Outeiro Secano em Lisboa

Fevereiro 11 2016

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Diz-se que a experiência é a madre das coisas, quer isso dizer que em muitas matérias, muito do nosso conhecimento, reside na experiência dos mais velhos, embora também se diga que, este tempo, já não é para velhos.

E com efeito, a implementação das políticas, sobre a proteção da velhice, dos governos que nos têm governado, não apontam nesse sentido, com particular destaque para a política destes últimos governos.

O exemplo disso foram, o congelamento das pensões e reformas, assim como a base de cálculo das mesmas, obrigando pessoas que, trabalharam uma vida inteira, a ficarem com pensões e reformas que, não asseguram a sua sobrevivência futura.

Mas deixando-nos de politica e retomando o tema, a minha mãe, continua a ser uma fiel depositária, daquilo que ouvia aos seus antecessores, nomeadamente ao seu padrinho José Barroco, um homem viajado por vários países do continente americano, desde a Argentina ao Brasil, passando por Cuba e Estados Unidos, mas também, habituado a ler os almanaques como o Borda d’ Agua e o Seringador, tendo por isso um manancial conhecimento destas coisas, costumando dizer que: “ Lua nova setembrina, sete luas domina”.

Queria com isso dizer que, quando chove na lua nova de setembro, choverá igualmente, nas setes luas novas dos meses seguintes. Ora se quiserem fazer esse esforço de memória, verão que o ditado tem toda a propriedade, pois a lua nova de setembro entrou em 11 de setembro e com chuva retardando até as vindimas.

Desde aí a situação tem-se repetido senão atentem no quadro:

2015

13-09-2015

20-09-2015

12-10-2015

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11-11-2015

18-11-2015

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17-12-2015

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10-01-2016

16-01-2016

08-02-2016

15-02-2016

09-03-2016

15-03-2016

 

A lua nova deste mês de fevereiro coincidiu com a quadra carnavalesca, tendo a chuva estragado os festejos de muitas terras, onde o Carnaval virou tradição. Claro que foi um grande desgosto para os foliões, e um grande prejuízo para as organizações. Ora para amenizar esse prejuízo, algumas dessas localidades, irão realizar o desfile no próximo fim-de-semana, já em plena quaresma, acabando assim com um outro mito, o de que" e tudo se acabou na terça-feira”.

Resta-nos a satisfação de que só falta apenas mais uma lua nova para acabar o ciclo. E como também dizem os mais antigos quando o  Carnaval é em casa, Páscoa na rua”. Por isso, façam já os vossos planos de saída para a Páscoa, embora com agasalhos, porque este ano a Páscoa é em 27 de março.

 

publicado por Nuno Santos às 12:13

Fevereiro 08 2016

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Há dias li no blogue do Luís Montalvão ( http://velhariasdoluis.blogspot.pt/ ) mais um excelente post, dedicado ao solar dos Montalvões, o qual é um grito de revolta e de indignação, pela contínua degradação do solar.

O Luís embora de origens transmontanas é natural de Lisboa, mas tem sido dos poucos que, publicamente tem assumido as dores, por ver a contínua degradação do solar, talvez por homenagem ao seu pai, José Manuel Montalvão, neto do Dr. José Maria Ferreira Montalvão, seguramente um dos familiares que, mais usufruiu do solar, quando passava as férias grandes com os avôs, em Outeiro Seco .

Nesse post o Luís dava conhecimento do solar estar registado no site http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=35397.

Na altura eu comentei o post, congratulando-me por mais um registo, convencido de que Outeiro Seco, passava agora a ter dois imóveis do nosso património material registados, o solar e a igreja da Sra da Azinheira.

Em resposta o Luís informou-me de que, Outeiro Seco, tinha mais património  registado entre os quais;

Capela da Senhora da Portela

Cruzeiro Senhora da Portela

Cruzeiro em frente do Solar

Antiga Escola Primária

Vale de Lagares.

Só que Outeiro Seco, tem muito mais património, digno desse registo. Desde logo, a Capela da Sra do Rosário, nomeadamente após a descoberta dos frescos e do seu recente restauro, além da sua Ara Romana. A Capela da Sant'Ana, primeiro pela sua origem, um altar pagão, depois pela recente descoberta, do presépio cavado na rocha, assim como o Castro, adjacente. O Calvário que em extensão é o maior do concelho, assim como um outro Cruzeiro, junto à anterior escola primária, mais a Pedra de Mesa, a qual serviu como tribunal na época medieval.

