Outeiro Secano em Lisboa

Janeiro 28 2016

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Aurora das Dores Afonso e Emília das Dores Afonso

Para a Géninha,

 

Quando da evocação das 100.000 visitas deste blogue, recebi um comentário  o qual muito me sensibilizou. Foi o comentário da Géninha, ainda que o seu nome seja Eugénia Bernardo Afonso.

Disse a Géninha que é seguidora deste blogue, no Rio de Janeiro, ora, em jeito de agradecimento, deixo-lhe uma pequena passagem de um livro que escrevi, sobre a minha família, que também tem ramificações com a família dela. Trata-se de um capítulo sobre a sua bisavó, Maria das Dores do Penedo, mais conhecida na aldeia por Maria Abade, a qual protagonizou o primeiro caso de divórcio na aldeia, ainda no século XIX.  

“Quanto às circunstâncias do divórcio de Maria “Abade”, irmã do nosso bisavô, esta foi casada com Domingos Afonso, natural de Vila Meã da Raia. Após o casamento, o Domingos alistou-se na guarda-fiscal, tendo sido colocado em Mairos, onde havia um posto fronteiriço, fazendo-se acompanhar pela mulher.

Em Mairos viveram o período da lua de mel, em perfeita harmonia, embora com os problemas inerentes a todos os casais, pois como se costuma dizer “casa que não e ralhada, não é governada”.

Algum tempo depois o Domingos recebeu ordem de transferência para o posto de Vilarinho da Raia, uma transferência acolhida com satisfação, porque era como que, um regresso a casa.

O casal decidiu fixar residência em Outeiro Seco na casa da família, no Bairro do Penedo, e o Domingos, ia e vinha ao posto de Vilarinho da Raia, consoante a escala de serviço. Mas como o Domingos era natural de Vila Meã, paredes meias com Vilarinho da Raia, talvez porque em solteiro deixasse algum caso amoroso mal resolvido, o certo é que passado pouco tempo, o Domingos arranjou uma amante em Vila Meã.

Ora quando Maria Abade teve conhecimento, da infidelidade do marido, não lhe deu qualquer possibilidade de reconciliação, pondo de imediato cobro, ao casamento.

De nada valeram as muitas tentativas, diretas ou por interpostas pessoas, para que Maria esquecesse o incidente e reatassem a relação, pois a Maria manteve-se inflexível, jamais perdoando a traição do marido.

Embora acabado o casamento, não acabou a relação pessoal e quando o Domingos passava pela aldeia, a caminho da vila, nunca deixava de visitar os filhos, antes destes emigrarem para o Brasil. O casamento é que nunca mais se reatou, ficando conhecido como o primeiro divórcio oficial na aldeia.

Uma curiosidade dessa família, prendia-se com o nome da filha mais velha do casal, cujo nome era Senhorinha. Não sendo vulgar este nome na nossa aldeia, ele é comum na região do Barroso, estando associado a uma lenda, mais concretamente à lenda da ponte da Misarela.

Esta ponte fica no rio Rabagão, ligando as freguesia de Ruivães do concelho de Vieira do Minho, à freguesia de Ferral, pertencente ao concelho de Montalegre.

Entre outras versões e lendas sobre esta ponte, conta-se que, para as crianças não morrerem na altura do parto, coisa muito frequente na época, a futura mãe munida de uma corda e um balde, teria de ir à meia-noite a esta ponte, acompanhada por duas pessoas.

Cada um dos acompanhantes colocava-se numa das extremidades da ponte, e a mãe ao centro. Os acompanhantes teriam de evitar a passagem de qualquer animal, com predominância dos ratos, até que aparecesse a primeira pessoa.

Quando aparecia essa pessoa, a futura mãe dava a corda e o balde ao viajante, que, retirava água do rio e aspergindo a barriga da grávida, dizia:

 

Eu te baptizo

em nome do Pai,

do Filho,

e do Espírito Santo.

 

 

Se fores rapaz,

teu nome será Gervás;

e se fores rapariga,

teu nome será Senhorinha

   

Não consta que Maria Abade tivesse ido à ponte da Misarela, mas o certo é que o nome escolhido para a filha, não deixa de ser um nome invulgar na aldeia. 

