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Calcula-se que em Portugal existam mais de cento e quarenta pessoas centenárias vivas, na sua maioria mulheres, sendo duas delas as nossas conterrâneas, Maria da Costa e Amélia Ferreira, mais conhecidas por tia Bia e tia Amélia, ambas a caminho dos 103 anos.
Nascidas em 1912 dois anos depois da implantação da república, tinham dois anos quando rebentou a primeira guerra mundial, trinta e três anos na segunda grande guerra e sessenta e dois anos no vinte e cinco de abril.
Embora estas datas sejam marcantes na história do nosso país, pouco dizem a estas nossas conterrâneas, na época com outras preocupações, senão a luta pela sua sobrevivência, pelo menos a de assegurar a subsistência das suas famílias.
Com a tia Bia é possível dialogar com alguma assertividade, porque preserva ainda alguma lucidez, apenas perdeu uma boa parte da sua capacidade auditiva e de visão, mantendo todavia uma boa locomoção deslocando-se dentro de casa encostada aos objectos, mas por causa da sua falta de vista e não por falta de pernas.
A tia Bia não fala dos acontecimentos que marcaram o país, mas fala da actividade que exerceu durante a maior parte da sua vida, a actividade de leiteira, distribuindo o leite pela cidade de porta a porta, recordando-se do nome de muitas das suas freguesas, apesar da maioria delas já terem morrido.
Continua a morar na mesma casa onde sempre morou e onde criou os seus filhos, agora na companhia da sua filha Lucília, mas com alguma autonomia, pois come e veste-se sozinha.
Quanto à tia Amélia e até há uns dois anos, era ainda mais autónoma do que a tia Bia, por isso e apesar de ter vários filhos na aldeia, preferia morar sozinha na sua casa, mantendo os seus hábitos e costumes. Entretanto a sua saúde degradou-se de uma forma abrupta, retirando-lhe essa autonomia, vivendo por isso agora, em casa da sua filha Laurinda.
Embora tenha perdido quase todas as suas capacidades cognitivas, logo a tia Amélia que tinha tantas, herdadas da sua mãe Mafalda, como as rezas para os diversos males do corpo e da alma, os versos do Ramo, ou as modas populares do seu tempo de menina e moça.
A tia Amélia perdeu essas faculdades, mas não perdeu ainda a sua locomoção, antes pelo contrário, têm de estar sempre com um olho nela, de outra forma, quando vão a dar conta, lá vai ela rumo ao Papeiro, o local onde viveu a sua infância.
Como a nossa longevidade continua a aumentar, a ver vamos qual vai ser o próximo conterrâneo a atingir o centenário. Falta pouco para que o nosso amigo Manuel Torres atinja esse desiderato, esperamos que tal aconteça, e que o seu filho Vasco possa estar presente, na festa do centenário do seu pai.