Foto de Humberto Ferreira
Recentemente o nosso conterrâneo Isac Dias, um estudioso da história de Outeiro Seco que, durante algum tempo preferiu usar o pseudónimo de João Jacinto, publicou na sua página do facebook, https://www.facebook.com/isaac.dias.1232 uma certidão exarada no ano de 1943, onde a Fábrica da Igreja de Outeiro Seco, à época presidida pelo Sr. Padre Albano Dias, registou em nome da referida Fábrica da Igreja, três imóveis, dois urbanos e um rústico.
Os dois imóveis urbanos são a capela da Sant’Ana e metade da antiga Confraria de São Miguel, agora Casa Paroquial que, na década de setenta foi usada como a primeira sede da Casa do Povo.
O prédio rural situava-se no lugar do Socalco. Este prédio foi anos mais tarde permutado por outra Comissão da Fábrica da Igreja, da qual faziam parte Eurico Rodrigues Afonso e João Alferes, com Manuel Abade, dono de uma parcela na senhora da Azinheira, para a construção do atual recinto da festa, porquanto, antes o recinto da festa confinava-se ao adro da igreja e à estrada.
De salientar que, o Sr. Padre João Pereira do Rio doou também uma parcela de terreno neste local, e foi a junção das duas parcelas, que, resultou no atual recinto.
A revelação desta certidão ou escritura vem repor duas verdades. A primeira é a de que a capela da Sant’Ana pertence à Fábrica da Igreja e não à família Montalvão, conforme eles julgavam.
Para que conste, um dia eu e o Eng. Altino Rio, na época presidente da Junta da Freguesia, reunimos em Lisboa com o Arquiteto José Montalvão, proprietário do terreno da Santana, para que no-lo vendesse.
Ele disse-nos taxativamente que, poderia um dia vender tudo, menos o terreno da capela, partindo da premissa que a capela era dele. Não vendeu, mas cedeu-nos o uso do terreno para eventos, tendo-se realizado ali, entre outros eventos, duas Feiras de Gastronomia.
A reposição da segunda verdade prende-se com a recente reivindicação de terrenos limítrofes à capela, os quais eu sinceramente não entendo bem porquê, fazendo fé nas minhas fontes de memória, como é o caso da minha mãe.
Dizia ela que o José António Durão era o proprietário de dois terrenos na Santana, os quais eram trabalhados pela sua prima Maria Moreiras. Os mais velhos lembram-se ainda da relação da minha mãe com a Maria Moreiras, com quem dormiu até à última noite de solteira.
A Maria Moreiras deixou de trabalhá-los, quando o Sr. Firmino do Rio os adquiriu ao Durão. No que fica junto à estrada construiu a casa e quinta, o outro continuou afeto à agricultura, mas a uso próprio.
Para ter acesso direto ao segundo terreno, o Sr. Firmino do Rio fez um acordo com a Junta de Freguesia, cedendo ele uma fatia do terreno da quinta, razão pela qual o coreto norte não entesta agora no muro. Em contrapartida, a Junta de Freguesia deixava-lhe abrir um portão para o recinto da festa, fazendo por ali a serventia para o segundo terreno.
Anos mais tarde o seu filho e único herdeiro Euclides Rio vendeu o segundo terreno ao Sr. Moisés (Azeiteiro) que, se viu impedido de utilizar a passagem pelo recinto até a estrada.
Desgostoso com a situação, o Sr. Moisés vendeu o terreno ao Sr. Borges (Pasteleiro) o qual em parceria com Francisco Félix, compraram às irmãs Sevivas uma parcela do terreno agora do Domingos, fazendo por ali a passagem.
Ora, se o segundo terreno do Durão é o atual dos herdeiros do Sr. Borges, como é que o Sr. Euclides Rio, ainda tinha terreno sobrante para vender? Só se o Sr. Euclides Rio se apropriou do terreno público, onde está o marco geodésico, ou militar, e o depósito da água, pois como é sabido, os marcos eram sempre construídos em terrenos públicos ou baldios.
Essa é uma guerra na qual não me meto, porquanto a freguesia tem orgãos próprios para a defender. Quanto à capela da Sant’Ana, essa é do povo, estando inclusive na origem da nossa existência como aldeia. Primeiro como povoação celta e depois como cristã.
Nuno Santos