Apesar da ida precoce para o Brasil dos irmãos “Abades”, a sua ligação com a família de cá, manteve-se durante largos anos, e em casa do avô Eurico, existiam várias fotografias com mensagens no verso, trocadas entre eles, como a que ilustra o post.

 

  

publicado por Nuno Santos às 09:35

Olá Nuno, Boa noite.
Hoje como sempre faço, depois de minhas tarefas, cá estou visitando seu blog. E que alegria, que emoção estava reservada para mim.
Eu sempre ouvia falar nos Abades, na Senhorinha, mas não sabia que eram tão próximas de mim, meu sangue.Fiquei orgulhosa da minha bisavó. Tinha que ser muito corajosa para ter uma atitude dessas naquela época.
E fiquei feliz também em saber que tenho ramificações com tua família.
Obrigada pelo carinho, obrigada pela atenção.Quanto à nossa aldeia e ao nosso bairro, não esqueço nunca , está no meu coração.
Chorei quando você postou uma foto do Rio Pequeno chegando à aldeia. Me emociono com as fotos das poldras. Enfim," Longe é um lugar que não existe". Em pensamentos estou todos os dias aí, relembrando cada cantinho de Outeiro Seco.
Beijinhos para você e Celeste.
Maria Eugénia Bernardo Afonso a 29 de Janeiro de 2016 às 01:36

géninha um beijo grande aqui de são paulo e nuno não sou só eu o saudoso como vez há muitos mais
essa terra tem magia
vasco sobreira garcia a 30 de Janeiro de 2016 às 18:38

Olá Vasco, tudo bem?
Abraços para você e sua família. Quando vier no Rio,apareça aqui para nos revermos.
Venha conhecer minha família.
Até breve.
Maria Eugénia Bernardo Afonso a 1 de Fevereiro de 2016 às 21:16

Nuno,gostaria de saber porque minha bisavó Maria das Dores era mais conhecida como Maria Abade.
Maria Eugénia Bernardo Afonso a 1 de Fevereiro de 2016 às 21:18

olá geninha muito obrigado pelo convite
daqui vai o mesmo vem conhecer são paulo e seria um prazer te receber
quanto ir ao rio
passei por aí com a minha família nos idos 90 e prometi não voltar aí e vai ser difícil
mas sózinho passei aí para ir na feira ou exposição de negócios do petróleo em macaé
como não havia voo direto eu peguei um avião para o santos dumont e como não preciso pagar táxi pois conheço bem isso aí peguei um onibus até à rodoviária novo rio foi por volta de 2007 eu acho e a certeza que para passeio não volto para trabalho até pode acontecer
mas vale esse blog que nos apróxima e isso e ´muito bom beijo pra todos
vasco sobreira garcia a 6 de Fevereiro de 2016 às 14:20

Quanta alegria ao ler isso!!!
Pode parecer loucura, porém minha bisavó é a Senhorinha das Dores Afonso, nascida nessa mesma época e que veio para o Brasil!! Sempre ouvi essa história na família!!
Estou montando a árvore genealógica da família e tudo confere!!!
Gostaria de manter contato e trocar mais informações!!!!
Tatiana a 21 de Junho de 2016 às 02:28

Em 08 de junho desse ano de 2016 ao abrir uma Bíblia deixada por minha mãe, recem falecida, achei uma foto que minha avó, Senhorinha das Dores, recebeu de suas irmãs. Nesse mesmo instante recebi uma mensagem de Tatiana (prima irmã) sugerindo que eu olhasse o site sobre Maria Abade. A foto que tinha em mãos é a mesma que foi colocada no site, a dedicatória no verso era para meu avô e avó . A historia que li no site é muito parecida com a que ouvi de minha avó e mãe. A época e local são coincidentes. Fico no aguardo de mais um pedaço de nossa história. Tatiana está fazendo um trabalho de arqueologia familiar. Vamos ver onde se chega....abraços
Carlos Barreira Martinez a 23 de Julho de 2016 às 18:23

Um outeiro secano residente em Lisboa, sempre atento às realidades da sua terra.
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