

publicado por Nuno Santos às 07:38

Outubro 01 2014

 

 

Se a transferência do escritório do Rossio para a Av. 5 de Outubro, operada em 1 de abril do ano de 2000 foi uma mais-valia para todos os funcionários que ali trabalhávamos, porque passamos a dispor de mais espaço e melhores condições de trabalho, em termos sociais não deixou de ser uma perda, pois trocamos a Baixa pelas Avenidas Novas, quanto mais não fosse porque na Baixa, tínhamos uma maior oferta em restauração.

Logo de fronte tínhamos as bifanas do restaurante Gare, as mesmas que deliciaram o Anthony Bourdain, o célebre cozinheiro americano que tem um programa sobre restaurantes de todo o mundo, e se lambuzou com estas bifanas. Além disso, tínhamos depois uma vastíssima oferta de restaurantes, nas Portas de Santo Antão e nas ruas limítrofes, havendo-os para todos os segmentos tanto no preço como na qualidade.

Durante algum tempo comíamos nas traseiras do Gambrinus, num restaurante chamado Marques. Além do preço ser conveniente tinha uma cozinha do tipo caseiro, mas curiosamente a Dra. Maria Mestra não o apreciava muito, de tal forma que deu direito à seguinte quadra numa festa de Natal.

Passa por nós no Rossio,

Doutora sempre distante,

Se vier mais vezes prometo,

Que mudo de restaurante.

 

Num final do período de encerramentos, em jeito de comemoração pelo final da entrega das declarações Mod. 22, eu e o Virgílio fomos a uma cervejaria na rua Bairro Queiroz e pedimos duas imperiais. O funcionário que nos atendeu insistiu várias vezes se não queríamos um pratinho de orelha de porco. Perante tanta insistência aceitamos a sugestão e lá veio um prato de orelha de porco, servindo de acompanhamento a mais duas imperiais.

A certa altura o Virgílio chamou o funcionário e perguntou-lhe:

- Oiça lá! Este porco era duro de ouvido?

O funcionário não percebendo o alcance da pergunta, retorquiu:

- Como!!!

- Estou-lhe a perguntar se o porco era duro de ouvido? Repetiu o Virgílio!

- Porquê? Diz o funcionário, admirado com a pergunta.

- É que esta orelha está dura que nem um corno.

O funcionário muito atrapalhado apressou-se a levantar o prato da salada, perguntando se queríamos escolher outra coisa.

publicado por Nuno Santos às 07:47

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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