Outeiro Secano em Lisboa

Fevereiro 23 2017

Comemoram-se hoje 30 anos, após a morte de Zeca Afonso. Infelizmente ficou também a conhecer-se hoje que, os masters das suas gravações, assim como as do Adriano Correia de Oliveira, não estão no acervo da gravadora, estando provávelmente perdidos para sempre. É lamentavel que ao longo destes trinta anos, não houvesse nenhum Ministério da Cultura interessado em adquirir esse mesmo acervo.

O tema que vos deixo é o Alípio de Freitas, um transmontano natural de Bragança, com o qual convivi na Casa de Trás os Montes, quando a Casa funcionava na Rua da Misericódia, em Lisboa. Alípio de Freitas repartiu a sua vida entre Portugal e o Brasil onde teve uma intensa atividade revolucionária. Ao longo da sua vida foi padre, revolucionário, professor universitário e jornalista. Alípio de Freitas mantém ainda uma intensa atividade social e cultural, tendo sido inclusive o prsidente da Associação Zeca Afonso. É o pai da cantora Luanda Cozeti, que, com o marido constituem os Coffe Couple. 

 

publicado por Nuno Santos às 17:07

Fevereiro 22 2017

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Estes são os bilhetes para o jogo da próxima sexta-feira no Estádio da Luz, onde o Desportivo de Chaves jogará com o Benfica.

Este jogo traz-me à memória, dois outros encontros aos quais assisti na Luz, entre estas as duas equipas. O primeiro ocorreu em 29 de dezembro de 1976, já lá vão mais de quarenta anos e porventura terá sido o primeiro jogo que, o Desportivo de Chaves fez em Lisboa.

O Chaves não fazia parte do escalão principal do futebol português, creio mesmo que estava ainda na terceira divisão, mas, quis o capricho do sorteio da Taça de Portugal que, viesse jogar à Luz com o Benfica.

O jogo realizou-se numa quarta-feira à noite e os adeptos benfiquistas, desvalorizando o adversário por ser de um escalão inferior, acorreram em pouco número ao estádio. Ao invés, os flavienses e outros transmontanos residentes na capital, aproveitando a oportunidade rara de ver o Desportivo em Lisboa, acorreram em grande número, por isso eramos quase tantos os apoiantes do Chaves, como os do Benfica.

Embora o Benfica não fizesse grande poupança de jogadores, fazendo alinhar: José Henrique, Pietra, Eurico Gomes, Carlos Alhinho, António Bastos Lopes, José Luís, Shéu, Chalana, Moinhos e Nelinho, o Chaves defendeu-se com as suas armas, e o resultado foi-se mantendo no zero a zero, até que na marcação de um canto a bola foi cabeceada por José Luís, mas o Carlos Branco defesa do Chaves, cortou a bola de cabeça para canto, fazendo-a passar sobre a trave. Só que o fiscal de linha deu indicação ao árbitro, de que a bola tinha ultrapassado a linha de baliza e este validou o golo.

Gerou-se uma grande confusão no relvado, com os jogadores do Chaves a protestarem junto do árbitro, protestos que se estenderam depois à bancada, porque o fiscal de linha que validou o golo, estava posicionado na linha lateral, onde se encontravam os adeptos do Chaves.

Estávamos em 1976 e viviam-se ainda os resquícios da liberdade, conquistada dois anos antes, em abril de 1974 e a polícia, ainda não recuperara a sua veia repressora, em situações de conflito. Assim para evitar males maiores, a polícia colocou-se de forma apaziguadora, entre os contestários e a linha lateral, apesar de haver na altura, uma rede de proteção, a separar o público do campo.   

Talvez fruto do excesso de liberdade que, ainda pairava, fruto do momento revolucionário vivido, a certa altura alguém da assistência do Chaves gritou – invasão, invasão, invasão e muitos de nós, escalamos a rede para invadirmos o campo. Entretanto a polícia interveio de forma dissuasora, e eu, atingi um polícia com o guarda-chuva, partindo logo a mãozeira.  

Eu tinha na altura vinte e um anos e embora estivesse ali como apoiante do Chaves, agi em função da minha rivalidade com o Benfica, fruto de outros amores. Esse momento tornou-se num dos meus maiores constrangimentos de sempre, quando o polícia me disse.

