A maioria das nossas cidades têm um monumento, em memória dos combatentes da Grande Guerra. O de Chaves está situado numa rotunda bem próximo do cemitério, onde também existe um talhão dos combatentes. Esta rotunda é uma das artérias mais emblemáticas da cidade e está na justa proporcionalidade para Chaves, como a rotunda do Marquês de Pombal para a cidade de Lisboa, ou a Rotunda da Boavista para a cidade do Porto.
Tal similitude não se verifica apenas no trânsito que por aqui circula, mas também porque é aqui, onde se celebram os êxitos desportivos, como aconteceu no verão passado, primeiro comemorando-se a subida do Desportivo de Chaves à 1ª Liga, depois, a conquista do título Europeu pela nossa selecção, um feito que contagiou o país de norte a sul.
Ora, porque esta rotunda é um local de passagem não só de viaturas, mas também de muitos transeuntes, agora às quartas-feiras e aos sábados de manhã, este local ganhou uma nova atração, dada por um grupo de músicos amadores, todos com idade sénior. Estes músicos movidos apenas pela paixão da música, encontram-se bissemanalmente na arcada do Edifício Nova Iorque, no lado poente da rotunda,provavelmente à falta de outro local para ensaio.
Assim e sem qualquer maestro ou regente, o grupo que inicialmente se compunha de dois acordeões e um bombo, tem vindo a crescer, sendo já quase uma dezena elementos com novos instrumentos, entre os quais; um clarinete, ferrinhos, pandeiretas e outros instrumentos e para ser uma tuna, já só falta um vocalista.
Quem ali passa acha graça à iniciativa parando por instantes, ouvindo a improvisada orquestra. Quem não acha tanta graça, são os profissionais que trabalham no edifício, onde funcionam vários escritórios de serviços, desde consultórios médicos e advogados, havendo já a circular um abaixo-assinado, a fim de por cobro a estes concertos bissemanais. Não sei se é uma das signatárias, mas a D. Celestinha do Quiosque, face ao reduzido reportório do grupo, costuma dizer-me.
– Já viu Isto! É vira o disco e toca o mesmo.
Indiferente ao som ambiente o monumento lá está, vetusto e imponente, em homenagem aos ex-combatentes que, sem saberem qual o propósito, foram combater para terras de França, onde anos mais tarde outros portugueses, seus filhos e netos haveriam de ir, mas para ganhar o pão e a sua subsistência.