Mas segundo  o Luís Montalvão, para  propor aos Monumentos o seu reconhecimento, torna-se necessário serem fotografadas, e com um texto fundamentado. Ora todos reconhecemos os dotes de fotógrafo, do nosso conterrâneo, Humberto Ferreira, assim como os seus dotes de escrita. Por isso aqui fica o repto, a proposta de reconhecimento, de mais este nosso património material de Outeiro Seco.

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Nuno Santos às 12:15

Fevereiro 06 2016

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Embora na nossa aldeia se faça uso do lema “Tradição e Modernidade” o certo é que as tradições, têm vindo a ser perdidas, tanto na nossa aldeia, como em quase todas as outras aldeias do interior. De vez em quando lá aparece uma instituição cultural, que, numa de revivalismo, procura recuperar essas tradições em decadência, ficando isso a dever-se, à dinâmica dessas mesmas organizações.

Na nossa aldeia, pese embora continue a existir a Casa de Cultura, tal revivalismo não tem existido, nem ao que conste, noutras organizações congéneres, a não ser o Ecomuseu do Barroso, parecendo-me atualmente, ser a organização mais ativa, em matéria da preservação destas tradições.

Por exemplo nesta época, havia a tradição da comemoração dos compadres e das comadres. Os compadres era na penúltima quinta-feira que antecede o domingo de carnaval ou seja antes do domingo magro. As comadres na quinta-feira seguinte antes do domingo gordo, donde se dizia que as comadres, eram mais gulosas.

Eram encontros de amigos e amigas que se juntavam num local específico, as comadres na casa de uma delas, os comadres recorriam mais às adegas.

Mas a tradição mais celebrada da época, porque era a mais comum a quase todas as casas, era sem dúvida o sábado filhoeiro. E se as comemorações dos compadres e das comadres eram mais dispendiosas, com recurso a peças do fumeiro e vinho, coisas que não estava ao alcance de todas as casas, para se celebrar o sábado filhoeiro bastavam apenas uns quilos de farinha de trigo, azeite e ovos. A técnica era a mesma utilizada para fazer as filhoses no Natal.

Recorda-me que nesse dia quando chegávamos do monte com as vacas, enregelados pelo vento frio da época e pela pouca roupa que usávamos, tudo isso era esquecido, pela iguaria que nos aguardava na cozinha, as filhoses quentinhas, com as quais ficávamos todos lambuzados, por causa do açúcar e canela, com que eram polvilhadas.

Isto é um sinal dos tempos porém ainda há revivalistas, uns como eu porque se lembram dessas memórias de infância, outros há que são mais proativos e passam mesmo das memórias aos atos, comemorando mesmo o sábado filhoeiro.

Tudo isto serve de pretexto ao Carnaval que aí vem, mas que em Outeiro Seco, foi mais uma tradição que se perdeu. Por isso quem quiser folia carnavalesca, terá de a procurar noutro local podendo ser em Verin, onde os Cigarrons animarão as ruas da vila.

 

publicado por Nuno Santos às 09:55

Fevereiro 04 2016

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O termo saber da poda, tem uma carga negativa, significando que alguém, sabe fazer algo de forma ilícita. No meu caso pessoal o saber da poda, significa eliminar as varas que, estão a mais na videira, deixando os gomos suficientes, de modo a produzir em função da sua robustez.

Aprendi a técnica de podar tarde e por necessidade, só após a morte do meu pai, quando nos vimos herdeiros de duas vinhas, uma delas com quase dois mil pés. Foi o meu irmão Manuel o único que se fixou na aldeia, quem me instruiu. Aliás o meu irmão Manuel, apesar de ser o mais novo, herdou outras caraterísticas do meu pai, nomeadamente a de matador de porcos, herdando também as facas e os demais instrumentos da função.

Essa vinha fora plantada na década de setenta, precisamente quando fui para Lisboa, fugindo da vida rude e agreste da agricultura, com a qual convivera durante dezoito anos.

Por coincidência, a primeira vindima dessa vinha, coincidiu com um período das minhas férias, tendo sido eu e o meu pai, os seus primeiros vindimadores, na altura apenas uns galelos, porque era o seu primeiro ano de produção.

Por circunstâncias especiais essas duas vinhas já não existem. A maior porque era uma carga demasiado penosa para a minha mãe, por isso decidimos candidata-la ao plano de abate, promovido pelo IFADAP. A segunda porque foi expropriada pelo Instituto de Estradas de Portugal para fazer o nó da A 24.

Agora exerço a técnica de podador na vinha do Tabolado, pertencente ao meu sogro. Costuma ser uma tarefa partilhada com os meus cunhados, porém este ano, por circunstâncias especiais, tocou-me só a mim.

