Não muito longe vai o tempo em que, o termo da freguesia de Outeiro Seco terminava nos arrabaldes da cidade. Numa das últimas reformas administrativas a nossa freguesia foi amputada do lugar de Santa Cruz, que, desde sempre pertenceu a Outeiro Seco, para dar lugar à nova freguesia Santa Cruz – Trindade e mais recentemente, sem grande sentido digo eu, lhe tenham agregado ainda, a aldeia de Sanjurge.
Porém a nossa freguesia resistiu à última reforma, mantendo-se administrativamente independente, fazendo lembrar a irredutível aldeia de Asterix.
É certo que, Outeiro Seco tem perdido pujança, sobretudo, a nível social e cultural, fruto da saída de muitos jovens que, por falta de saídas profissionais, são obrigados a refazer as suas vidas noutros centros mais populacionais no país e no estrangeiro.
Alguns, ainda vão mantendo a ligação à terra, sobretudo na altura das festas, mas cada vez menos, porquanto, as nossas festas são em setembro, e em datas fixas, a 8 e 29 quando já se tem retomado a atividade profissional e o novo ano escolar.
Mas a falta de socialização não se faz só pela falta de massa crítica. Ultimamente tem-se perdido também o sentimento de comunidade e de bairrismo, talvez pela falta de um elemento aglutinador, como foi em tempos a Casa de Cultura.
E é pena, porque Outeiro Seco tem um espólio cultural único no concelho, tanto a nível do seu património material como imaterial. Além das suas igrejas e capelas, existe cerca de uma dezena de publicações, onde está registada a vida social da aldeia, havendo ainda muita matéria para publicar, assim haja vontade na partilha dessa informação.
Ultimamente e apesar da pandemia do Corona Vírus que, tem travado o desenvolvimento e o progresso, a nível nacional e global, em Outeiro, estão a surgir novos projetos que, parece estarem a ir contra a corrente, senão vejamos.
A Escola Superior de Enfermagem do Alto Tâmega, cuja gestão era um problema para as autarquias do Alto Tâmega, passou a ter como parceiro a Cruz Vermelha, a qual veio dinamizar este estabelecimento, prevendo-se que venha a ter já neste ano escolar, cerca de 400 alunos em vários cursos.
Mesmo ao lado, o velho solar dos Montalvões, que, tantas paixões contraditórias tem gerado nos últimos tempos, e que no passado serviu de berço a tantas gerações ilustres do concelho, algumas dirigiram mesmo os destinos do concelho como presidentes da câmara, tais como:
João Ferreira Montalvão 1806-1861 ou António Dume Ferreira Montalvão 1804- 1851, este o pai de Eugénia de Jesus Morais Campilho Montalvão, conhecida como a “Justa” e venerada em Vidago como santa.
Recentemente foi editado em Vidago um livro com a biografia de Eugénia Campilho “ A Justa” na comemoração do I centenário da sua morte.
Sem querer entrar em polémica com os amigos vidaguenses, eu tenho para mim que, Eugénia de Jesus Morais Campilho Montalvão, tal como as suas irmãs Ana Cândida e Eugénia Cândida falecida precocemente e de quem “A Justa” lhe herdou o nome, terá também nascido em Outeiro Seco. Contudo por razões sociais e familiares os pais terão ido batizá-la à igreja de Arcossó, conforme consta nos registos paroquiais da época, porquanto os registos civis só foram criados após a implantação da República em 1911.
Assim, estaríamos numa situação semelhante à do Santo António, que, tendo nascido em Lisboa, viveu e morreu em Pádua. Sendo por isso, um santo lisboeta para Lisboa e paduano para os de Pádua.
Veio isto a propósito para dizer que, o nome do solar vai extinguir-se, passando a chamar-se Santa Rita Wellness & SPA Institute, 4 estrelas.
O seu promotor já tem o o alvará para a construção, e o painel com o valor da obra e o nome da empresa construtora afixado. A conclusão do hotel está prevista para finais de 2023 esperando-se que, venha a criar alguns postos de trabalho na freguesia, e que traga muitos turistas a Outeiro Seco e à região.
Há também grandes expetativas no Parque Empresarial, sendo visível uma enorme terraplanagem. Diz-se que será para a instalação de uma fábrica de componentes automóveis, a qual irá gerar cerca de 500 empregos diretos.
Outra informação que nos encheu de orgulho foi da nova requalificação da Igreja da Senhora da Azinheira. Como é sabido, a igreja é um edifício classificado e por isso, a sua manutenção está sob a alçada da Direção do Património Nacional.
Desta vez, parece que a requalificação não será apenas uma operação de cosmética a nível da cobertura, passando pela requalificação dos frescos. A obra será financiada pela multinacional espanhola Iberdrola, inserida nas contrapartidas financeiras pela construção das barragens no rio Tâmega.
Atualmente são vários os moradores que, não sendo naturais de Outeiro Seco, têm escolhido a nossa aldeia para viver, contrariando deste modo a tendência do despovoamento, que vem assolando o nosso interior.
Infelizmente nem todos se têm integrado na vida social da aldeia, mas Outeiro Seco, tem sido ao longo dos tempos uma terra de acolhimento, por isso, espero que os locais acolham bem os novos moradores e que Outeiro Seco, fazendo juz ao lema Tradição e Modernidade, continue a ser um ótimo local para viver e conhecer.