Há memórias que ficam e a minha mãe, pese embora os seus oitenta e cinco anos feitos no passado dia 1 de agosto, preserva ainda em boa forma a sua, sendo atualmente uma das poucas fontes de memória da aldeia.
Tardiamente valorizei a riqueza dessa audioteca em suporte de voz, ainda que nem sempre disponível, porquanto, separam-nos quase quinhentos quilómetros de distância.
Nesta minha curta estada em Chaves entre os Santos e o São Martinho, recolhi esta canção que ela apreendeu, enquanto aluna da D. Maria Eugénia. Chama-se o Carvalho Esburacado e veio à colação por causa desta época do ano em que as folhas das árvores caem e nos dão extraordinários coloridos.
Assim e para memória futura aqui fica a letra do Carvalho Esburacado, se quiserem conhecer a melodia terão de lhe pedir a ela ou puxar pela memória das vossas mães octogenárias.
Caem folhas uma a uma
Na relva verde do prado
São folhas dos castanheiros
Do choupo e dos sobreiros
Do carvalho esburacado
As folhas amarelinhas
Vão caindo, vão caindo
Parece o choro das plantas
Martirizadas e santas
Pelo sol que vai fugindo
A planta fica despida
Fica triste, fica nua
Assemelha-se a um pobrinho
Sem amparo, sem carinho
Como estes que andam na rua
Pobre planta sem folhinhas
A tremer, a tiritar,
É como um bebé sem lar
Para aquecer as mãozinhas
Mas o inverno vai passando
A passos tristes e graves
O sol traz flores e calor
E o alegre trinado das aves.