Ontem a democracia funcionou mais uma vez, com o povo a ir às urnas, escolhendo livremente aquele que, no seu entender, melhor desempenhará o cargo de presidente, ou seja, o mais alto cargo da nação. E face à nossa organização política, não se pense o cargo de presidente da república é um cargo inócuo, pois o nosso presidente, é o comandante chefe das Forças Armadas, cabendo-lhe nomear e demitir o governo e vetar as leis.
Apesar disso, mais de metade dos eleitores inscritos, 51,3% abstiveram-se, embora o fenómeno da abstenção, não possa ser visto de uma forma ligeira. Primeiro, porque dos cadernos eleitorais, não estão expurgados os falecidos recentemente, nem os que deixaram o país, à procura de um futuro melhor, continuando como eleitores inscritos no nosso país.
Eu sei do que falo, porque o meu filho, está fora há nove anos, mas continua recenseado em Portugal. Segundo ele, porque o processo para se recensear no país de acolhimento, não é fácil. Desde logo, para se recensear, terá de se deslocar presencialmente ao consulado, o qual está situado fora da sua área da residência, assim como a faltar ao trabalho.
Paradoxalmente nas penúltimas eleições, até foi convocado para fazer parte de uma mesa de voto, na freguesia onde continua recenseado.
Os resultados de ontem deixam-nos várias reflexões, a primeira é a de que para se ser presidente da república, não basta ser uma pessoa íntegra, culta e com um passado incólume. Antes de mais é preciso ter cartão do partido e fazer parte da sua área de influência. Depois é necessário ter notoriedade na televisão, ainda que essa notoriedade seja por ter opinião, sobre tudo e sobre nada, apoiando hoje uma causa, ainda que a critique no dia seguinte.
Este fenómeno não é apenas nacional, já aconteceu noutros países inclusive nos Estados Unidos da América, onde se elegeu como presidente, um mediano ator de cinema, Ronald Reagan. Em Itália foi o senhor televisão, Sílvio Berlusconi, e no Brasil o palhaço Tiririca teve mais de um milhão de votos, só no estado de São Paulo, ainda que o fenómeno do Tiririca se assemelhe mais ao resultado de Vitorino Silva (Tino de Rãs) ou seja um voto contra o sistema.
Como habitualmente, não votei no candidato ganhador, contudo, mas espero que aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa disse, no seu discurso de vitória, o de que iria ser um presidente imparcial, o seja de facto, ao contrário do presidente anterior que, em muitas situações da vida política portuguesa, não foi imparcial, prejudicando com isso o país.