Para os flavienses moradores na cidade a toponímia do Tabolado, seja em qualquer época do ano, está ligado a lazer ou passeio, porque é a zona que vai da ponte romana às caldas. Mas para os outeiro secanos, o Tabolado, é a zona onde se situam uma boa parte das vinhas, logo o Tabolado quer dizer labuta pois qualquer que seja a altura do ano, há ali sempre tarefas para se fazer, seja a poda, a escavada, os tratamentos das videiras e por fim a vindima.

Resta agora aguardarmos para ver, se o ano vai ser de boa colheita, a colheita dos anteriores, avaliando pela opinião dos seus provadores tem sido boa, presumindo que o digam não apenas por simpatia. Mas como se costuma dizer, até ao lavar dos cestos há vindima, por isso, até que o vinho esteja no copo, há ainda muito trabalho a fazer. Haja saúde, para depois se fazer o brinde à mesma.

 

 

publicado por Nuno Santos às 10:57

Fevereiro 01 2016

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 Foto da internet

 

Tenho um amigo que é alfacinha, mas gosta muito da província e não apenas da sua gastronomia, pois gosta também das paisagens naturais, talvez por reminiscências das suas origens paternas, ambos da Beira Alta.

Há dias dizia-me “Também eu gosto de passear pelas quelhas rurais nas fronteiras com as hortas e lameiros das aldeias.

Os cheiros das ervas humedecidas o chilrear dos pássaros e os sons das hastes da vegetação enchem-nos o peito de encanto”.

Ora, entre os muitos  gostos e prazeres urbanos que temos em comum, além da grande amizade de há muitos anos, compartilhamos também esses prazeres pelo mundo rural. Desde logo, porque foi onde eu nasci, e nunca reneguei as minhas origens.

A esse propósito, alguém me disse há dias, de que existe estudo, dizendo que os sons e aromas, podem perdurar na nossa memória, durante sete anos, porém, eu tenho para mim, de que alguns jamais se esquecem, sejam lugares, pessoas, aromas ou sons.

Há uns anos, escrevi no blogue do meu amigo Altino um post com este mesmo título, o qual sob pena de me repetir, recupero agora, porque o Vale do Boi, faz parte dessas memórias que eu preservo vivas, por tratar-se de um lugar, onde em menino e moço, passei muito  do meu tempo, como guardador de vacas.

O Vale do Boi pertence ao termo de Outeiro Seco, ficando num pequeno vale, situado numa garganta do nosso rio pequeno, entre os lugares do Cotete, a Quinta e a Pedrosa.  O verde que, irradia dos seus lameiros, assim como dos amieiros e freixos que ladeiam o rio, dão a este local um ambiente bucólico, convidando-nos ao recolhimento e à meditação.

Então se estivermos na estação da primavera, este local torna-se ainda mais fantástico, por causa do cheiro característico da erva dos lameiros, em harmonia com  os cheiros das flores campestres,entre as quais a flor da carqueja, do sabugueiro e do rosmaninho. A tudo isso associa-se ainda o murmúrio constante da água do rio, ora correndo no leito ora caindo em cachão das represas, construídas para desviar a água para os lameiros.

Ao som das águas do rio junta-se ainda a sinfonia do canto das variadíssimas espécies de pássaros que compõem o habitat, entre os quais (rouxinóis, cucos, poupas, pegas, melros, pica-paus, rolas, pintassilgos) tornando o local, num permanente concerto celestial.

A norte deste pequeno vale, ergue-se um pinhal em forma de anfiteatro, e nos dias de ventania, o som das ramagens dos pinheiros, convida a quem está cá em baixo, a um relaxe e a um momento zen, semelhante aquelas imagens que passam, numa das estações da televisão por cabo.

Só que nesse tempo, as tarefas de guardador de vacas, não davam para ter grandes momentos de relaxe, porque em qualquer momento de distração, as vacas já estavam pregadas no centeio de um vizinho, por  iso esses momentos zen, eram proibidos.

O descanso só acontecia depois das segadas, e aí, já havia o tempo para as brincadeiras com os outros jovens que, exerciam a mesma tarefa, ou para a leitura de livros que, mensalmente requisitavamos na biblioteca itinerante da Gulbenkian, ainda que tivessemos de  estar sempre atentos, aos animais no lameiro.

Todos os anos, quando regresso a Outeiro Seco, prometo a mim mesmo visitar o Vale do Boi, infelizmente outros afazeres acabam por se sobrepor, de modo que essa visita, vai ficando adiada. Mas devido ao interesse demonstrado pelo meu amigo Júlio, talvez  possamos um dia tornar esse desejo, em realidade.

 

publicado por Nuno Santos às 08:05

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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