Na semana em que foram conhecidos os filmes candidatos aos Óscares, fui ver o filme o “Silêncio”, de Martin Scorsese, estranhando que, não figurasse entre os principais nomeados, pois conta apenas com uma nomeação, na categoria de Melhor Argumento Adaptado.
Eu penso que, o facto do filme não ter mais nomeações, não deixa de ser uma forma de censura, à semelhança do que tem acontecido com outros filmes, cujos argumentos versam a religião católica, especialmente quando esta é questionada.
Compreendo que a maioria das pessoas, quando vão ao cinema, fazem-no com o intuito de se divertirem, preferindo filmes mais ligeiros, como o La La Land, um musical que conta com catorze nomeações. Mas como o cinema ´r considerado a sétima arte, este deve ser exposto a todos os géneros, razão pela qual os filmes são classificados, em comédias, dramas, romances, aventuras e outros géneros, cabendo ao público fazer a sua escolha.
Este filme de Scorsese vem na senda da “Última Tentação de Cristo” realizado em 1988, o qual tanta polémica gerou. Em ambos os filmes, Scorcese, mostra-nos a dimensão do sacrifício físico, através da tortura, mas também o sofrimento espiritual, em nome da fé e das convicções religiosas.
O argumento é uma adaptação de um livro com o mesmo nome, de um escritor japonês chamado Shusaku Endo, sobre perseguição ocorrida durante o século XVII, aos padres jesuítas sobretudo portugueses e espanhóis, assim como aos japoneses convertidos.
Os perseguidos ficaram conhecidos no Ocidente, como os Mártires do Japão, mas o filme baseia-se sobretudo, no drama vivido por dois padres jesuítas portugueses, que, face ao sofrimento infligido, aliado ao silêncio de Deus, perante as suas súplicas, tornaram-se apóstatas, isto é, renunciaram à sua fé.
O filme gera algumas perplexidades e reflexões, nomeadamente, as motivações dos Mártires do Japão na implementação de uma religião, onde já havia outra religião secular, a religião Budista.
Costuma-se dizer que a fé move montanhas e apesar da terrível repressão demonstrada no filme, o facto é que continuou a haver resistentes e embora numa proporção muito reduzida, continua a haver cristãos no Japão.
Só que, face ao que se vê pelo mundo, o silêncio tem continuado, razão pela qual em matéria de fé, existem cada vez mais agnósticos, e se há muitos anos atrás, quando aos domingos o sino chamava os fiéis, as igrejas se enchiam para ouvirem a sua palavra, mas dita pelo celebrante, esse chamamento cai cada vez mais no silêncio.