- Oh homem! Eu também sou transmontano e também estou revoltado, só que estou aqui na minha missão de manter a ordem.

Sentindo-me envergonhado pelo meu ato, atirei o guarda-chuva já sem mãozeira ao chão, e ocupei o meu lugar na bancada, com a má consciência pelo ato perpetrado.

Apenas a título de curiosidade o Zé Luís autor do golo benfiquista era filho de um ex-jogador do Chaves chamado Manuel Jorge e irmão de um outro jogador do Chaves de nome Jorge Silva, que, chegou a ser internacional, fruto do seu desempenho no Desportivo de Chaves.

Doze anos mais tarde, em 20 de março de 1988, voltei a assistir na Luz a um jogo entre o Benfica-Chaves e o resultado foi um empate de 1.1. Nesse jogo o Chaves voltou a ser prejudicado pela arbitragem. O Chaves na época apresentou-se com: Padrão, Vicente, Jorginho, Cerqueira, Rogério Pimenta, Júlio Sérgio, Radi, Gilberto Serra e Vermelhinho.

O Benfica marcou aos 16 minutos por Chalana e o Chaves empatou aos 81 minutos por Radi. Já quase a acabar o jogo, o Radi foi rasteirado por António Veloso, tendo-lhe arrancado até a bota do pé. O árbitro disse depois que não marcou penalti, porque o Radi ficara em posição de prosseguir a jogada, ora, em lance de penalti não há lei da vantagem, nem se pode chutar uma bola descalço.

Quando terminou o encontro, os milhares de flavienses no estádio cantaram orgulhosamente a Marcha de Chaves, que, ecoou pelos corredores do estádio da Luz.

 

 

publicado por Nuno Santos às 19:07

Fevereiro 19 2017

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Tal como a maioria das pessoas também eu detesto filas de espera, por serem uma coisa fastidiosa e sobretudo, uma perda de tempo. No entanto, suporto-as quando são por uma boa causa, nomeadamente, as filas de espera para visitar uma boa exposição, num museu.

Ora, foi por causa da exposição de Amadeu Sousa Cardoso no Museu do Chiado que, neste sábado, aguentei algum tempo numa fila de espera, a qual só não foi maior, porque fizemos a visita cedo, bem antes da hora do almoço.

Para mim é sempre um prazer ir ao Chiado e ao Bairro Alto, pois considero esta zona da cidade só por si, uma espécie de museu, tantos são os pontos de interesse que, ali existem. Além de que foi no Bairro Alto e Chiado, onde passei uma boa parte da minha vida de solteiro em Lisboa, por isso ir ao Bairro Alto, é como que um regresso a casa.

Esta exposição composta por 81 quadros é a evocação do centenário das primeiras exposições que, Amadeu fez no Porto e em Lisboa, em finais do ano de 1916, as quais decorreram nos Jardins Passos Manuel no Porto, e a de Lisboa, na Liga Naval, por sinal perto do Chiado.

Cem anos depois a exposição percorre o mesmo itinerário, esteve primeiro no Porto no Museu Nacional Soares dos Reis, agora está em Lisboa, no Museu Nacional de Arte do Chiado até ao dia 26 de fevereiro.

Quando há cem anos ocorreu esta exposição, segundo rezam as crónicas, ela mereceu uma grande discussão entre o público, não familiarizado com este estilo de pintura tão vanguardista. Na época teve como grande defensor um crítico, também ele pintor e vanguardista José Almada Negreiros.

Por coincidência, está atualmente patente ao público, no Centro de Arte Contemporânea da Fundação Calouste da Gulbenkian também uma grandiosa exposição de Almada Negreiros, a qual tem gerado um enorme interesse do público, gerando-se por isso enormes filas de espera na sua visita.

Tal como disse no início deste post, eu detesto as filas de espera, porém não deixo de ficar satisfeito com este tipo de filas de espera, são um sinal de interesse pela cultura, ora, um povo será mais desenvolvido, quanto maior for a sua cultura.  

