Se há coisa que me fascina em Outeiro Seco para lá das pessoas, é sem dúvida o nosso rio pequeno. Além da beleza que acrescenta à aldeia, o rio, apesar dos serviços cartográficos o designarem por Ribeira da Torre, será para nós outeiro secanos, sempre o nosso rio pequeno.
Graças à sua excelente localização, dividindo literalmente a aldeia em dois, tal como o equador o faz em relação à Terra, é a razão pela qual o rio não seja reivindicado pelo Eiró nem pelo Pontão, mas um património de todos os outeiro secanos.
Só que neste ano o rio ainda não é de ninguém, porque apesar de estarmos no fim de dezembro, paradoxalmente o “vaidoso” como lhe chamamos, porque aparece sempre num domingo, mostrando-se quando as pessoas vão para a missa, ainda não apareceu, nem tão pouco há expetativas de quando irá aparecer, não havendo memórias de uma aparição tão tardia.
É verdade que vivemos em ano de seca e em alguns locais do país de seca extrema, mas não existe na aldeia ninguém que se lembre, do rio não correr debaixo das pontes, entre os Santos e o Natal.
Quando da minha última estada aí pelo natal, foi estranho não ver correr o rio. Bem sei que já não tem a importância socioeconómica de outros tempos, quando as mulheres lavavam no rio a roupa, as leiteiras os cântaros onde transportavam o leite para a cidade, agora até os proprietários das hortas contíguas e ribeirinhas, já não regam do rio, não se vendo por isso os baldões nem os garabanos, utilizados para tirarem a água do rio, porque o custo de produção desses produtos hortícolas saem mais caros, do que comprá-los no dia de mercado ou nos supermercados.
Durante anos houve em minha casa alguma discussão entre mim e o meu filho, porque sendo ele estudante de engenharia ambiental, dizia que num futuro breve, iriamos colher os malefícios daquilo que estávamos a fazer ao nosso planeta, contribuindo para o seu aquecimento, porquanto isso iria-se refletir em secas e desregulações climáticas.
Confesso que demonstrei sempre o meu ceticismo sobre esse tema, porém, hoje tenho de fazer mea culpa, reconhecendo que isso aconteceu mais rápido do que eu imaginava.
Agora a nossa discussão terá de ser outra, nomeadamente, fazermos planeamentos para o armazenamento da água, para quando for preciso. Por exemplo o nosso rio pequeno, numa boa parte do ano a sua água perde-se no Tâmega.
Ora é tempo de os responsáveis autárquicos e outros interessados, começarem a pensar numa melhor forma da melhor utilização dessa água, construindo por exemplo uma barragem na Serragem ou no Cotete, assim além de condicionarem o seu caudal ao longo do ano, poderiam ainda fazer um aproveitamento para produção elétrica à semelhança do que se faz noutras paragens eu próprio já as vi por exemplo na Noruega, com grandes poupanças para as populações locais.
Aproveito para desejar a todos os outeiro secanos espalhados pela diáspora, um Bom Ano cheio de saúde e prosperidades.