Outeiro Secano em Lisboa

Novembro 23 2014

 

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Ontem o país acordou com um terramoto político, por causa da detenção do ex- primeiro ministro José Sócrates, num caso inédito na democracia portuguesa, justamente, no dia em que aconteciam outras iniciativas de cariz político as quais passaram para segundo plano, pese embora essas iniciativas, irão ter no futuro, maiores repercussões políticas para o país, do que a própria prisão de José Sócrates.

Refiro-me à Convenção do Bloco de Esquerda, onde escolherão quem no futuro irá gerir o partido, se a actual direcção bicéfala de João Semedo e Catarina Martins, ou Pedro Filipe Soares. A outra iniciativa ainda de maior relevância, foi a eleição de António Costa como secretário geral do PS, porque será o putativo primeiro ministro, a partir das eleições de 2015.

Quanto à detenção de José Sócrates, claro que não contesto a justeza dessa detenção, primeiro porque não tenho qualquer simpatia pessoal nem fui seu apoiante político, segundo porque não conheço os factos que estarão na origem da sua detenção, a não ser aqueles que foram transmitidos nos órgãos de comunicação social, quando deveriam ser matéria exclusiva, do conhecimento da justiça.

Infelizmente já estamos habituados a que todos estes processos judiciais comecem na comunicação social, senão vejamos: Casa Pia, Portucale, Submarinos, Freeport, Monte Branco, Face Oculta, BES e mesmo este de José Sócrates, já tinha sido publicado em Julho passado na revista Sábado, sinal de que o segredo de justiça em Portugal é uma treta, onde apesar das sucessivas quebras desse silêncio, nada se fez para lhe por cobro.

Isso traz-nos à colação o facto da nossa Justiça, ser uma Justiça reactiva em vez de ser prospetiva. Mas voltando à detenção de José Sócrates, pese embora a falta de simpatia já declarada, a sua detenção entristece-me, da mesma maneira que já me tinha entristecido a detenção na semana anterior de altas figuras da governação, porque isso mostra-nos um estado de insolvência moral, o qual só não se tornou maior nesta semana, porque as reposição das subvenções dos deputados, foi travada a tempo.

Esta sucessão de factos negativos vem desacreditar o nosso sistema político, assente nos partidos, criando-se o anátema de que são todos iguais, quando essa igualdade se verifica apenas nos partidos do tal arco da governação, pois continua a haver em Portugal, partidos que se regem por valores, assentes na luta pela desigualdade e contra os flagelos sociais.

Quanto ao espectáculo mediático ligado à detenção de José Sócrates, acho que a Justiça deveria fazer o seu trabalho de forma mais reservada, sem necessidade de um linchamento público, pois a forma como o detiveram quase faz lembrar aquela canção do Zeca Afonso “Era de noite e levaram”.

 

 

publicado por Nuno Santos às 10:26

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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