 

    

publicado por Nuno Santos às 10:34

Fevereiro 13 2017

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Está a decorrer uma petição para ser levada à Assembleia da República, no sentido de diminuir o peso das mochilas, porque segundo os especialistas da DECO, o peso das mochilas não deve ultrapassar os 10% do peso das crianças, quer isto dizer que, se uma criança pesar 40 kg, o peso da sua mochila não deve ultrapassar os 4 kg.

Embora não tenha nada a opor, esta petição fez-me reportar ao meu tempo de criança, concluindo quão diferente estão as condições de vida em Portugal, quando comparadas com a minha infância e adolescência. Nesse tempo não havia qualquer preocupação com os direitos das crianças, nem sequer havia mochilas, os livros eram transportados em pastas de pano ou de cartão, ou então nas mãos, debaixo do braço.

Só que os livros eram mesmo transportados pelos alunos, porque os pais não deixavam os filhos à porta da escola como agora, e quando não são os pais, são os transportes escolares. No meu tempo eu e todos os outeirosecanos meus contemporâneos fazíamos 5 quilómetros de casa à escola, ou seja 10 quilómetros diariamente. Entrávamos às 8,20 da manhã e embora o inverno em Chaves  seja muito agreste, o vestuário que usávamos na época, não tinha qualquer comparação com o conforto de agora.

Acrescendo a essas dificuldades, muitos de nós quando saíam das aulas, tinha ainda outras tarefas para cumprir, porque como diz o ditado “ trabalho de garoto é pouco, mas quem o não aproveita é louco”, e era necessário apoiar a economia doméstica da família.

O pior era nas chamadas férias de verão, quando ocorriam as principais tarefas agrícolas, porque eram feitas na sua maioria de forma manual, porquanto, as máquinas estavam a ser introduzidas de forma gradual na agricultura. Por essa razão os que vivíamos nas aldeias, considerávamos o início do período escolar, como o início das nossas férias. Nessa altura era vulgar verem-se jovens de catorze ou quinze anos, carregando sacos de centeio ou de batatas às costas, com um peso  bem mais desproporcional do que agora o peso das mochilas.

E aguentávamos? Pois como disse o Fernando Ulrich – Ai aguentávamos! Aguentávamos! porque o trabalho dá saúde diziam-nos os mais velhos, mas claro, era sobretudo porque a necessidade nos obrigava.

Não pretendo defender esse tempo e ainda bem que o país evoluiu, hoje já não existe aquilo a que se chamava exploração infantil, porém, acho que também não devemos cair no oposto, facilitando demasiado as coisas às crianças, ao ponto destas não estarem depois preparadas para as dificuldades da vida.

 

publicado por Nuno Santos às 23:47

Fevereiro 13 2017

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Esta história é muito antiga porque já a minha bisavó a contara á minha avó, que, por sua vez, a recontou á minha mãe e às minhas tias. Também no meu tempo de menino e moço, quando às refeições havia alguma contenda com os meus irmãos, porque algum de nós sentia prejudicado com a repartição do peguilho, a minha mãe dizia-nos.

- Vê-de lá se quereis ir ao macaco juiz.

Ora, a história do macaco juiz reza assim.

Era uma vez dois ratitos que, ludibriando a segurança do bichano lá da casa, o qual gostava mais de ficar enroscado ao borralho da lareira, do que caçar ratos, entraram na despensa da casa e furtaram um queijo. Depois, confrontados com a forma equitativa da partilha do queijo, um deles disse.

- Cá por mim íamos ao macaco juiz, pois segundo ouvi dizer, tem muita sabedoria e um grande sentido de justiça.

O outro rato concordou e lá foram ao macaco, para que este lhes fizesse a partilha do queijo. Exposta a situação, o macaco foi buscar uma balança e partiu o queijo em dois, colocando cada bocado do queijo, nos pratos da balança.

Como o prato esquerdo da balança estivesse mais baixo, o macaco deu-lhe uma valente dentada fazendo com que o desequilíbrio passasse para o lado oposto. Nova dentada na porção do queijo da direita e o desequilíbrio passou de novo para a esquerda.

Os ratitos vendo o queijo a desaparecer, ainda interpelaram o juiz, mas este com ar de muito compenetrado na sua ação, disse-lhes.

- Mas não foi a justiça que procurastes? Então deixai que a justiça se faça.

