São muito antigos os registos da existência da festa da nossa senhora da Azinheira. De forma escrita, remontam às Memórias Paroquiais datadas de 1758, quando, após o terramoto de 1755, o Marquês de Pombal mandou fazer por todas as paróquias do país, uma espécie de inventário, para se saber o que tinha sobrado em cada uma delas, após tão grande catástrofe nacional.
Foi coordenador desse projeto o Padre Luís Cardoso, e embora o levantamento fosse iniciado em 1758, só viria a ser terminado em 1832, após a sua morte. Nessas memórias escreveu-se entre outras coisas, que em Outeiro Seco, celebrava-se no dia 8 de setembro uma romaria, em honra da senhora da Azinheira, à qual acorria muita gente de outras localidades.
Essa tradição tem continuado ao longo dos séculos, mas ao que parece, está em vias de ser quebrada este ano, porque apesar de já faltarem menos de dois meses, para a data da festa, os mordomos nomeados, ainda não assumiram a sua organização.
O maior paradoxo é o de que a comissão nomeada para organizar a festa deste ano, pertence ao bairro da senhora da Azinheira, donde o velho ditado de que “santos da casa não fazem milagres” parece ter todo o cabimento.
Esta situação já não é virgem, pois já houve outros anos, em que as comissões nomeadas, também não assumiram a organização, porém à última hora, apareceram sempre voluntários, para organizarem a festa.
Só que nos últimos vinte anos, inflacionou-se em demasia o orçamento da festa, e para manter essa bitola, a comissão terá de trabalhar durante três a quatro meses, a não ser que se desça o seu orçamento, e como diz o ditado “conforme se toca, assim se dança”.
Claro que a nossa festa, é um factor agregador da aldeia, muitos dos seus naturais não residentes, aproveitam essa data para regressarem à terra, para rever a família e os amigos e agradecer à senhora da Azinheira, as graças concedidas.
Embora seja também um não residente, para mim vai ser muito estranho, a não realização da festa. Talvez porque tenha herdado as géneses do meu avô Eurico, ele que foi o principal responsável, por a festa nunca ter sido enterrada.
Embora nesse tempo, se vivessem tempos difíceis, pois havia fome e houve inclusive um racionamento alimentar. Mas paradoxalmente foi nesse período, que, se fizeram festas mais rijas. Foi o tempo dos Despiques entre os bairros do Eiró e do Pontão, e no ano de 1942, quando se quis mudar a festa, do dia 8 para o domingo mais próximo, realizaram-se duas festas, uma no domingo e outra no dia 8, a favor da tradição.
Ora é a favor dessa tradição que lanço aqui o apelo, a todos os outeiro secanos. Por favor façam a festa, caso contrário em Outeiro Seco, corre-se o risco de acontecer o que já acontece em terras vizinhas, como em Faiões, e depois vai ser difícil, retomar essa tradição.