Continuando com mais uma dentada no bocado da direita, outra dentada no bocado da esquerda, sobraram apenas dois bocaditos de queijo em cada prato da balança. E perante a estupefação dos ratitos, o macaco juiz disse-lhes.

- Bem, como já só há estes dois bocaditos, não vale a pena fazer a partilha, estes ficam como paga do meu serviço.

E dizendo isso, meteu os dois bocados de queijo à boca, ficando os dois ratitos incrédulos com o que lhes tinha acontecido.

Moral da história, nem sempre recorrer à justiça é a melhor solução, por vezes, é melhor o diálogo e a concertação entre as partes.

publicado por Nuno Santos às 09:34

Fevereiro 07 2017

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Alguns dos meus amigos residentes em Chaves, queixam-se do centralismo de Lisboa e Porto, dizendo-me que em matéria de cultura, ali não se passa nada. Ora isso parece-me ser apenas uma meia verdade, cabendo a outra meia verdade, à deficiente organização dos programadores locais, tanto na divulgação dos eventos, como na escolha das datas.

O fim-de-semana passado estivemos em Chaves, onde assistimos a esse exemplo paradigmático. À falta de Pavilhão Multiusos na cidade, decorria no Pavilhão Desportivo a Feira dos Sabores, um evento já por si catalisador de muito público, com expetativas de receber cerca de quarenta e cinco mil pessoas, porquanto este evento fora promovido pela RTP, tendo inclusivé a transmissão em direto, no programa “Aqui Portugal”.

Por coincidência do calendário, o Desportivo de Chaves agora no escalão maior, também jogou em casa nesta jornada, recebendo no sábado à tarde o Boavista, um clube que costuma trazer alguma massa adepta. Ora, estes dois eventos só por si, eram suficientes para dinamizarem muito público. Mas no âmbito cultural a cidade oferece ainda, o Museu da Cidade o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, o Museu de Arte Sacra, o qual creio que muitos flavienses nem sequer conhecem, e ainda a programação de fim-de-semana, do Casino.

Nós visitamos a feira na sexta-feira à tarde, coincidindo ocasionalmente com a abertura, porém, devido a umas encomendas inesperadas, tivemos de lá voltar no domingo de manhã. Sendo ainda muito cedo, pensava eu que seria fácil estacionar no parque do mercado, contudo quando lá cheguamos, deparei-me com o parque ocupado com uma concentração de veículos de todo o terreno, composto de motas de motocross, moto 4 e jipes.

Ora quando neste local já decorria um evento, como a Feira dos Sabores, porque sobrepor um outro na mesma data e no mesmo local? Lá diz o ditado “Não há fome que não dê em fartura” ou “dias de muito é vésperas de nada” ou ainda “Do 8 ao 80”.

 

publicado por Nuno Santos às 10:45

Fevereiro 06 2017

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Se em Outeiro Seco houvesse um prémio que distinguisse o outeiro secano mais empreendedor, esse prémio teria de ser para o Gonçalo Félix, um jovem que, com pouco mais de trinta anos, administra vários projetos que vão dos serviços, à agricultura.

Com um escritório como agente da Liberty Seguros, é gerente de uma tipografia e com a ajuda do pai gere ainda o café, a Taverna. Mais recentemente o Gonçalo dedicou-se à agricultura, iniciando uma exploração de frutos vermelhos, no lugar da Portela, conforme se mostra na imagem.

Apesar dessa atividade profissional o Gonçalo é um pai presente da Beatriz, e joga futebol federado no Vidago F.C,, clube que disputa o Campeonato Regional da A. F. de Vila Real, ocupando atualmente o terceiro lugar da classificação geral.

Ora, numa região cada vez mais desertificada, porque a maioria dos seus jovens mais qualificados, procuram melhorar a sua vida noutros locais (mea culpa), o Gonçalo é um exemplo a seguir, demonstrando que na sua terra, também há janelas de oportunidades.

O Gonçalo fez anos a semana passada, de modo que os meus parabéns são pelo seu aniversário, mas também, pela sua dinâmica de vida, esperando que ele seja um exemplo para os seus conterrâneos, sobretudo os da sua idade.  

publicado por Nuno Santos às 18:23

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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